ESSE ESTRANHO NOVO MUNDO


TEMAS PARA ESSE ESTRANHO 
NOVO MUNDO

Em tempos de fake news, precisamos saber o que está por trás da narrativa, ou seja, é importante sabermos identificar os Temas. É disso que trata essa coluna.

Todo o ser humano gosta de contar e ouvir histórias. Talvez porque a vida seja, geralmente, por vezes ilógica e até caótica é que buscamos nas histórias significado e estrutura.

As histórias explicam o mundo emocionalmente em vez de analiticamente.

As histórias são as nossas metáforas para a vida e o TEMA é a verdade específica sobre a experiência humana contida nelas.

O Tema é o significado, a mensagem da história, a razão da existência da história. O Tema é o que torna a ideia universal e emocionalmente significante. Sem um tema a história tem muito pouco significado.

Para os que escrevem, se diz que o tema só se torna claro após vários exercícios da escrita. Realmente é um grande ganho de tempo no processo de trabalhar a história, saber o tema desde o princípio. Mas não entre em pânico, conhecer o tema antes de começar a escrever é o ideal, mas muitas vezes temos que desenvolver a narrativa para encontrá-lo.

A chave de tudo é não tornar o tema óbvio, acima da trama, para não correr o risco de transformar a sua história em algo didático ou até mesmo, em um sermão.

O tema deve ser o subtexto de sua história, o que está por trás da história.

Alguns filmes clássicos podem elucidar bem a questão:

- “E.T. – O Extraterrestre” (1982) de Steven Spielberg é mais do que simplesmente sobre um garotinho ajudando um ser alienígena a voltar para casa (o seu planeta de origem). É sobre a capacidade de acreditar; é sobre o poder da amizade;

- “O Exterminador do Futuro” (1984) de James Cameron é mais do que sobre uma mulher tentando escapar de um androide assassino. É sobre a tecnologia que escapa do controle humano e traz resultados catastróficos;

- “Thelma e Louise” (1991) de Ridley Scott é bem mais do que sobre duas mulheres na estrada. É sobre liberdade.

Então, na superfície está a história; por trás da história, em profundidade ou nas entrelinhas, está o tema.

A história traz o espectador ao cinema e o tema faz com que a vinda valha à pena. É o que o espectador leva consigo ao deixar a sala de cinema.

A história faz o leitor querer o livro e o tema faz com a leitura seja recompensadora. É o que faz o leitor recomendar ou até mesmo querer reler em outro momento.

Segundo Platão: “os contadores de história deveriam ser banidos por serem uma ameaça à sociedade. Eles lidam com ideias, mas não na maneira aberta e racional dos filósofos; em vez disso eles escondem as suas ideias nas sedutoras emoções da arte”. O filósofo grego sabia como esse dom de contar histórias, poderia se tornar algo que ameaçasse os poderes estabelecidos, sobretudo se os temas dessas histórias fossem bem escolhidos, emocionassem os espectadores/leitores e os fizessem refletir.

Já Aristóteles acreditava que a arte servia à dois propósitos: divertir e educar.

E para cumprir esse duplo propósito é preciso escolher bem o tema e saber expô-lo ao longo de uma narrativa ficcional.

Albert Camus afirmou: “a ficção é uma mentira através da qual revelamos uma verdade”.

Então fica o alerta para todos os contadores de histórias, saber escolher e desenvolver o tema é de grande utilidade. Sobretudo nesse estranho novo mundo em que nos deparamos com tantas narrativas vazias.

Albert Camus

João Luís Martínez 

João Luís Martínez é ator, escritor, diretor, dramaturgo e roteirista atuando nas áreas do Teatro e do Audiovisual (cinema, TV e web) há mais de trinta anos. Desde 2011 faz parte do corpo docente do Studio Clio – Instituto de Artes e Humanismo, uma instituição prestigiosa na cultura porto-alegrense, onde ministra cursos e oficinas de roteiro. Há três anos ministra as suas oficinas de modo on-line, contribuindo para a formação de novos roteiristas para o mercado.


COLETIVEARTS
Não espalhe fake news,
espalhe cultura!


Postar um comentário

1 Comentários