NAVALHAS AO VENTO

 

TABAGISMO – DO CHIQUE AO BREGA

Parar de fumar não é tarefa fácil e nem é uma decisão dos outros, tem que ser uma decisão pessoal. As pessoas têm por hábito ficar reclamando do fumante, dizendo que ele tem que parar de fumar por causa da saúde, porque ele cheira mal, porque… porque… porque… Mas esquecem que isso tem que partir do próprio doente. Todo o vício é uma doença que deve ser tratada e respeitada.

Nos anos 70 fumar era sinônimo de sucesso, liberdade, de pessoas empoderadas Lembro que os jovens só eram aceitos pelo grupo se fumassem. E acendiam o cigarro em qualquer lugar, até nos bondes era permitido fumar. Cada cadeira do cinema Astor em Porto Alegre tinha um cinzeiro acoplado. Os reclames na TV mostravam cavalos vermelhos correndo pelo Arizona. Mulheres bonitas passeavam com homens bem-sucedidos em carros como o Maverick, Aero-Willys, Itamaraty, Simca. Fumar era chique.

Comecei a fumar aos 15 anos como qualquer adolescente do ensino médio do Colégio São João e por trinta e nove anos fumei muito, chegando a oitenta cigarros por dia e foi nessa média que permaneci até o dia em que decidi parar.

A decisão foi pautada no financeiro, descobri que queimava R$ 11.160,00 por ano e isso me incomodou mais do que qualquer coisa. Parei de fumar antes de perder a saúde, minha decisão foi na hora certa. Minha maior preocupação sempre foi não me transformar em uma ex-fumante chata. Não existe nada pior do que alguém que fica pregando moral depois que abandona o vício. Assim como eu clamava por respeito enquanto fumante, hoje respeito meus amigos que ainda estão na dependência. Inclusive tenho cinzeiro na minha casa e ofereço junto a um café ou taça de vinho. Eu parei de fumar por minha escolha, não posso obrigar meus amigos a fazerem o mesmo. A decisão tem que partir de cada um, todos a seu tempo. Dia 4 de junho completarei 2000 dias sem cigarro e me considero uma paciente em tratamento contra uma droga. Mesmo que seja uma droga lícita, não deixa de ser droga e a dependência não deixa de ser doença.

O que antigamente era sinônimo de poder e sucesso, hoje demonstra fracasso. O índice de fumantes é maior em grupos de menor poder aquisitivo e menor escolaridade. Em poucos locais o fumo é liberado, até em via pública a fumaça se torna indesejável. A companhia do fumante passou a ser evitada e o glamour deu lugar ao brega.

Parar de fumar foi uma das minhas maiores decisões e não lamento não ter parado antes. Tudo tem hora certa para acontecer e esse foi o meu momento. Se tu és fumante, pensa nisso… pensa como seria bom parar enquanto é tempo. E se tu és amigo de fumante não fica impondo tua vontade. O fumante sabe a sua hora. Respeite-o e confie.

Isab-El Cristina Soares

Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras.


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4 Comentários

  1. Muito bem bem colocado Isab-El. Também sou ex-fumante e comecei por fazer parte de um grupo de trabalho em que todos fumavam e eu já era fumante por tabela. Mas todos sabem que as primeiras tragadas reais são horriveis, incluindo o gosto. Mas a força do querer pertencer à um grupo é maior e segui assim por 12 anos. Tive que despender muita força de vontade para parar e continuar a conviver com fumantes. Só eu sei o quanto foi difícil, mas desde que decide parar, nunca mais coloquei um cigarro na boca. Não há como cobrar de ninguém quanto a isso, a não ser contar a nossa história e mostrar que é muito difícil (há dependência bioquímicas nisso), mas é possível e ainda com o bônus de voltar a sentir mais o sabor dos alimentos e melhorar a respiração. Não é pouca coisa. Abraço

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    1. Tu sabe q eu nunca achei ruim o gosto do cigarro. Eu acendia para minha mãe desde sempre. Não lembro com q idade comecei. Mas nunca achei ruim. A dependência era questão de tempo. Mas sempre odiei ex fumante chato kkkkk

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  2. Fumei dos 12 aos 25. Uns 10 ao dia normal e um maço na balada. Tentei parar duas vezes. Retornava. Percebi que quando desenvolvia uma gripe forte, daquela que derruba, passava até uma semana sem fumar, sem sentir falta.
    Quando casei a esposa reclamou que a casa, as roupas, tudo fedia a final e substancias do cigarro.
    Parei e aí segurei firme. A minha tecnica foi passar mentalmente a odiar cigarro. Fugia os comerciais, parei de frequentar eventos e larguei os amigos fumantes, passei a curtir (fumar) só a esposa..
    Uma vez, meses depois, bebendo, não resisti e acendi um cigarro. Não consegui passar da metade. Foi a iltima vez. Outros 25 anos se passaram. Agora ficou impossível pensar em fumar. Parece algo totalmente fora de qualquer propósito..
    Abraço.

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