ARTE E CULTURA

A maravilhosa arte de 

Fiona Stephenson


Eu conheci o trabalho de Fiona Stephenson em 2019 enquanto pesquisava o universo das Pin-ups que eu confesso, tinha pouco conhecimento a respeito. Eu me encantei na hora com sua arte.  Fiona tem um  traço lindo e um uso de cores que nos  traz toda a sensibilidade com que mostra suas figuras femininas, sempre sensuais, porém, nunca indo para o vulgar.

Fiona é britânica e começou nos quadrinhos ingleses sendo letrista das tradicionais revistas Judge Dredd e Wharhammer. Atuou na DC Comics trabalhando em títulos como Lucífer e Livros de Magia (como colorista) e em Corpos (arte da capa), conheceu as Pin-Ups de Gil Elvgren e ali percebeu que aquele era o seu caminho.

A artista tem um estilo retrô, que lembra o que de melhor foi produzido no mundo em termos de ilustração nos anos 40, 50 e 60, sem perder sua identidade.

Em 2019 trocamos contatos, Fiona sempre foi gentil, atenciosa e educada, uma grande artista e um grande ser humano. Em 2020 entramos em uma pandemia terrível e o Quiosque da Cultura de Gravataí /RS lançou uma exposição virtual chamada "ENTRE MUNDOS", em que pessoas mandavam fotos de suas rotinas durante a pandemia. Convidei a Fiona para participar e ela topou, enviando fotos de sua rotina para a exposição ( confiram as fotos aqui: 1, 2, 3, 4, 5 ).

Hoje, aqui, realizo um sonho, publicando essa matéria/entrevista com ela. Conheçam um pouco desta artista fantástica.


FIONA STEPHENSON

JORGINHOQuem é Fiona Stephenson? Como você se define?

FIONA STEPHENSON: Eu me defino como artista, embora ache um pouco embaraçoso quando as pessoas me perguntam o que eu faço para viver. Eu me sinto privilegiada por estar fazendo isso e ganhando dinheiro, embora dinheiro nunca foi a minha motivação. Ser feliz e sem estresse sempre foi mais importante para mim, ser uma artista é um ótima escolha de estilo de vida.

JORGINHO: Quando e como a arte entrou na sua vida?

FIONA STEPHENSON: Minha família era pobre, mas a arte sempre esteve na minha vida. Durante a minha infância e adolescência todos na minha família desenhavam, pintavam e escreviam poesias.

JORGINHO: Quais são as histórias em quadrinhos que mais lhe influenciaram na sua infância?

FIONA STEPHENSON: Todas as crianças britânicas da minha geração liam o The Dandy e The Beano, mas quando eu era um pouco mais velha e queria algo mais adulto, me apaixonei por Misty. Essa revista era lindamente ilustrada, ela contava histórias do sobrenatural que eram muito assustadoras. Era publicada pela Fleetway no final dos anos 70 e durou menos de 2 anos, mas me pegou na idade certa, tenho boas lembranças de lê-la.


The Dandy foi uma revista em quadrinhos infantil britânica, semanal,  publicada pela editora DC Thomson ,e durou de março de 1937 até dezembro de 2012. 



The Beano é uma revista britânica de quadrinhos semanal, criada pela editora DC Thomson . Sua primeira edição foi publicada em 30 de julho de 1938, e se tornou a revista em quadrinhos mais antiga do mundo publicada semanalmente em 2018, publicando sua 4000ª edição em agosto de 2019.. Para conhecer um pouco mais, clique aqui


Misty foi uma revista de quadrinhos britânica semanal  publicada pela editora Fleetway, teve sua primeira edição em 04 de fevereiro de 1978 e a última edição em janeiro de 1980.

Arte de Fiona Stephenson

JORGINHO: Conte ao leitor sobre sua experiência nas revistas em quadrinhos Judge Dredd e na Wharhammer, Qual foi a importância dessas obras para o seu crescimento como artista?

FIONA STEPHENSON: Judge Dredd foi quase acidental. Meu namorado na época (agora marido, Dean Ormston), trabalhou para o Judge Dred Megazine e ele sempre foi atrasado ​​com os prazos. Ele percebeu que se eu fizesse o Lettering para sua arte, ele ganharia alguns dias extras com o editor. Naqueles dias, as letras eram feitas à mão e coladas em uma folha de acetato, em seguida, sobrepostas na obra de arte. O letrista é sempre a última pessoa na cadeia criativa, se o letterer (letrista) está trabalhando na mesma sala que o artista, poupa tempo. Um cenário semelhante aconteceu comigo tornando-me uma colorista. Dean queria tudo "em casa", porque economizava tempo e ele confiou em mim para fazer um bom trabalho, estou consciente disso. Com Warhammer foi diferente. Kev Walker me abordou sobre Lettering em um novo projeto, eu já o conhecia, e é natural que as pessoas queiram trabalhar com pessoas que conhecem, já existe uma confiança no relacionamento. Warhammer foi uma curva de aprendizado íngreme, eu aceitei o trabalho como letterer, com o entendimento de que seria feito no computador e não à mão, o problema era que eu não tinha um computador naquele tempo, foi por volta de 1999, então não era tão incomum para um artista não possuir um computador. Tive que correr para comprar um e aprender a usar. Peter Doherty (desenhista da Judge Dredd Megazine e 2000AD) e Matt Brooker (também conhecido como escritor de quadrinhos D'Israeli, artista e colorista), me ajudaram enormemente, serei sempre grata a eles.


Judge Dredd: The Megazine é uma revista mensal de quadrinhos britânica , lançada em setembro de 1990É uma publicação irmã da tradicional 2000 AD, atualmente publicada pela editora Rebellion Developments. Para saber mais clique Aqui.

Warhammer Monthly foi uma revista mensal de quadrinhos publicada pela editora Black Library , de março de 1998 até dezembro de 2004.  

Arte de Fiona Stephenson

JORGINHO: Como foi seu trabalho na DC Comics? Quais títulos você trabalhou? Qual ou quais mais marcou você positivamente como artista?

FIONA STEPHENSON: Gostei muito de trabalhar na DC Comics. Shelly Bond foi muito solidária e naqueles dias a DC tinha ótimas festas! Eu trabalhei em The Girl Who Would Be Dead (letterer - sem tradução no Brasil), Lúcifer (colorista), Livros de Magia (colorista) e Corpos (arte da capa). Eu tenho que dizer que a arte da capa de Corpos me marcou positivamente como artista, eu gostava de escrever e ser colorista, mas ali parecia que eu estava trabalhando para criar minha própria arte, em vez de contribuir com os outros.



JORGINHO: Sou apaixonado pelo seu trabalho desde a primeira vez que entrei em contato com ele, quando surgiu a mudança de rumo para a criação das Pin-ups?

FIONA STEPHENSON: Eu estava trabalhando em quadrinhos, mas não criando meus próprios trabalhos, então eu estava insatisfeita, suponho. Eu estava visitando a convenção de quadrinhos de San Diego quando vi a arte de Gil Elvgren em um livro, soube imediatamente que este era o meu caminho. Voltei para casa no Reino Unido e comecei a praticar a pintura à óleo, copiando a obra de Elvgren. Senti que tinha desperdiçado 10 anos de minha vida não pintando Pin-up antes, sinto que vou sempre estar 10 anos atrás de onde eu deveria estar criativamente, porque não encontrei meu nicho cedo o suficiente. Elvgren ainda é meu artista Pin-up favorito e o artista que eu sempre aspiro ser tão boa quanto, mesmo sabendo que nunca serei metade dele. Você tem que mirar alto!

Arte de Gil Elvgren (1914-1980).

JORGINHO: Você já sofreu algum preconceito por ser uma mulher desenhando Pin-up?

FIONA STEPHENSON: Nunca sofri preconceito por ser uma artista desenhando Pin-up, talvez seja porque no gênero Pin-up sempre houveram artistas femininas, Joyce Ballantyne, Zoe Mozert e Olivia De Berardinis, por exemplo. Ou talvez eu não tenha notado, às vezes o preconceito é feito pelas suas costas, é difícil dizer. Eu tenho notado que as mulheres gostam muito da minha arte, acho que ele não ultrapassa uma marca, meu trabalho é sexy, mas nunca bruto.

Artes de Joyce Ballantyne, Zoe Mozert e Olivia De Berardinis

Arte de Fiona Stephenson

JORGINHO: Quais são as influências na criação sua arte?

FIONA STEPHENSON: Vendo o trabalho de outro artista, pode ser um velho mestre ou um peça moderna, acho a arte inspiradora. Ou se eu assistir a um filme que parece espetacular, filmes de Powell e Pressburger têm iluminação e cores incríveis, os Sapatos Vermelhos e Black Narcissus são meus favoritos. A arte alimenta a alma.



JORGINHO: Que conselho você dá para aquela garota que quer desenhar Pin-up?

FIONA STEPHENSON: Apenas faça. Uma boa compreensão da anatomia é essencial, então eu sugeriria muita prática com desenho de figuras. Eu também sugeriria olhar para os melhores artistas do gênero Pin-up, estudar o que os torna os melhores e tentar capturar o mesmo espírito. Cerque-se de pessoas boas, deixe-as ajudar e aconselhar você, ajude-os e aconselhe-os em troca. Você pode ser convidada para criar arte com a qual você não se sente confortável, saiba quais são suas linhas vermelhas e não as ultrapasse. É lisonjeiro ser convidado a fazer uma comission, mas se não contribui com a sua jornada de artista, aprenda a dizer "não".

JORGINHO: Como foi para você enfrentar esse período do mundo pandêmico pelo qual passamos?

FIONA STEPHENSON: Após o choque inicial de ser trancada e a tristeza com o número de mortos, vi isso como uma oportunidade para fazer muito trabalho sem as distrações habituais. Isso não aconteceu, é claro, logo perdi o impulso sem o estímulo social. Eu e meu marido nos vestíamos todos os sábados à noite como se estivéssemos saindo, fazíamos coquetéis, tocávamos discos de vinil e dançávamos até altas horas. Foi divertido, mas foi um alívio voltar a socializar com amigos e familiares. A pandemia me deixou sentindo que a vida é muito curta e que perdemos quase 2 anos em alguma forma de bloqueio/restrições. Eu nunca dei a vida como garantida, mas isso me fez não querer ficar ociosa por um minuto, o que pode ser exaustivo.

JORGINHO: Você, como artista, como está vendo esse turbulento momento da política internacional que estamos vivendo?

FIONA STEPHENSON: Estou desesperada com as notícias na maioria dos dias, felizmente eu tenho uma perspectiva positiva ou seria esmagador. A raça humana não parece aprender com seus erros, o que é irritante. Todos nós poderíamos ter boas vidas neste planeta, mas certos líderes mundiais são gananciosos ou insanos, ou ambos.


JORGINHO: Quais são seus planos para 2022?

FIONA STEPHENSON: Não tenho planos artísticos imediatos, porque estou ocupada com um novo empreendimento. Meu marido e eu abrimos um bar em novembro passado em nossa cidade natal, chamado Spiral City, por causa da cidade que meu marido criou para a história em quadrinhos Black Hammer. Nós decoramos as paredes do bar com nossas obras de arte e pôsteres de filmes, temos uma jukebox com discos de vinil, é ótimo. Nós não trabalhamos ainda no bar, ainda vai levar tempo. Também estou abrindo uma lojinha/galeria em frente ao bar, onde podemos vender nossas obras de arte e mercadorias associadas. Eu passo meus dias procurando lindas latas e canecas para colocar minha arte. Quando tudo estiver resolvido, eu vou voltar a pintar, espero que antes do final do ano!


JORGINHO: Deixe sua mensagem para os leitores brasileiros.

FIONA STEPHENSON: Eu nunca estive fisicamente no Brasil, mas é o espírito de como um país brilha através de seu povo sempre que eu os vejo na TV. Atualmente o mundo é um lugar assustador e louco, então, sejam gentis uns com os outros, sejam corajosos em suas escolhas, abracem a diferença e, acima de tudo, sejam felizes!



CONTATOS:


Instagram: @FionaPinUpArt  

"Ser feliz e sem estresse sempre foi mais importante para mim, ser uma artista é um ótima escolha de estilo de vida." "A arte alimenta a alma." - Fiona Stephenson



Jorginho

Jorginho é Pedagogo, Filósofo, ilustrador com trabalhos publicados no Brasil e exterior, é agitador cultural, um dos membros fundadores do ColetiveArts, editor do site Coletive em Movimento, produtor do podcast Coletive Som - A voz da arte, já foi curador de exposições físicas e virtuais, organizou eventos geeks/nerds, é apaixonado por quadrinhos, literatura, rock n' rol e cinema. É ativista pela Doação de Órgãos e luta contra a Alienação Parental.


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10 Comentários

  1. Parabéns, Jorginho. Aprendi no jornalismo que uma boa entrevista passa necessariamente por um bom entrevistador, que saiba fazer as perguntas e que conheça a obra do entrevistado. Por isso essa é uma ótima entrevista que ainda mostra a arte maravilhosa dessa artista, que eu ainda não conhecia. Valeu mesmo! Abraço

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    1. Muito obrigado meu amigo. Sempre me esforçando para fazer o meu melhor. A Fiona é fantástica!

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  2. Lindo trabalho da Fiona. Retrata mulheres empoderadas, fortes, sensuais sem ser vulgar. Amei o colorido e as expressões.
    E o entrevistador está de parabéns. Extrair toda a essência do entrevistado é uma arte. Texto maravilhoso.

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  3. Que trabalho incrível da Fiona, um trabalho muito sensual e sensível sobre o corpo da mulher.

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  4. God save Fiona!
    Bacana demais! Tenho a revista Corpos cuja capa esta na matéria.
    Grande trabalho Salve Jorge.

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