Décimo oitavo andar
Senti o vento batendo enquanto meu corpo caía.
Lembro do quanto estava sozinha, completamente isolada do mundo. Não suportava a convivência com mais ninguém. Cada um com sua certeza, impondo verdades falsas. No fundo, eles sabiam que nada era exatamente assim, como diziam. Eles não tentavam só me convencer, mas convenciam-se constantemente de que seja qual fosse a sua verdade, era a única que valia alguma coisa. Incapazes de compreender qualquer ponto de vista que fugisse a sua frágil convicção, escondiam-se na tenebrosa gruta da arrogância.
Tentei muitas coisas... Ninguém pode dizer que não tentei. Mas acabava observando falhas nas fórmulas tidas como perfeitas. Fui cada vez mais me fechando em mim e cada vez mais fcando sem sentido para os outros. As pessoas se sentem muito desconfortáveis com a falta de sentido (rs).
O vento era realmente muito agradável. Me ajudava a superar o medo da proximidade do solo que aumentava rapidamente. Desta vez, não haveria erro.
Fronteiras... Talvez fosse esse o problema. Cada um erguia sua fronteira. O limite era onde seu conceito de certo se erguia. Mas será que minha fronteira não teria acabado por ser eu mesma? De qualquer forma, não me importo. Era o único momento de conforto. Eu estava em meu útero, minha casa. Eu em mim mesma, sem me importar com mais nada. Será que era certo? Se o certo for a felicidade, então eu estava certa. Só não posso me esquecer que se o certo é certo, é também uma fronteira. O limite do qual não poderia passar. Estar limitado é certo? Não sei. Há muito tempo não sei mais de nada. Estava uma noite bonita. Apreciei bastante a escuridão celeste antes de pular da janela do meu quarto.
Bilhete? Não deixei. Não sentia vontade de falar nada com ninguém. Nem com Frederico. Quando conheci Frederico, foi lindo. Era o único que não se importava por eu não ser parecida com a garota da novela. Existem muitas garotas da novela por aí, mas eu nunca quis ser uma delas. Na verdade, nunca assisti novela. Logo ele, que parecia ser a única pessoa que compreendia o que eu dizia...
Nos últimos tempos, não gostava nem de beber água no mesmo copo. Quando namorávamos, ele me beijava com ardor. Agora, era no máximo um estalinho. Foda-se, Fred. Fique com sua puta de plantão e deixe-me seguir meu caminho. O que salvava, era aquele vento. Alguma lembrança boa eu tinha de levar daqui. Conversei com algumas pessoas que me falaram de coisas horríveis a que os suicidas eram submetidos depois da morte. Será que era isso mesmo? Será que isso não era só mais uma verdade que visava nos afunilar pela única opção de certo? Não importava. Só não queria continuar por aqui. Depois a gente vê como fica. Hipocrisia. A hipocrisia é forte aliada desses que fingem acreditar por inteiro uma verdade. Se eu conseguia ver as falhas, qualquer um poderia. Eles não queriam ver. Preferiam fingir. Uma boa camada de hipocrisia tinge qualquer bobagem com as cores da verdade.
Pronto! Agora está próximo. Não existe maneira de voltar. É só fechar os olhos e esperar pelo que vem. Se é que vem algo depois.
Texto: Fabio da Silva Barbosa
Arte: Silvia Canto
Fabio da Silva Barbosa Silvia Canto
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2 Comentários
O fim de um relacionamento é sempre complicado.
ResponderExcluirO fim de um relacionamento é sempre complicado.
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