ARTE E CULTURA

 

SUÍTE TÓQUIO 


Confesso que em outras condições não teria lido o livro. Não conhecia a autora (primeiro erro), a capa não me atraía (engraçado – agora, gostando do livro, também passei a gostar da capa) e o título... bom, o título me remeteu a aquele filme “Lost in translation”, onde um homem de meia idade e uma jovem recém-casada se apaixonam em Tóquio. Não me senti instigada. Mas íamos ler o livro no meu clube de leitura, o comprei por conta disso, e olha a surpresa que levei!

O primeiro capítulo já começa de um jeito que faz com que seus olhos fiquem grudados na página. Não adianta lembrar que ainda precisa trabalhar, que só abriu o livro rapidinho para dar uma olhada, um pequeno petisco literário no meio do expediente e que logo mais ia voltar pro computador. Esqueça. “Estou raptando uma criança.” Assim começa. E a partir daí você acompanha a Maju, que, de fato, está raptando a filha da patroa. Raptando de uma forma maternal, carinhosa, porque a Maju ama a Cora como se fosse a filha dela. E você, que, como todo mundo, abomina sequestradores de crianças, vai acabar torcendo para que dê certo.

Já no segundo capítulo você conhece a Fernanda, mãe da Cora. Enquanto a Maju está embarcando no ônibus com a Cora, a Fernanda está embarcando numa outra viagem. Ao invés de deixar a Fernanda entrar em pânico pela ausência da filha, a autora nos leva para o  passado, algumas semanas atrás, e nos deixa observar como a Fernanda, fugindo da sua rotina entre o trabalho e um casamento mais-ou-menos, cai por uma colega dum projeto e as duas se envolvem numa história de paixão que lhe “corrói a pele”. E assim como torcemos pela Maju, também torcemos pelo amor entre a Fernanda e a Yara.

Giovana Madalosso tem isso: ela nos surpreende. Ela brinca com nossas expectativas e rompe com os estereótipos. A Maju é uma sequestradora simpática. A Fernanda é uma mulher de classe meia-alta com um bom trabalho, sempre ocupada, sempre trabalhando, que não conhece nem os nomes das amigas da filha. Quem conhece, porque fica em casa e tem uma relação mais próxima com a filha, é o pai, Cacá. Um pai de verdade, pai presente e amoroso, que faz o que a sociedade diz ser tarefa da mãe, enquanto Fernanda tem características julgadas como masculinas, como pouco maternais.

Os capítulos vão alternando entre Maju e Fernanda, narrados sempre em primeira pessoa, com duas vozes tão diferentes como são as duas mulheres, as duas personagens, cada uma com sua história, com sua bagagem, com sua realidade e seus desejos. Eu pessoalmente torci muito pela Fernanda, já minha esposa torceu mais pela Maju. Nenhuma de nós duas conseguia largar o livro e ele virou assunto principal nas nossas conversas.

“Suíte Tóquio” é uma viagem, mas não ao Japão (como julguei inicialmente pelo título). É uma viagem por duas histórias, uma viagem pela maternidade num sentido pouco comum, com duas protagonistas fortes, uma viagem sempre contada com um toque de humor, mesmo quando começa a desandar...

E quando começa a desandar, aí é que você vai desistir logo da ideia de voltar ao computador e vai terminar o livro na mesma madrugada. Boa leitura!

Giovana Madalosso



Título: Suíte Tóquio
Número de páginas: 208
Ano: 2020
Editora: Todavia 
Insta da editora: @todavia
E-book e Livro Fisíco  disponível na Amazon (unlimited), clicando Aqui
Instagram da autora: @gmadalosso





Yvonne Miller

Yvonne Miller 
nasceu na cidade de Berlim em 1985, mas mora, namora e se demora no Nordeste do Brasil desde 2017. Atualmente vive em Pernambuco, no meio da Mata Atlântica, junto com sua esposa Larissa, sua enteada Morena, o gato Salém e o cachorro Chico. Escreve contos, crônicas e literatura infantil em alemão, espanhol e português. Tem textos publicados em coletâneas, como Paginário (Aliás Editora) e Histórias de uma quarentena (Expresso Poema Editora). É colunista do coletivo de cronistas nordestinas @bora_cronicar e do blog Escritor Brasileiro. Além de ficcionista é autora e redatora de livros escolares.

Instagram: @yvonnemiller_
 


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