DOSSIÊ KOBIELSKI

 

SERIA O FANTASMA, O PRIMEIRO “SUPER-HERÓI”
 DOS GIBIS?

Arte: Pablito Aguiar

Uma discussão, muito acalorada entre colecionadores, leitores e estudiosos de histórias em quadrinhos é saber “quem seria o primeiro super-herói dos gibis?” Já antecipo aqui, que esse texto não têm a pretensão de responder tal questionamento.

Essa discussão invadiu ainda mais minha vida quando publiquei nas redes sociais, em 2016 – ano que Fantasma completava os 80 anos de publicação -, uma charge desenhada pelo artista gráfico Pablito Aguiar, a partir de uma ideia que lhe enviei, onde o personagem Fantasma ministrava uma aula: “Como se tornar um super-herói”, tendo na classe personagens como Capitão América, Homem-Aranha e o Incrível Hulk.

Pronto. Foi o ponto de partida para algumas polêmicas. As redes sociais se tornaram nesses últimos tempos, um campo aberto e vasto para debates, às vezes, por demais pueris. Sabemos que o super-herói é um gênero de história em quadrinhos surgido no final dos anos de 1930. Superman, que apareceu pela primeira vez em “Action Comics” nº1, teria sido, para muitos, “primeiro super-herói dos gibis” - tinha força descomunal, e logo depois passou a voar. A partir daí, vieram inúmeros modelos semelhantes àquele bebê que veio do planeta Kripton para a Terra, se tornando um filho e protetor deste chão, como nos mitos antigos. Superman encantou a todos. Principalmente a indústria cultural, que soube cooptar os dividendos como ninguém. Vieram programas de rádio, animação - a bela série de animação dos irmãos Fleischer, de 1941 me encanta até hoje. Um ano depois, na “Dective Comics” nº39, The Batman estava pulando os edifícios de Gothan City, apesar de não ter superpoderes, se tornou um clássico da nova mídia dos tais super-heróis.

Arte: Silvio Ribeiro  e Will Sideralman

Isso seria um resumo óbvio da “Era de Ouro” dos gibis de super-heróis. Mas, será que não está faltando mais nada? Claro que sim, caro leitor. Não poderíamos falar de heróis dos quadrinhos sem mencionar aquele que foi o precursor de toda essa “onda” supereroística: The Phanthom (O Fantasma). Personagem surgido nas tiras de jornais, em 1936, já trazia elementos básicos do gênero, como o uniforme colante e a máscara. A tal “cueca” por cima da calça instituiu aquilo que muitos definem hoje como “super-herói”. Se tornou um ícone. Virou moda, e foi seguido.

O Fantasma me cativou desde aquela edição gigante de 40 anos, publicada pela Rio Gráfica Editora, em 1976. Encantadora. Guardo até hoje. Nunca fui um grande colecionador do personagem, apesar de ter lido muitas de suas histórias. Sua infância, quando conheceu Diana. Os piratas Sing. O casamento e nascimento dos filhos. Até me sinto parte da família Walker.

Arte: Juliano Kaapora

Quando nosso herói – ou super-herói? Completou 80 anos sabia que tinha que homenageá-lo. Mas como? A ideia veio de um amigo: um fanzine. Ou melhor: um Artzine. Vieram inúmeras colaborações. A capa do Silvio Ribeiro fez sucesso. Mas também, críticas nas redes sociais: “O Fantasma parece um Robocop!”. Não desisti do “Espírito que anda”. Esbocei uma charge – nunca tinha feito uma-, desenhada por Pablito Aguiar, para homenagear a primeira publicação do Fantasma em terras brasileiras. E, lamentavelmente, a patrulha conservadora atacou: “Ele não é super”. “O Super é arrogante demais”. “Fantasma pra mim é vermelho”. E por aí vai.

Julio Shimamoto

Tenho percebido, nos últimos tempos, que infelizmente, alguns grupos de fãs se consideram meio que donos dos personagens. Alguns, por uma obstinação incomparável, tentam completar suas coleções. Outros, que já completaram, as exibem com todas as pompas. Não que considere isso de todo mal, mas prefiro ir adiante. Sempre tive o cuidado, como fanzineiro, de trazer algo de diferente sobre o personagem. Seja uma hq inédita do Fantasma. Uma entrevista com um fã, aquela matéria exclusiva ou as brilhantes artes de artistas de quase todo país, de norte a sul. Isso não têm preço. Sem contar o mais importante: que é apresentar o “Espírito que anda” para as novas gerações. Esse é o ganho maior. Pois o Fantasma vive em nossos corações.

Jader Corrêa

Paulo Kobielski

Paulo Kobielski é professor de História com especialização em Filosofia e Sociologia pela UFRGS. Trabalha com fanzines  e quadrinhos na educação. Além disso Paulo prometeu que irá fazer um cosplayer de Fantasma em breve, e encenar uma luta com os Piratas de Singh, os Piratas deverão ser Denilson Reis, Pedro Kobielski e Anderson ANDF., será imperdível.

Paulo conquistou  o Troféu Ângelo Agostini de melhor fanzine no ano de 2020, confira matéria aqui:

Também confiram o episódio do podcast  Coletive Som com Paulo Kobielski:


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6 Comentários

  1. Muito bom, Paulo. Também leio "O Espírito Que Anda" desde de guri e continuo gostando. O conceito de herói é bem mais fundamentado do que o do super-herói. Para mim é irrelevante, pois tratamos de personagens incríveis, que tendo ou não super-poderes, fazem coisas que nós humanos comuns, jamais conseguiriam. Mas sobre o Fantasma já li que a editora brasileira que lançou o personagem, a RGE, não tinha a cor roxa disponível e por isso lançou o uniforme vermelho que pegou por aqui. Tanto que muita gente torceu o nariz quando viu o Billy Zane no filme, trajando aquele uniforme roxo, que acho muito legal. Abraço

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    1. Oiiii João. O Fantasma é um baita personagem. Sempre me encantou com suas histórias bem escritas. Valeu amigo.

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  2. Conheci o Fantasma através de hqs antigas tanto pela extinta editora "Saber" quanto a "RGE" que virou a "Editora Globo". Há anos que tem muita gente babacona escrota bitolada metida a sabidona, muito pior que um "'Sheldon Cooper da vida" no meio de fãs reais e isso me enoja até o tutano dos ossos

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    1. Oiii Anderson. Infelizmente algumas críticas não são construtivas. Isso é triste nesse meio. Mas, não deixarei de fazer aquilo que gosto e acredito. Aquele abraço brother.

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  3. Bem lembrado aniversário do fantasma, meu pai sempre falava que foi uma das hqs que adorava.

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    1. Oiiii Laís. Sim, o Fantasma já foi muito popular por aqui. Vendia muito no período da RGE. Aquele abraço. Valeu a leitura.

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