APENAS UM TREKKER


Os 35 anos do filme Star Trek IV: The Voyage Home – como o seu lançamento foi visto 
pela imprensa no Brasil



O ano de 2021 marca os 55 anos de Star Trek. A série foi ao ar pela primeira vez em 8 de setembro de 1966. Mas neste ano comemoramos também duas outra datas importantes de lançamento de filmes da franquia. "Star Trek IV: The Voyage Home", lançado em 1986, chega aos 35 anos; e "Star Trek: First Contact", de 1996, completa 25 anos de lançamento. Curiosamente, ambos retratam tripulações, de diferentes Enterprises, voltando ao passado da Terra. Voltaremos ao passado aqui também, lançando um olhar sobre como a imprensa brasileira retratou o lançamento destes dois filmes.

Desde que me tornei trekker, tenho por hábito colecionar recortes de revista e jornal com matérias sobre Jornada nas Estrelas. Com o advento da internet, e posteriormente das hemerotecas digitais, pesquisar e catalogar matérias sobre Star Trek publicadas na imprensa brasileira ficou ainda mais fácil. Na coluna de hoje abordarei como foi retratado aqui no Brasil o lançamento de "Star Trek IV: The Voyage Home".

"Jornada nas Estrelas IV: A volta para casa", dirigido por Leonard Nimoy, foi o filme comemorativo dos 20 anos de Star Trek. É um filme leve e divertido, apesar de abordar um tema bastante importante: a necessidade de preservação do meio-ambiente, chamando a atenção para a extinção das baleias devido à ação humana. A ecologia ganhara força na década de 80, e esse fato já garante um lugar especial para "The Voyage Home" no panteão dos grandes filmes de Jornada nas Estrelas, pois a película seguiu à risca os preceitos de Gene Roddenberry, que defendia a importância de Star Trek abordar temas contemporâneos e relevantes.

Em 11/09/1986 o jornal O Estado de São Paulo publicava nota intitulada "20 anos de Jornada" na qual noticiava sobre uma festa que a Paramount havia dado alguns dias antes para comemorar as duas décadas da franquia. O objetivo, além de comemorar, era homenagear o elenco. A festa aconteceu nos estúdios da Paramount, em meio às filmagens de “The Voyage Home”. Mas o ponto mais interessante desta notícia é que ela já informava sobre os planos do estúdio para “uma nova série com atores mais jovens". De fato, A Nova Geração foi lançada no ano seguinte, recriando a franquia. O jornal informava ainda que o próximo longa poderia ser dirigido por William Shatner. É verdade, "Star Trek V" viria a ser dirigido por Shatner e lançado três anos depois, em 1989. Pelo visto, as fontes do Estadão eram bastante precisas, com informações muito quentes.

Quase um ano depois, em 04/06/1987, o jornal O Globo informava, em crítica assinada por Ely Azeredo, sobre a estreia no Brasil de "Star Trek IV" naquele dia (sim, naquela época os filmes demoravam meses para estrear por aqui).

No texto intitulado “Enterprise de volta”, o jornalista afirmava que o filme seguia a tendência do cinema americano de contar histórias de viagem no tempo (em provável
referência a "De Volta Para o Futuro", de 1985) e que se diferenciava dos filmes anteriores por "trilhar os caminhos da comédia-aventura". Apesar destes aparentes dois “deslizes” do crítico - pois Star Trek sempre teve diversas histórias que envolviam viagens no tempo e sempre possuiu elementos cômicos -, o autor revela algum conhecimento sobre a franquia, ou ao menos ter entrevistado pessoas que conheciam o tema:

"Jornada nas Estrelas IV", segundo os estudiosos da trekmania está mais perto do espírito original estabelecido na televisão. E eles lembram que não é a primeira viagem no tempo empreendida pelos heróis da espaçonave Enterprise: em um dos episódios da tele-série, "The city on the edge of forever", eles foram à Nova York da década de 30.

Já em São Paulo o filme estreara um mês antes do que no Rio de Janeiro, segundo registra a matéria "Risos do espaço" publicada pela revista Veja em 06/05/1987. A crítica, assinada por Okky de Souza, é positiva, enxergando o componente cômico da película como algo que a tornava uma "produção original no gênero". No entanto, existem algumas imprecisões como o fato do autor chamar a Enterprise de "uma nave americana". Nesta crítica, da mesma forma que aquela publicada pelo Estadão, há o entendimento de que o filme tinha condições de atrair um público mais amplo, não ficando restrito aos trekkers, agradando igualmente os fãs dos filmes genéricos de ficção científica:

Os entusiastas dos filmes espaciais não se decepcionarão: há, no início e no fim de Jornada nas Estrelas IV, toda a parafernália de efeitos especiais computadorizados típicos do gênero.

No ano seguinte, em 29/03/1988, o Estadão noticiava em nota assinada por Cláudio Odri e intitulada “Diário de bordo, data estelar…” o lançamento em vídeo, pela CIC, de "Star Trek IV" e fazia algumas críticas, ponderando que. se esse não era o melhor filme da série, pelo menos era o de maior faturamento até então. Mais uma vez há a percepção de que este filme não se destinava somente aos iniciados em Star Trek:

Caso você não tenha assistido aos outros filmes da série, não se desespere. No começo dessa fita há uma introdução, suficiente para você não sentir falta de algum pedaço da epopeia sideral.

No entanto, a opinião geral é de que se trata de um bom filme:

Misturando humor, aventura e uma grande mensagem - embora um tanto quanto superficial - ecológica, é diversão garantida. Os saudosistas vão matar suas saudades, e aqueles que não tiveram o prazer ainda de conhecer a Jornada nas Estrelas não resistirão. Absurdos sim, mas nada de estupidez ou tolices.

Contudo, fica evidente a intenção do autor em alfinetar a produção, mesmo sem encontrar motivos para isso. Dizer que o filme possui uma “grande mensagem” e logo em seguida tachá-la de “superficial” soa bastante contraditório. O vício da crítica pela crítica.

Rapidamente, vimos alguns exemplos de como a imprensa brasileira retratou o lançamento de “Jornada nas Estrelas IV: A volta para casa” por estas bandas. Alguns pontos ficam claros: em primeiro lugar, salta aos olhos uma questão que é bastante atual e já era discutida à época: o quão “trek” o filme era ou não era, no sentido de agradar públicos maiores. Como segundo aspecto, temos a avaliação positiva do filme, devido sobretudo ao seu caráter cômico, que parece ter agradado os críticos brasileiros. Por fim, o momento glorioso pelo qual passava a franquia: filmes adorados pela crítica e pelo público, inspirando novos projetos que se concretizariam logo à frente.

Na próxima coluna, veremos como a imprensa retratou o lançamento do filme "Star Trek: First Contact" no Brasil.



Eduardo Pacheco Freitas é professor, historiador e autor de dois livros sobre o universo de Jornada nas Estrelas: Star Trek: utopia e crítica social (2019) e O'Brien deve sofrer! (2021)











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EDUARDO PACHECO FREITAS
e-mail : eduardo.freitas.001@acad.pucrs.br
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1 Comentários

  1. É um ótimo resgate da memória e lembranças de um grande clássico.

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