DOSSIÊ KOBIELSKI

 

A ÚLTIMA MISSÃO DO HOMEM FORÇA


Um dos melhores fanzines que conheci foi o “Historieta”, editado pelo mestre Oscar Kern, de Porto Alegre. Kern, que teve carreira como desenhista da Editora Abril, na era de ouro dos personagens Disney no Brasil, era um homem sem muitas ambições, mesmo tendo um grande talento artístico, se voltou as publicações independentes de seu tempo com personagens como o “Homem-Justo”. Pois foi na terceira capa do Historieta nº 1 que fui apresentado ao personagem o “Homem Força”, criação de Altair Gelatti.

O Homem Força surgiu em 1967 nas páginas da revista “Albatroz”, de Caxias do Sul (RS), na qual Altair Gelatti era desenhista, roteirista, gerente, redator e diretor.

Segundo Gelatti, desenhista de traço realista e limpo, “o Homem Força era uma homenagem aos seus super-heróis de infância, em particular o Super-Homem.” Só que seu personagem era menos poderoso e mais humano, como o próprio Homem de Aço no início. O Homem Força era, na realidade, um rico industrial que foi agraciado por cientistas de Marte, em visita à Terra, com inteligência e força acima do normal.

A revista “Albatroz” foi cancelada na década de 70, alcançando a invejável marca de 46 números. Sua vida longa numa praça limitada como a Caxias do Sul da época é explicada pelo apoio publicitário das empresas locais.

Depois de muito tempo afastado dos gibis, o Homem Força retorna no ano de 2018, com a reedição de suas aventuras nas páginas do Gibi X, projeto do amigo e publicitário, designer gráfico e editor da página Vintage Comics, Rogério Casacurta, que está resgatando personagens importantes dos anos 60.


HOMENAGEM NO GIBIFEST ALVORADA


Era uma tarde de domingo. O Gibifest - evento de cultura pop de Alvorada, sempre homenageia nomes importantes do quadrinho nacional. Em sua quarta edição (2019), o grande homenageado pelo conjunto da sua obra era Altair Gelatti, criador – talvez, do “primeiro super-herói dos pampas rio-grandenses”, o Homem Força. Tudo combinado. Só aguardávamos o” Homem Força”, chegar e receber seu primeiro troféu como artista. Gelatti pegara seu carro super automático, e descera serpentiando as curvas da serra gaúcha, emergindo rumo a planície da região metropolitana de Porto Alegre. Nada demais para o artista. Telefonemas davam conta de que ele estava chegando. O tempo passava. E nada do nosso “herói” chegar. Por fim descobrimos, através do amigo Rogério Casacurta que o nosso homenageado havia se desviado muito da rota e retornara para sua base em Caxias do Sul. Essa talvez, tenha sido a última aventura de Altair Galatti, que nos deixou e partiu para outro mundo no dia 25 de outubro de 2020, em meio a pandemia de um vírus que abalou a humanidade e que está precisando do Homem Força, que sempre se preocupou em fazer o bem acima de tudo, sem usar da violência gratuita tão presente nesses dias onde a intolerância o obscurantismo imperam.



Em tempo:

No dia 30 de janeiro é celebrado por leitores de quadrinhos brasileiros o Dia do Quadrinho Nacional. A data marca a produção nacional de histórias em quadrinhos, seus autores e obras.

Em 1984, a Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas de São Paulo realizou uma pesquisa na Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro/RJ) e verificou que o Brasil era pioneiro na publicação dessa linguagem.

Foi descoberto, então, Ângelo Agostini, um italiano radicado no Brasil, que começou a publicar, em 1867, seus desenhos e charges no Cabrião, jornal de São Paulo. Em 1869, ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde fazia uma série no semanário Jornal Vida Fluminense.


Foi em 30 de janeiro daquele mesmo ano que Agostini começou a publicar o que se considera o primeiro quadrinho brasileiro: "As aventuras de Nhô-Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte”. Em forma de páginas duplas, a cada semana a história mostrava Nhô-Quim viajando de Minas Gerais para a corte do Rio de Janeiro.


Paulo Kobielski

Paulo Kobielski é professor de História com especialização em Filosofia e Sociologia pela UFRGS. Trabalha com fanzines  e quadrinhos na educação. 

Paulo conquistou  o Troféu Ângelo Agostini de melhor fanzine no ano de 2020, confira matéria aqui:

Também confiram o episódio do podcast  Coletive Som com Paulo Kobielski:


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5 Comentários

  1. Conheci o Homem Força pelo Gibi X, mesmo e numa Feira do Gibi de Porto Alegre. Altair foi um dos homenageados no meu vídeo-tributo "Réquiem HQ 2020", que saiu em 2 partes pra não fazer algo muito extenso

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    1. Oiii Anderson. Bacana. Pena que não pude conhecer Altair Gelatti pessoalmente. Valeu. Aquele abraço.

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  2. Saudade do Gibifest. Parabéns Paulo!

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