R.F. LUCCHETTI: O MESTRE
BRASILEIRO DOS PULPS parte 2
“A maior arte do século 20 foram, sem dúvida, as histórias em quadrinhos”.
- R. F. Lucchetti
Em 1966, Rubens Francisco Lucchetti muda-se com a família para a capital paulista, onde começa a trabalhar em uma loja de ferragens, assumindo o setor administrativo. Mas, seu objetivo não era passar a vida inteira nesse emprego. O interesse maior do autor, ao mudar-se para São Paulo, era realizar aquilo que mais queria: escrever histórias em quadrinhos e textos de ficção. Logo conhece os proprietários da Editora Prelúdio, especializada em publicações populares, mostrando-lhes alguns trabalhos produzidos em Ribeirão Preto. Esses gostaram e passaram a encomendaram textos para Lucchetti. Eram obras de quarenta a sessenta laudas. Nesses livros, Lucchetti iniciou a carreira de autor de ficção de bolso que o lavaria a escrever mais de mil livros. Foi na Editora Prelúdio que adotou a prática de assinar seus textos com diversos pseudônimos, por motivos comerciais, contra sua vontade.
Em São Paulo, retomou contato com Nico Rosso, onde passaram a formar uma parceria que durou até fevereiro de 1972, e que gerou cerca de 150 histórias em quadrinhos. Rosso gostava das histórias criadas pelo parceiro e se identificava muito com seu estilo narrativo. Em 1967 decidiram criar uma revista só da dupla: “A Cripta”. A revista tinha formato grande e uma novidade: histórias publicadas em meio-tom. A Cripta teve uma boa aceitação popular. Apesar disso, a publicação foi cancelada em seu quinto número, pois segundo Lucchetti: “Em seus cinco números, A Cripta apresentou inúmeros erros. Assim, só poderíamos deixá-la de lado ...” ( Mundo Gibi 3).
Em 1968 Lucchetti conheceu José Mojica Marins, o “Zé do Caixão”, e passou a escrever histórias para filmes como “O Estranho Mundo de Zé do Caixão". Logo em seguida passou a escrever roteiros para um programa semanal na TV Bandeirantes, que iria ao ar todas as sextas-feiras, à meia-noite: “Além, Muito Além do Além”. A cada programa o anfitrião Zé do Caixão recebia um convidado para contar uma história como se fosse um relato real. A partir daí, a história era dramatizada. Todas as histórias tinham elementos de terror e sobrenatural. O programa foi um sucesso do canal e despertou atenção da concorrência. Mojica, logo rompeu com a emissora e assinou contrato com a TV Tupi, onde estreou um programa nos mesmos moldes de “Além, Muito Além do Além”, agora rebatizado de “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”. Ao se transferir para a Tupi, o público diminuiu, pois na outra emissora o programa tinha um apelo mais popular e saiu do ar. A atitude impulsiva de Mojica acabou prejudicando o ator e também Lucchetti, que deixou de escrever os roteiros, que lhe proporcionava uma renda adicional. Os laços com Mojica ainda seriam mantidos e Lucchetti concluiu o roteiro do filme “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”. Esse trabalho deu início a uma parceria que rendeu 15 roteiros de longa – metragens, 58 scripts para a tevê, 6 gibis, 3
radionovelas, uma minissérie e um projeto de novela, nem todos produzidos.
Após deixarem de produzir A Cripta, Lucchetti pensou em criar uma nova revista de Terror, tendo como personagem Zé do Caixão. Depois de conversar com Nico Rosso e obter autorização de Mojica, Lucchetti desenvolveu o projeto e redigiu os dois primeiros roteiros da revista que foi batizada de “O Estranho Mundo Zé do Caixão”. No início de janeiro de 1969, a revista foi lançada pela Editora Prelúdio, com uma tiragem inicial de 20 mil exemplares, que se esgotaram em questão de dias. Foram impressas várias tiragens, totalizando 70 mil exemplares. O sucesso da revista da Prelúdio chamou a atenção de outras editoras. Quando o número três estava chegando às bancas, a Prelúdio recebeu uma carta informando que Mojica havia assinado um contrato com a empresa Dorkas. A relação entre Lucchetti e Mojica se tornaram difíceis. Na tentativa de tirar a Prelúdio do prejuízo, Lucchetti criou duas novas revistas: “O Homem do Sapato Branco no Terror do Mundo Cão” e “Histórias Que o Povo Conta”. A essa altura, as vendas da revista de Zé do Caixão na Dorkas, estavam ruins e prestes a ser cancelada. Mojica fez uma tentativa de trazê-la de volta para Prelúdio. Lucchetti foi consultado. De início, resistiu, recusando-se a voltar a trabalhar com alguém em quem não cofiava. Mesmo assim, o ficcionista cedeu e escreveu os roteiros para uma nova revista: “Zé do Caixão no Reino do Terror”, mas essa não repetiu o sucesso da primeira versão.
Lucchetti viveu o que ele considera um verdadeiro boom dos gibis nacionais na década de 1960 pelas pequenas e médias editoras de São Paulo. O Terror era um gênero que tinha muita aceitação no Brasil desde os anos de 1950. Diversas publicações como “Terror Negro”, “Gato Preto”, “Sobrenatural” alcançavam boas vendas e diversos profissionais viviam exclusivamente de escrever roteiros para quadrinhos. Segundo Lucchetti, ele escreveu, em média, dez roteiros por semana durante alguns anos. No auge de sua produção, Rosso e Lucchetti produziam cerca de 30 páginas de quadrinhos a cada sete dias. Lucchetti trabalhou para todas as editoras e praticamente com todos os desenhistas em atividade na época, porém nunca escondeu que preferia trabalhar com Rosso, com quem tinha uma sintonia perfeita.
Com a saturação e o esgotamento do filão dos gibis de Terror, Lucchetti passou a se dedicar a livros escritos por encomenda. Em 1972, já no Rio de Janeiro, foi convidado para o cargo de editor da Bruguera – depois Cedibra, a principal editora brasileira de livros de bolso dos mais variados gêneros: Romance, Western, Terror, Policial, Ficção Científica, entre outros. Além de material estrangeiro, a editora publicou textos de autores brasileiros. Lucchetti escreveu todos os volumes da coleção Trevo Negro, assinando com diversos pseudônimos.
Em 1977, José Mojica Marins apresentou a Lucchetti um rapaz que tinha filmado algumas cenas de Terror em Super 8. Esse jovem era Ivan Cardoso, que tinha pretensão em se tornar cineasta e que gostava do gênero.
Mas isso é história para o próximo capítulo. Até breve prezados leitores.
Paulo Kobielski é professor de História com especialização em Filosofia e Sociologia pela UFRGS. Trabalha com fanzines e quadrinhos na educação. Paulo prometeu que um dia ira vestir-se de Kit Carson e seu filho Pedro Kobielski de Tex Willer, torço para ver isso acontecer e vou gravar quando o Pedro olhar para o pai e dizer:'-Vamos velho camelo!"
Paulo conquistou o Troféu Ângelo Agostini de melhor fanzine no ano de 2020, confira matéria aqui:
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4 Comentários
Grande Mestre! Parabéns por trazer ele aqui no ColetiveArts!
ResponderExcluirLucchetti é grande.Valeu brother. Aquele abra
ExcluirDossiê Kobielski deixa o cabra sem roupas. Desnuda tudo.
ResponderExcluirFantástico.
Parabéns pela excelente matéria com um icone nacional .
Lucchetti deve ser reverenciado sempre. Produziu e produz muito aos 91 anos. Aquele abraço.
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