SILVIO RIBEIRO, UM ARTISTA
DO DESENHO
Acompanho a carreira do Silvio Ribeiro através das redes sociais já há muito tempo. Dono de um traço lindo, seus trabalhos são realmente impressionantes. Certa feita, nos cruzamos em um Mutação na Feira, evento organizado pelos professores Denilson Reis , Paulo Kobeilski e Adão de Lima Júnior na tradicional Feira do Livro de Porto Alegre/RS, neste mesmo evento conheci a também artista visual Aline Daka. Lembro-me de ter cumprimentado o Silvio, não sei se ele se lembra, mas dali ficou uma impressão muito boa .
Silvio é um desses apaixonados pelo que faz, um lutador pela sua arte e um cara muito tranquilo, simpático, sem estrelismos. Ele é editor de arte, desenhista, pintor, escritor e quadrinista. Tem 60 anos, nasceu e mora em Porto Alegre. Formado em engenharia eletrônica pela PUC-RS, depois de alguns anos largou a profissão para se dedicar à carreira artística. Ainda na adolescência cursou Desenho Artístico no Centro Gaucho de Desenho. Atualmente, além de suas diversas publicações de desenho e quadrinhos, ainda se dedica a dar aulas e ministrar workshops de diversos temas ligados à arte.
A partir de 1985, quando ainda trabalhava como engenheiro, produziu várias histórias em quadrinhos de super-heróis. Uma delas com o personagem Guardião Sigma, uma releitura de um super-herói criado aos 6 anos. Criou vários outros personagens na década de 80 e 90, mas com o tempo foram surgindo outros similares, então ele acabou desistindo deles e atualmente só tem feito quadrinhos de terror. Em 2015 publicou a revista de quadrinhos “Histórias Fantásticas”, e em 2018, a revista de quadrinhos “Quadrinhos Fantásticos”.
Em 1993 iniciou a carreira de Editor de Arte e desde então tem produzido projetos gráficos e ilustrações para mais de 100 países. Em 2005 publicou alguns de seus trabalhos com uma arte diferente da que fazia para jornais e revistas, no álbum “Silvio Ribeiro - Coletânea”.
Em 2009, criou 20 ilustrações digitais e publicou seu segundo livro, “Arte Digital”, no qual mostrava a sua maneira de fazer esta arte. No mesmo ano resolveu começar a trabalhar no livro “Curso Completo de Desenho Artístico”. Autor independente por falta de apoio das editoras brasileiras, publica suas obras contando apenas com o apoio dos amigos e dos fãs para divulgar seus trabalhos.
Em 2014 foi publicada a primeira edição do livro "Curso Completo de Desenho Artístico" e, em 2021, a segunda edição. Não há outro livro do gênero tão completo, nem no Brasil e nem no exterior. Nele são abordados temas como materiais de desenho e pintura, natureza morta, perspectiva, paisagens, luz e sombra, animais, figura humana, nanquim puro e aguado, pintura com ênfase em tinta a óleo, arte digital e histórias em quadrinhos. Também em 2021, Silvio Ribeiro publicou seu primeiro livro de contos, "Faltou a Banana", onde juntou 25 pequenos contos de terror, fantasia e aventura.
O Arte e Cultura foi conversar com este artista inquieto, confiram, pois Sílvio é tão bom com as palavras como é com o nanquim:
SILVIO RIBEIRO
JORGINHO: Quando e como surgiu o desenho na vida do Silvio Ribeiro?
SILVIO RIBEIRO: Comecei a rabiscar lá pelos 5 ou 6 anos, como a maioria dos desenhistas. Nesta idade todas as crianças gostam de desenhar, mas algumas continuam e outras param. Eu nunca me considerei talentoso, apesar de que, ao contrário de muitos, eu acredito em talento. Por outro lado, sempre fui muito dedicado a tudo o que faço e já no Jardim de Infância fui o aluno que mais desenhos fez durante o ano. Enquanto os outros dividiam o tempo entre brinquedos e desenho, eu praticamente só desenhava. Desde pequeno eu mostrava bastante persistência e interesse pela arte. Até hoje ainda guardo a pasta com estes trabalhos.
JORGINHO: Quais quadrinhos você costumava ler quando era garoto?
SILVIO RIBEIRO: O primeiro personagem que me interessei foi o Zorro, da Disney. Sempre tinha uma HQ dele no meio das do Mickey e do Pato Donald, nos almanaques Disney. Eu só lia ela. Uma vez publicaram três especiais do Zorro, e eu consegui todos eles. Mais tarde comecei a me interessar pelo Homem-Aranha. Um amigo tinha um exemplar especial colorido e desenhado pelo Gil Kane e queria trocar. Estava sem capa, mas eu gostei tanto que troquei com ele. A partir daí consegui várias edições da EBAL e, mais tarde, em 1975, comecei a colecionar as edições da Bloch. Parei quando os artistas antigos foram sendo substituídos, e tanto as histórias como os desenhos começaram a seguir uma linha que eu não gostava.
JORGINHO: Quais as tuas maiores influências no traço?
SILVIO RIBEIRO: Minhas primeiras influências foram justamente os artistas que desenhavam Homem-Aranha: John Romita, Jim Mooney, John Buscema, Gil Kane e também Jack Kirby. Mais tarde, devido a umas questões pessoais, parei de desenhar por alguns anos e, quando voltei, percebi que o universo das HQs era infinitamente maior do que Marvel e DC. Conheci artistas como Harold Foster, Frank Frazetta, Al Williamson, Wally Wood, Alex Raymond e Bernie Wrightson, além de muitos europeus, como Serpieri, Esteban Maroto, Alfonso Azpiri e também uns monstros latino-americanos, como Juan Gimenez e Arturo Del Castillo. E aqui deixo um conselho para quem está começando: tenha seus ídolos, aprenda com eles, mas nunca tente imitá-los, pois o máximo que você vai conseguir é ser uma cópia mal feita de alguém. Vejo muitos desenhistas, inclusive profissionais, que foram por este caminho e desistiram de seu próprio traço.
JORGINHO: Fale sobre o Guardião Sigma, da criação até a retomada dele.
SILVIO RIBEIRO: O Guardião Sigma me apareceu primeiro em um rabisco, aos 6 anos. Na verdade, era apenas mais uma tentativa de criança de desenhar algum personagem, que talvez existisse, eu não lembro. Quando eu já era adulto, no início de 1980, queria fazer uma HQ, mas não tinha um personagem e nem uma história. Revirando minha pasta do Jardim de Infância, encontrei este desenho. Gostei e resolvi dar uma melhorada no layout, criar um nome para ele e uma história. Escrevi e desenhei a primeira HQ em dois meses, durante as férias da faculdade de Engenharia Eletrônica. Depois que terminei, começaram a surgir novas ideias para continuações, e elas não paravam. Cheguei a escrever várias delas, mas nunca desenhei. A faculdade era muito puxada, eu estudava praticamente todos os dias e o dia todo, a semana inteira. Como não podia trabalhar, pois não tinha horário, eu acabava usando as férias para pegar empregos temporários e não sobrava muito tempo para desenhar, ainda mais quadrinhos. Mesmo assim, eu fiz outras HQs menores e com outros personagens, que agora, em 2021, resolvi publicar numa revista com 76 páginas, que chamei de Quadrinhos Nostalgia. São todas HQs desta época em que estava na Engenharia, ou estudando ou já formado e trabalhando. Às vezes ainda faço uma tela a óleo ou uma ilustração com o Guardião Sigma, mas não sei se um dia farei novas histórias com ele. O Brasil é um país complicado, as pessoas não são incentivadas a valorizar o que é feito aqui. Tenho batalhado muito nos últimos anos tentando mudar a mentalidade das pessoas, mas é difícil. Brasileiro engole tudo o que vem de fora, mas são raros os que dão algum tipo de apoio para quem produz material aqui no país. Vejo pessoas promovendo bandas, filmes, séries, publicações e tudo o que é tipo de produção feita nos Estados Unidos, e aí você faz um trabalho e pede pelo amor de Deus para ajudarem a divulgar ou pelo menos compartilharem no Facebook – e são raríssimas as pessoas que fazem isto. Muitas vezes chego a pensar que devem ganhar algum salário ou outro tipo de compensação financeira do exterior. Realmente não entendo!
JORGINHO: Como foi participar de um trio criativo com Denilson Reis e Daniel HDR nos primórdios? Muitos fanzines, muita história? Conte para o leitor um pouco sobre essa fase.
SILVIO RIBEIRO: Lembro que eu ainda estava trabalhando na Engenharia, projetando hardware e software para computadores, mas não recordo exatamente que idade tinha na época. Nos encontramos pela primeira vez na casa do Denilson. Foi em Alvorada, estávamos eu, o Daniel, o Denilson e tinha outro rapaz, que também fazia quadrinhos e fanzines. Depois disso, ficamos afastados por um longo período e só fui encontrar o Daniel muitos anos depois por acaso, em um shopping aqui de Porto Alegre. Perdemos contato novamente e mais tarde reiniciamos a amizade. Algumas vezes nos encontramos em eventos de quadrinhos. Foi num destes eventos, na ComicCon, que combinamos um workshop sobre nanquim com ferramentas clássicas, que ministrei no estúdio dele. Algumas vezes falamos pela internet. O Daniel é um cara fora de série, que teve a coragem de encarar os quadrinhos como profissão e é reconhecido por sua obra e seu talento. O Denilson é outro exemplo de dedicação, um entusiasta dos fanzines. Tenho colaborado muito com suas publicações e também com o Paulo Kobielski. Estamos sempre nos falando e produzindo alguma coisa juntos.
JORGINHO: Como foi para você depois de formado e exercendo a profissão, a transição de Engenheiro Eletrônico para a profissão de artista?
SILVIO RIBEIRO: Não foi fácil, rsrs... Comecei a estudar eletrônica já no segundo grau, Ensino Médio, como chamam hoje, e quando estava quase concluindo esta etapa, comecei a pensar o que faria no futuro. Podia fazer Artes Plásticas e continuar sem dinheiro, ou então cursar Engenharia, que naquela época estava estourando como profissão. Depois que me formei, fui contratado na mesma empresa que fiz estágio. Algum anos depois a empresa faliu e me transferiram para outra, do mesmo grupo, mas menor. Sempre fui um cara organizado e não gosto de esculhambação. Infelizmente, o próprio responsável pela direção da empresa, incentivava a bagunça e eu não me adaptei. Acabaram me demitindo. Eu já estava com 30 ou 31 anos e não queria voltar para a Engenharia. Nesta época eu tinha feito um curso de Quadrinhos com uns estrangeiros que estavam aqui em Porto Alegre, produzindo um trabalho para uma escola de inglês. O diretor do curso viu os meus trabalhos e me convidou para dar aula no exterior. Infelizmente era uma época difícil para a economia e o projeto não deu certo. Eles queriam então, que eu assumisse o curso aqui em Porto Alegre, mas o Fernando Collor de Mello era o presidente e todo mundo sabe a desgraça que foi. Ninguém tinha dinheiro e ninguém investiria em um curso destes naquela época. Deu tudo errado, perdi o emprego e a oportunidade de trabalhar com algo que gostava. Fiquei alguns anos desempregado, vivendo das economias. Tive propostas para voltar a Engenharia, mas eu não queria. Um dia me chamaram para uma entrevista em uma editora. Fazia mais de ano que eu tinha mandado um currículo e só agora se interessaram. Eu não sabia nada do trabalho, mas quando viram meus desenhos, me contrataram. Depois, em um mês, por duas vezes me avisaram que iriam me demitir se eu não me adaptasse. Como sempre fui muito dedicado e esforçado, a mesma pessoa que queria me demitir, depois de 6 meses, veio me dizer que eu era o melhor profissional da empresa. Havia mais dois, que já estavam lá quando cheguei. Trabalhei 24 anos nesta profissão, fazia projetos gráficos e muitas ilustrações. Cheguei a fazer trabalhos que foram para mais de 100 países, em 3 línguas. Muita coisa nem via publicada, apenas colocava no correio e enviava para o país de destino.
JORGINHO: O que os quadrinhos de terror representam para você? Fale para o leitor como foi produzir as revistas Histórias Fantásticas e Quadrinhos Fantásticos.
SILVIO RIBEIRO: Os quadrinhos de terror pra mim foram uma saída. Minhas primeiras leituras foram super heróis, mas chegou uma época em que a qualidade, tanto da arte como dos textos, não me agradava e parei de comprar. Como costumo dizer, meus ídolos já morreram todos, então comecei a buscar por aquelas reedições de revistas antigas de terror, pois têm muitos trabalhos de artistas como alguns destes que citei antes. Com o tempo, fui desenhando algumas pequenas HQs de terror, seguindo aquele estilo, textos curtos e sempre uma sacada no final. Como não tinha material para uma revista inteira, tive a ideia de convidar alguns amigos. Em 2015, publiquei Histórias Fantásticas, com a participação de vários artistas nacionais. Tempos depois, descobri que outras revistas já tinham usado este nome anteriormente. Em 2018 mudei o nome da revista para Quadrinhos Fantásticos, juntei novamente trabalhos de vários amigos e outros meus e publiquei. A intenção sempre foi tentar resgatar um pouco daquele estilo das revistas Kripta e Eyrie.
JORGINHO: Você já produziu trabalhos gráficos para diversos países, o que resultou em uma coletânea intitulada Silvio Ribeiro Coletânea. Entre esses trabalhos, qual mais te marcou?
SILVIO RIBEIRO: Na verdade, esta coletânea é de ilustrações que fiz fora do meu trabalho como editor de arte. Quando você é um profissional, não desenha só o que gosta e, por isto, nas minhas horas vagas eu produzia meus próprios trabalhos. Em 2005 resolvi publicá-los. Não tenho nenhum preferido entre eles, ou que tenha me marcado. A importância desta publicação foi ter sido a pioneira. Foi a primeira vez em que resolvi bancar meus próprios projetos e não esperar por editoras.
JORGINHO: Como foi produzir obras tão completas para a aprendizagem da arte, sendo uma que aborda a Arte Digital e os dois volumes do Curso Completo de Desenho Artístico? Como tem sido a repercussão destes trabalhos tão importantes para quem quer aprender as mais diferentes técnicas?
SILVIO RIBEIRO: Quatro anos depois da coletânea, em 2009, não tinha nada para fazer e comecei a baixar alguns pincéis para o Photoshop. No meio do caminho resolvi criar os meus próprios, em vez de usar os de outros. Montei vários arquivos, com diversas camadas, com objetos para transformar em pincéis. Não deu o resultado que eu esperava, mas percebi que havia criado um enorme banco de imagens e que poderia usar de outra forma. Acabei desenvolvendo meu próprio método de fazer arte digital e em cerca de um mês fiz 20 imagens. Decidi então fazer um livro ensinando a técnica. Como o primeiro livro não vendeu bem, resolvi fazer apenas uma publicação digital e coloquei na internet para quem quisesse baixar gratuitamente. O livro acabou sendo um sucesso, e recebi mensagens de vários professores de Design que estavam usando meu livro em aula e indicando aos alunos. Até consultoria para criação de curso de Design acabei dando. Com o sucesso da versão digital, resolvi publicar o livro impresso. Logo comecei a receber vários pedidos de livros, cada um querendo que eu abordasse um tema diferente. Então, neste mesmo ano, decidi começar a produção de um livro que ensinasse tudo. Trabalhei cinco anos no Curso Completo de Desenho Artístico. Nunca foi feito no Brasil ou no exterior um livro do gênero tão completo. Nele, abordo materiais de desenho e pintura, natureza morta, perspectiva, paisagens, luz e sombra, animais, figura humana, nanquim puro e aguado e pintura, com ênfase em tinta a óleo e, ainda fui além: coloquei um capítulo sobre arte digital e outro sobre histórias em quadrinhos. Fiz a primeira edição em 2014 e agora, depois de muitos anos esgotado, publiquei a segunda. Demorei mais um ano na revisão. Ainda restam alguns exemplares deste livro. Provavelmente não farei uma terceira edição. A não ser que apareça uma editora interessada e que se comprometa a manter a mesma qualidade gráfica das edições anteriores.
Costumo dizer que este é o livro que gostaria de ter encontrado quando comecei. Quem pega na mão e gosta de arte, não consegue deixar de comprá-lo. É um livro para se ter sempre ao lado.
JORGINHO: Fale para o leitor sobre "Faltou a Banana e Outras Histórias", e sobre o "Quadrinhos Nostalgia", seus últimos lançamentos.
SILVIO RIBEIRO: Em 2020 comecei a escrever várias histórias de terror e fantasia. Já tinha escrito outras que publiquei nas revistas de quadrinhos. Como não estava com tempo e disposição para fazer HQs, peguei estes 25 pequenos contos e publiquei em um livro, que chamei de Faltou a Banana e outras Histórias. Nesta obra também tem algumas ilustrações. A Quadrinho Nostalgia veio por insistência de alguns fãs, que queriam ver meus trabalhos antigos. Nem os desenhos e nem as histórias concorreriam a algum prêmio, rsrs... Mas são um registro da minha história e, agora, depois de mais de 30 anos, criei coragem para publicá-las.
JORGINHO: Como você tem visto o mercado para o artista brasileiro?
SILVIO RIBEIRO: Muitos artistas mais novos me fazem esta pergunta. A verdade é que depende do que você quer desenhar. Como disse antes, um profissional não faz apenas o que gosta e, na maioria das vezes, tem que fazer o que não quer. Desenhar é uma profissão. Eu fazia meus desenhos profissionais e paralelamente fazia o que gostava. Esta era a forma de conciliar tudo. Existe um mercado enorme no Brasil para desenhistas na publicidade. Teve uma época em que eu fazia tantas ilustrações como freelancer, que ganhava mais com elas do que com o meu trabalho de editor de arte. Cheguei a saturar de virar noite e acabei ficando só com o emprego fixo.
As pessoas em geral pensam que o trabalho para ilustrador está em agências e editoras. Na verdade, qualquer empresa, de qualquer ramo, pode ser um cliente. Eu fiz trabalhos para siderúrgicas, construtoras, supermercados, empresas de petróleo e outras das mais diversas áreas de atuação. Entretanto, o aspirante a artista não pode esquecer que não adianta aquela sua tia ou sua mãe dizer que você é um artista. É preciso se desenvolver antes de querer ser reconhecido.
Para desenhar quadrinhos no Brasil sabemos que o mercado é difícil. Eu, como sempre tive problemas com chefias, preferi produzir e publicar meus trabalhos de forma independente e, mesmo tendo recebido propostas, nunca quis desenhar quadrinhos para fora do Brasil.
JORGINHO: Sobre a pandemia, como foi passar por ela? Daria uma boa HQ de terror?
SILVIO RIBEIRO: Faz menos de duas semanas que tive Covid. É uma desgraça para todo mundo, ainda mais com tanta informação errada sendo passada para a população e tanto desrespeito pela vida humana. Ela ainda não acabou e certamente daria, não uma, mas várias histórias de terror. Aproveitei o tempo livre para fazer mais publicações. Este ano que passou foram três.
JORGINHO: Como você tem visto o cenário social político pelo qual estamos passando? Quais as tuas esperanças e medos para as próximas eleições?
SILVIO RIBEIRO: Infelizmente a Direita é dona dos principais meios de comunicação. A imagem criada da Esquerda é um hippie drogado e comunista que quer a liberação do aborto. Conseguem convencer até algumas pessoas da Esquerda, que acabam acreditando nisso. Eu sou de Esquerda, não sou comunista, não defendo a liberação das drogas e nem o aborto indiscriminado. Esta foi uma forma de destruir a imagem de quem tem consciência social. A maioria das pessoas nem sabe o que é ser de Direita ou Esquerda. De uma forma bem resumida, a Direita se preocupa com o capital (dinheiro) e a Esquerda tem no seu foco o ser humano. Este tema é muito profundo para escrever neste espaço, pois ao contrário do que o povo pensa, tudo o que aconteceu em 1964 e depois, em 2016, não foi por acaso. Foram esquemas bem montados e planejados fora do Brasil. Para aqueles que se deixam influenciar pela grande mídia e que foram para as ruas atrás de um pato amarelo, isto é bobagem, “teoria da conspiração”. Mas é bastante simples de entender e nada tem a ver com política ou ideologia, e sim com dinheiro. Imagine que você tem um supermercado na sua rua e aí um sujeito vem e coloca um mercadinho perto do seu. Se ele crescer, além de deixar de ser seu cliente, ele vai se tornar seu concorrente, tanto de compradores como de fornecedores. Qual a solução? Não deixar que ele cresça e chegue a seu nível. Para entender melhor isto, basta ver todas as sanções e as ações dos Estados Unidos contra a China. Só que lá tem um governo forte. Ao contrário do Brasil, onde se tirou um presidente por causa de uma “pedalada fiscal”, que nem crime é, pois não tira nada dos cofres públicos. Foi apenas um remanejo de orçamento para atender aos programas sociais. A grande mídia fez um “escândalo” e mandou o povo para as ruas. Além de todo o dia falar em crise. Mas quem não queria aquela “crise” onde tínhamos a menor taxa de desemprego da história?
Vejo muitas pessoas boas, que se preocupam com o próximo, se dizendo de Direita. Se você é um daqueles que vê alguém catando resto do lixo para comer e isto toca seu coração, então você é de Esquerda, mesmo que pense que é de Direita. Está na hora de você estudar mais e não se deixar influenciar pela TV e por estas religiões do mau, que pululam pelo país e que só querem dominar sua mente e escravizá-lo para você continuar sendo uma eterna fonte de dinheiro para elas.
Meu medo é que Bolsonaro seja reeleito. Mesmo agora, se ele sair, não sei se sobrou algum Brasil para ser reconstruído. Do desgoverno de FHC ainda sobrou alguma coisa para reconstruir. Esperanças em relação ao nosso país eu não tenho. Nosso povo engole “Estados Unidos” da manhã à noite. É só o que vimos e ouvimos nos meios de comunicação o dia inteiro. Golpes no Brasil, golpes em toda a América Latina, golpe na Ucrânia, destruição da Líbia, do Afeganistão e do Iraque... Fazem o que querem pelo mundo com a força das armas e da mídia, mas são sempre mostrados pela grande mídia como heróis, salvadores da liberdade e da democracia. Não posso ter esperança, não com este nosso povo que cospe no prato que comeu e que anda por aí em manifestações com bandeiras de Israel e Estados Unidos. Quem estudou sabe que todo o império cai um dia. É certo que isto vai acontecer, mais cedo ou mais tarde. Só espero que os Estados Unidos não arrastem o Brasil novamente para uma outra guerra.
JORGINHO: Quais os teus planos para 2022?
SILVIO RIBEIRO: Eu tenho 60 anos e não estou mais pegando trabalhos. Me considero aposentado. Faço uma ou outra colaboração para amigos ou, quando alguém me pede e está disposto a pagar meu preço, faço uma arte comissionada. Escrevi mais 22 contos e talvez este ano publique o segundo volume com histórias de terror e fantasia. Tem um outro projeto em que estou trabalhando, que é um livro com minhas artes. São diversos trabalhos a lápis, nanquim, tinta a óleo e também HQs. Nada tem data certa para ser publicado. Tenho que primeiro receber o retorno do investimento que fiz nestas 3 publicações em 2021. Por enquanto os livros estão vendendo bem. Sempre digo aos amigos, se você tem algo para fazer, então faça. Não adianta ficar esperando eternamente que o mercado e a mentalidade do brasileiro mudem. Eu faço a minha parte e se vai dar certo, vemos depois.
JORGINHO: Deixe uma mensagem para o leitor do Arte e Cultura.
SILVIO RIBEIRO: Aprendi uma coisa muito importante a um grande custo. Tudo pode dar dinheiro, ou não. Dizem que algumas profissões são melhores do que outras. Eu comecei no caminho errado e demorou um bom tempo para o destino me colocar nos trilhos. Uma pessoa só será feliz, irá se desenvolver e terá sucesso, se fizer o que gosta. Então, não importa a profissão que você escolher, mas tenha certeza que é o que você realmente quer fazer na sua vida.
SILVIO RIBEIRO
Para adquirir o "Curso Completo de Desenho Artístico":
Na loja de materiais artísticos: www.koralle.com.br
Livraria Londres, no Bom Fim, em Porto Alegre
Na rede de Livrarias Santos: www.livrariasantos.com
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Jorginho |
Jorginho é Pedagogo, Filósofo, ilustrador com trabalhos publicados no Brasil e exterior, é agitador cultural, um dos membros fundadores do ColetiveArts, editor do site Coletive em Movimento, produtor do podcast Coletive Som - A voz da arte, já foi curador de exposições físicas e virtuais, organizou eventos geeks/nerds, é apaixonado por quadrinhos, literatura, rock n' rool e cinema. É ativista pela Doação de Órgãos e luta contra a Alienação Parental.
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12 Comentários
Obrigado pelo apoio Jorginho. Excelente entrevista, suas questões me permitiram expor minhas ideias de uma forma, que tenho certeza, ajudará o leitor a conhecer melhor a vida de um artista e suas ligações com a arte e com o mundo. Abraço
ResponderExcluirMuito legal a entrevista, o Sílvio é, com certeza, um dos mestres dos nossos quadrinhos e merece todo destaque nos seus trabalhos, que são inspiração para muitos quadrinhistas nacionais. Parabéns pela bela entrevista.
ResponderExcluirGRANDE ARTISTA BRASILEIRO , COM SEUS BELOS TRABALHOS , PRECISA SER MAIS VALORIZADO PELO PRÓPRIO POVO BRASILEIRO E GOVERNO , EM RESUMO TENHO A HONRA DE CONHECÊ LO .
ResponderExcluirUM SALVE Á ESSE GRANDE ARTISTA .
Ótima entrevista. Excelente trabalho!
ResponderExcluirO Silvio é um grande artista, foi um privilégio fazer a matéria
ResponderExcluirAgradeço o apoio e consideração.
ExcluirO Silvio é um artista comoleto no desenho e pintura, além de saber muito sobre criação e produção de materiais gráficos impressos. E um cara generoso com os amigos e sempre incentiva os novos artistas. Seus livros e HQs são de excelente qualidade. Cursos completos de desenho que não deixam nada a desejar. Sou muito grato por todo incentivo que sempre recebi dele desde que nos conhecemos. Cara sempre disposto a ajudar. Espero que o sucesso e reconhecimento da dua obra aumente a cada dia meu amigo. Vida longa e muita arte. Abraço!
ResponderExcluirObrigado Adão, tmj!
ExcluirAchei a entrevista muito interessante. Tenho alguns exemplares dos livros, incluindo o "Silvio Ribeiro- Coletânea", o qual o próprio autor me mandou pelo correio. Mas nos conhecemos pessoalmente, mesmo, só anos depois num "Mutação". Um sujeito gentil e um artista de talento colossal numa pessoa só
ResponderExcluirBaita matéria. Silvio Ribeiro é um dos grandes artistas gráficos do Brasil. Além de exímio contador de histórias. Seu último livro de contos é sensacional.
ResponderExcluirComo se pode perceber, trata-se de um artista de enorme potencial, onde seu trabalho se expande num leque de opções...quadrinhos, ilustrações, arte gráfica, arte comissionada, pintura a óleo e acrílica...mas de uma forma especial, os quadrinhos. Pela sua bagagem de conhecimento ele se dispõe a ensinar os iniciantes nessa arte, através de seus livros que abordam de maneira minuciosa o passo a passo do desenho.
ResponderExcluirParabéns ao Coletive por essa magnífica entrevista com o Mestre do Quadrinho Nacional Sílvio Ribeiro. Sílvio é uma pessoa fantástica e coloca muito bem suas palavras em cada entrevista, com sinceridade e inteligência. Uma verdadeira aula sobre o mundo dos quadrinhos e das ilustrações. Sinto-me gratificado por ter a parceria do Sílvio na Tchezine. Excelente entrevista!
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