Nuvem
Se as coisas fossem mais fáceis, eu seria escritor. Mas não desse tipo de escritor que chega e vomita regras gramaticais, acordos ortográficos, conceitos estilísticos e o escambau. Eu seria escritor de nuvens.
Acordaria cedinho pela manhã, colocaria minha cadeira na varanda e observaria as histórias das nuvens. Cada uma delas me contaria uma coisa diferente: a pontiaguda me diria que foi uma flecha atirada por um deus irado, e que saiu sem rumo, buscando o seu alvo; outra, mais arredondada, falaria que saiu da cabeça de uma criança, tinha começado pequenina, mas avolumou quando uniu-se à outra que não tinha história. Juntas, procurariam um sentido para a vida diáfana de nuvem. Acabaram se apaixonando. Entre tantas outras coisas que posso ver, viajo com elas até o horizonte, quando se desfazem e eu volto para minha cadeira, minha varanda, e a minha pequenez de vida. Seria escritor se a vida real não me gritasse aos ouvidos, pedindo para abandonar as nuvens.
Texto: Patrícia Maciel
Arte: Israel Santiago
Patrícia Maciel Israel Santiago |
#temliteraturanarede
7 Comentários
Esse é o verdadeiro escritor. Não precisamos de regras, precisamos de coração capaz de ouvir estrelas e porque não ouvir nuvens? Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirTexto sem coração não alimenta a alma. Bjo, Isab- El!
ExcluirMaravilhoso viajar com os pés no chão, ou nem tão no chão. Parabéns por texto e desenho.
ResponderExcluirDe fato! Podemos fazer, mas às vezes a vida real nos coloca algemas nas pernas e nos obriga a olhar para o cinza do cotidiano, é uma luta constante na qual não podemos esmorecer, senão morremos como artistas. Grande abraço, Waldemar!
ExcluirQue texto incrível, sobre o quanto podemos refletir ao olhar o céu, e quanto as nuvens podem inspirar. Na verdade toda a natureza inspira o artista, não precisamos de muito para criar.
ResponderExcluirQue linda essa ilustração retrata muito bem esse lindo texto
ResponderExcluir"Está com a cabeça nas nuvens", frase ouvida na adolescência.
ResponderExcluirRealmente, é fonte de inspiração mutante e enigmática.
Os meus heróis dizem que ao morrerem irão tocar harpas numa nuvem.
Bela inspiração, grande Patricia Maciel.