ARTE E CULTURA

 

CONTOS DO AMANHÃ


O Brasil está vivendo um momento muito especial na ficção científica, especialmente o Rio Grande do Sul, com duas obras significativas. Primeiro com A Nuvem Rosa, de Iuli Gerbase , e agora com Contos do Amanhã, de Pedro de Lima Marques

Contos do Amanhã foi escrito e dirigido por Pedro de Lima Marques e estreia em circuito comercial nas principais capitais brasileiras a partir do dia 9 de dezembro. Em 2165, o sequestro de Michele Medeiros (Daiane Oliveira) coloca a cidade-estado Porto 01, o último reduto humano, em guerra. Jeferson (Bruno Barcelos), um adolescente que vive em 1999, na véspera do bug do milênio, recebe misteriosos áudios do futuro. Com uma Internet muito lenta, ele precisará encontrar uma forma de salvar a humanidade.


Contos do Amanhã entra em cartaz na semana que tem como marco o dia 11 de dezembro, dia da Ficção Científica Brasileira, em homenagem ao nascimento do escritor Jeronymo Monteiro (1908-1970), considerado o pai da ficção científica nacional. Aventura adolescente recheada de efeitos visuais e referências aos anos 1990, "Contos do Amanhã", conta com um elenco de mais de 100 atores e figurantes - escolhidos em uma chamada pública que reuniu mais de 700 candidatos.

O filme é uma distopia em que passado e futuro colidem no filme que reconstitui 1999, com computadores 486 e internet discada, enquanto imagina o mundo do século XXII com naves e aparatos high-tech. "Tenho a intenção de propor um caminho narrativo e estético diferente - que viabilize novos universos", diz Pedro de Lima Marques, que estreia na direção de longas. Entre as referências citadas pelo cineasta estão os animes "Ghost in the Shell" e "Akira" e os filmes da série "Matrix".


Veículos e cenários virtuais foram criados pelo próprio diretor em sua empresa de efeitos visuais, a Forno FX. "Podemos criar mundos novos. Não é um monopólio do estrangeiro", acredita Pedro. “E pode ser da nossa forma, do nosso jeito”, conclui. O trabalho começou ainda em 2014, com filmagens em Porto Alegre, litoral e serra gaúcha. Toda a pós-produção foi feita no Brasil. Com baixo orçamento e muita criatividade, Pedro estima que mais de 500 planos do filme tiveram algum retoque digital.


O filme chega aos cinemas brasileiros depois de colecionar 27 seleções e 15 prêmios em festivais de cinema de gênero em 12 países, incluindo o Boston Sci-fi Film Festival, um dos mais importantes eventos da categoria. Já a curadoria do Other Worlds Film Festival (EUA), de onde o longa saiu com o prêmio de melhor direção de arte, o considerou como um "coming of age Matrix", com menos lutas e mais romance.



Por dentro de "Contos do Amanhã"


Em 2165, o sequestro de Michele Medeiros (Daiane Oliveira) coloca a cidade-estado Porto 01, o último reduto humano, em guerra. Para salvar a civilização será preciso contar com a ajuda de Jeferson (Bruno Barcelos), um adolescente que vive em 1999. Na véspera do bug do milênio, nos primórdios dos programas de compartilhamento de mp3 e com uma Internet muito lenta, Jeferson recebe áudios do futuro e precisará encontrar uma forma de salvar a humanidade. Além de visões do futuro, o protagonista tem que lidar com seus relacionamentos que não engrenam, as provas do colégio e as preocupações exageradas de sua mãe.


Nós do ColetiveArts tivemos a honra, assim como em A Nuvem Rosa, de assistir ao filme na pré estreia, e como "nerds" que somos, curtimos cada minuto. O filme traz as ruas de Porto Alegre/RS, o mar de Torres/RS, e nos enche de orgulho a cada tomada, a cada efeito especial. Saber que não devemos em nada àquilo que é feito no exterior, em termos de fantasia e ficção científica, e que resolvemos contar nossas histórias da nossa maneira, é motivo de grande orgulho gaúcho e brasileiro, e essas histórias, modéstia à parte, são muito bem contadas.

O local de quem curte ficção científica é no cinema, a partir do dia 09 de dezembro de 2021, assistindo Contos do Amanhã. Prestigiar o cinema gaúcho, o cinema brasileiro e a ficção científica nacional deve se tornar um importante hábito cultural no nosso dia a dia.



As mentes por trás de Contos do Amanhã

Contar histórias fantásticas para o mundo é o lema de Daniela Israel, que assina a produção: "O nosso desafio é construir um cinema brasileiro de ficção científica - um cinema acessível e que dialogue com o público e fãs do gênero", explica. A produtora executiva Luciana Druzina vê o lançamento nos cinemas como uma grande oportunidade para colocar em destaque o cinema sci-fi nacional: "Queremos sensibilizar o máximo de pessoas para divulgar e prestigiar a ficção científica feita aqui, principalmente nesta data tão especial para nós que é o dia da Ficção Científica Brasileira", reforça Luciana.

Contos do Amanhã é uma realização da Bactéria Filmes, com coprodução da Druzina Content, e associação com o estúdio de pós-produção Forno FX. A distribuição é da Europa Filmes, em colaboração com Araçá Filmes e Cavideo, com financiamento do Fumproarte da Secretaria Municipal de Cultura - Prefeitura de Porto Alegre/RS.

Daniela Israel é Mestra, pesquisadora CNPq e doutoranda em Processos e Manifestações Culturais na Universidade Feevale e graduação em Realização Audiovisual. Atua no setor audiovisual há mais de 15 anos. Sócia-fundadora da Forno FX e, desde 2012, sócia da Bactéria Filmes, assinando a produção executiva dos longas, documentários, séries e animações. Como diretora cinematográfica, trabalhou no documentário "Moda Orgânica" e nos filmes de animação "O Jardim da Rua 13" e "De Volta ao Jardim da Rua 13", além de ser uma das criadoras da plataforma filantrópica Força Gurias. Recebeu o prêmio de Melhor Produção Executiva no Festival de Cinema de Gramado (2019). Foi a primeira mulher a assumir a presidência do Sindicato da Indústria Audiovisual do RS (SIAVRS).


Luciana Druzina é apaixonada por narrativas divertidas e inovadoras. É CEO e fundadora da Druzina Content, trabalha há mais de 20 anos na produção audiovisual, em dezenas de produções, desde séries (as franquias animadas "Lupita" e "Universo Z"), filmes ("Loop", de Bruno Bini), documentários ("Game Girls", de Saskia Sá) até jogos eletrônicos ("Silo"). O que move a produtora não é apenas o crescimento por ele mesmo, mas sim a paixão em levar um conteúdo de qualidade, pensado e desenvolvido desde a sua essência para um público global. Membro da International Academy of Television Arts & Sciences e da comissão julgadora do International Emmy Awards, Luciana, possui atualmente produções exibidas no mundo inteiro, atuando principalmente como produtora, produtora executiva, showrunner, designer de jogos e co-criadora.


Bactéria Filmes  produz conteúdo original para todas as telas e todas as audiências. Criada em 2007 com a missão de gerar conteúdos fantásticos, atua qualificando talentos, buscando novas tecnologias e inovando nos processos. Programas semanais para TV, séries documentais, animações, curtas, telefilmes, longas e coproduções internacionais fazem parte do catálogo. A proposta da empresa é compartilhar histórias fantásticas para o mundo, como as obras documentais "Vida Fluxo" e "Teatro de Rua (r)Existe!?", a série animada "Jogos de Inventar" e agora, com "Contos do Amanhã", faz sua estreia no cinema.


A Druzina Content possui mais de 15 anos de experiência no mercado de inovação audiovisual e produção de conteúdo. Atualmente, a produtora tem presença em mais de 50 territórios no mundo, em canais e plataformas como Prime Video, Nickelodeon, Youku, Netflix, ZooMoo, GloboPlay e Canal Brasil. A empresa atua principalmente nas áreas de cinema, TV, IP's fortes, XR e games. O longa sci-fi "Loop", de Bruno Bini, as franquias animadas "Lupita" e "Universo Z" e o game "Silo" são alguns de seus títulos. Em reconhecimento aos seus resultados no mercado internacional, a ADVB/APEX concedeu à empresa, por dois anos consecutivos (2020 e 2021), o Prêmio Exportação, uma conquista inédita para o setor da economia criativa e para a indústria audiovisual brasileira.

Pedro de Lima Marques é formado em design, é diretor e produtor e sócio da Bactéria Filmes e Forno FX. Com mais de 15 anos de atuação na indústria audiovisual, já dirigiu e produziu inúmeros projetos para a TV como programas semanais, filmes publicitários e séries. É membro da Academia Brasileira de Cinema. Seu curta "Cubos" foi premiado no Festival do Minuto. Entre 2009 e 2011 dirigiu e produziu os 65 episódios do programa semanal "Galera de Atitude" (TVE-RS). Nos últimos anos, suas séries documentais "Vida Fluxo" e "Teatro de Rua (R)Existe" foram exibidas em diversos canais do Brasil. Em 2019, estreou como diretor de projetos de animação com o lançamento da série "Jogos de Inventar" e, em 2020, estreia na direção de longas com Contos do Amanhã.

O Arte e Cultura foi conversar com o diretor e roteirista de Contos do Amanhã, Pedro de Lima Marques. Já adianto que não tem como não gostar de alguém que traz como inspiração Akira (obra de mangá do autor Katsuhiro Otomo, que virou obra cinematográfica em um anime dirigido pelo próprio autor).

PEDRO DE LIMA MARQUES


JORGINHO:  O Rio Grande do Sul está vivendo um momento muito interessante na ficção científica, primeiro com A Nuvem Rosa de Iuli Gerbase e agora com Contos do Amanhã. Como foi para você escrever e dirigir o longa? Como você vê esse momento do cinema gaúcho?

PEDRO DE LIMA MARQUES: O  Contos do Amanhã começou a surgir de fato em 2004, quando os primeiros contos foram escritos e publicados num blog que eu mantinha na época, chamado Textos Invisíveis. A minha intenção era rodar cada conto como um curta e depois unir em um longa. O projeto foi amadurecendo e em 2013 conseguimos aprovar o financiamento do longa, depois de rodar um curta com base no universo da trama. Rodamos em 2014, 2015 e 2016. Por inúmeros motivos, tivemos que gravar de forma fragmentada. Em 2016 iniciamos a montagem e composição da trilha e em seguida a pós-produção. Todos os efeitos visuais foram feitos em aproximadamente dois anos e meio por uma equipe bem pequena. Éramos quatro na pós: Rafael Duarte colaborando com alguns planos em 3D, Bruna Badalotti na rotoscopia, Victoria Ketzer na assistência de pós e eu nas composições finais. Dirigir este filme foi o maior desafio da minha carreira até então: eu concentrei tudo o que eu sabia e todas as minhas forças pra realizar. Tive que aprender muitas coisas ao longo do processo também, afinal, apesar de já ter uma carreira relativamente longa com efeitos visuais, esse era o projeto com o maior número de planos para serem executados em uma única vez. Tivemos que criar alternativas para conseguir viabilizar.

Eu tenho a percepção de que os cineastas gaúchos estão cada vez mais abertos, atualmente, a se aventurarem no gênero fantástico. Acredito que depois dessas duas experiências, tanto o "Contos do Amanhã" como a "Nuvem Rosa" ajudarão a motivar os próximos realizadores a tirarem suas ideias da gaveta.


JORGINHO:  Quais as tuas maiores influências na ficção científica, tanto na literatura, como nos quadrinhos e no cinema?

PEDRO DE LIMA MARQUES: Minhas maiores influências estão diretamente ligadas aos filmes. "Matrix" (todos os filmes mas em especial o "Reloaded" e os "Animatrix"), "Ghost In The Shell", "Akira", "Cidade das Sombras""13º Andar", "Johnny Mnemonic", "Vanilla Sky", "O Exterminador do Futuro", "O Vingador do Futuro", "De Volta para o Futuro""Tron", e por aí vai. Tendo futuro, amanhã ou qualquer coisa parecida, eu vejo. Fora os dois "Batman" do Tim Burton, que me influenciaram muito no início, quando fazer cinema ainda era um sonho distante. Confesso que não sou um ávido leitor de ficção, leio mais sobre cinema e política atualmente, mas das obras de ficção científica, Philip K. Dick tem um lugar especial, principalmente a antologia de contos "Realidades Adaptadas". Outra influência grande, essa mais antiga, são os livros do Jostein Gaarder, com destaque para "O Dia do Curinga", meu favorito. Tá mais para o universo fantástico do que Sci-Fi especificamente, mas é o tipo de história que me atrai. Quadrinhos é algo relativamente novo pra mim, leio há menos de 10 anos,  mas com certeza "Akira" mudou minha vida.


JORGINHO:  Como você enxerga esse momento político social em que o Brasil está vivendo? Seria um bom roteiro para uma ficção?

PEDRO DE LIMA MARQUES: Estamos vivendo uma distopia completa e com todos os clichês possíveis, né? Não sei se daria um bom roteiro porque desconfio que ninguém iria "comprar" a história. É muito absurda. Mas acho que pode servir sim de inspiração para a criação de outros universos. Até mesmo utópicos, já que a distopia aqui é a regra e não a exceção.


JORGINHO:  Como foi trabalhar com o elenco de Contos do Amanhã?

PEDRO DE LIMA MARQUES: Foi um prazer e um grande desafio. Isso porque tínhamos muitos personagens em diferentes contextos e intenções. Não foi uma tarefa fácil. Mas fizemos um processo de seleção amplo, aberto e com etapas de seleção e depois de workshop. Depois da seleção, o elenco passou por uma preparação junto do cineasta Ulisses da Motta, que fez um trabalho incrível, principalmente com o elenco de 1999 que precisava de uma dinâmica intensa. Junto dele conseguimos chegar na intenção certa para cada personagem e cena. Um dos grandes desafios, acho que pra eles e pra mim, foi transitar de intensidades tão diferentes de uma diária para a outra. Em função do cronograma, tivemos que gravar cenas do terceiro ato logo em seguida das do primeiro e são momentos tão diferentes que parece outro filme. Acho que eles conseguiram realizar isso com muita dedicação e afinco.


JORGINHO:  Quais os próximos passos de Contos do Amanhã? Quais os teus projetos para 2022?

PEDRO DE LIMA MARQUES: Agora estamos lançando nos cinemas, depois de passar por 27 festivais no mundo todo e arrecadar 15 prêmios. Em seguida lançaremos nas outras plataformas. Estamos também nos trâmites do lançamento nos EUA, onde o filme ganhou um grande destaque na cena independente do gênero. Já lançamos na Rússia também, onde foi dublado em russo. Para 2022, pretendo estrear nos festivais meu primeiro longa documental chamado "A Possível Arte do Futuro", que está quase pronto. Também devo finalizar uma série em animação 2D chamada "Os Pequenos Crononautas", sobre jovens viajantes do tempo, com criação de Mariani Ferreira, Rodolfo Castilhos e Gautier Lee e produção de Daniela Israel, onde faço a direção geral. E inicio a pré - produção de mais uma série documental para a TV em que faço a direção. Isso tudo ainda no primeiro semestre. Para o segundo, iniciaremos a pré-produção do nosso primeiro longa-metragem em animação, com direção da Daniela Israel, onde faço a produção executiva. Paralelo a isso estou trabalhando no meu próximo longa de ficção-científica que ainda está sem nome. Esse é o resumo, porque temos diversos projetos na esteira para os próximos anos.


JORGINHO:  Deixe uma mensagem para o público leitor do Arte e Cultura

PEDRO DE LIMA MARQUES: Prestigiem os filmes brasileiros. Vejam, critiquem, comentem, mas se possível, assistam nas salas de cinema! Esse é um espaço que precisamos batalhar muito para conseguir e precisamos muito do apoio do público para que possamos repetir e ter cada vez mais obras audiovisuais do gênero na tela grande. É isso. Vá aos cinemas a partir do dia 9 de dezembro e assistam "Contos do Amanhã!"


TRAILER DE CONTOS DO AMANHÃ:


Contatos:

E-mail: contosdoamanha@bacteriafilmes.com 

"Prestigiem os filmes brasileiros. Vejam, critiquem, comentem, mas se possível, assistam nas salas de cinema! "
- Pedro de Lima Marques


Jorginho é Pedagogo, Filósofo, ilustrador com trabalhos publicados no Brasil e exterior, é agitador cultural, um dos membros fundadores do ColetiveArts, editor do site Coletive em Movimento, produtor do podcast Coletive Som - A Voz da Arte, já foi curador de exposições físicas e virtuais, organizou eventos geeks/nerds, é apaixonado por quadrinhos, literatura, rock n' rool e cinema.

Jorginho









03 ANOS DE COLETIVEARTS, NÃO ESPALHE FAKE NEWS, ESPALHE ARTE!

SIGA-NOS EM NOSSAS REDES SOCIAIS:


Sempre algo interessante
para contar!

Postar um comentário

0 Comentários