TECITURA

 

A Literatura e o Contexto Histórico

“Literatura e História caminham juntas, de mãos dadas.” Escutei esta frase quando estava cursando Letras, proferida por um professor de história que fazia uma palestra. Perfeito! Assim começa esta crônica!

Acompanho muitas publicações de escritores e escritoras através de canais da Internet e grupos, entre eles o ColetiveArts e o grupo WhatsApp do Clube Literário de Gravataí. Rolam muitas interações, pois no Clube de Gravataí há muitos escritores e escritoras que, como eu, mantém coluna fixa no site do Coletive, um  canal muito interessante que eu enxergo como uma evolução daquelas revistas Magazines muito populares em décadas passadas. Informações, artigos de opinião, publicação de poesias, crônicas, contos, literatura de Cordel, cultura Geek e demais culturas, um espaço onde as expressões artísticas e culturais convergem em suas diversas formas. Nanda Chinaglia, Ivone Miller, Mima Coelho, Nei Medina e tantos mais emprestam sua qualidade ao bem comum, que é de levar a Cultura a todos os recantos, formando esta parceria ímpar, somando as potências, ampliando o alcance, o que fortalece a todos.

Bom, como bem sabem, passamos recentemente por um período histórico importante, que foram as eleições para Presidente e Governador (e algumas suplementares também, como a ocorrida aqui ao lado, em Cachoeirinha, para Prefeito), através do sufrágio universal. No Rio Grande do Sul, um fato marcante: pela primeira vez na história, o povo sul-rio-grandense reelegeu um governador, Eduardo Leite. Impactante! Com uma larga vantagem, Eduardo não deixou dúvidas e contou com o apoio da maioria absoluta da população para um segundo mandato inédito. É a História acontecendo, um fato que estará para sempre marcado nos livros de história; e para Presidente, uma votação acirrada, disputada voto a voto, em que o Presidente eleito Luís Inácio “Lula” da Silva venceu por uma margem muito pequena. O país dividido!

Enfim, é a Democracia posta em prática, e assim devemos respeitar.

Decorrência destes processos, muitas manifestações aconteceram, a favor e contra o resultado das eleições; entre estes, a escritora Isab-El Cristina teceu um artigo, uma crônica de opinião em sua coluna ``Navalhas ao Vento’. Devido à repercussão em grupos que participamos, tive a atenção voltada a este texto, e fui dar uma olhada. É um bom exemplo de texto para contextualizar o pensamento que tenho sobre o assunto. Vamos a ele!

Isab-El (*) traz um apanhado de informações com críticas ao Bolsonarismo e ao processo democrático que não está sendo bem recebido por algumas pessoas da ala do ex-Presidente, através de uma crônica muito bem escrita (que é uma característica sua, independente da criação e teor do texto, Isab-El escreve com uma qualidade e respeito à gramática normativa que surpreende, fazendo-a um dos escritores/as que eu classifico como textos que deveriam estar sendo estudados em sala de aula), entregando uma crônica de opinião de caráter forte, posicionamento firme. Reforço com a observação que fiz em sua coluna, a de que eu, particularmente, não concordei com todo o teor do texto, mas teve um assunto ao qual eu considero ela ter sido muito assertiva: a questão da defesa por uma grande parcela da população pela intervenção militar e consequente volta da Ditadura.

Enfim, reforço que sou completamente contra regimes autoritários ou totalitários, apesar de que nunca experimentamos o totalitarismo no país. Vivemos em uma Democracia, e nosso sistema de Governo é configurado para nosso fim, é único e não se pode comparar a tantos outros. Estamos em um país continental, com diversas culturas coexistindo, variáveis linguísticas, gastronômicas, regionalismos, climas, povos diferentes. São vários povos constituindo uma nação, e esta pluralidade é, ao meu ver, a nossa maior riqueza. Sobre o texto da Isab-El, opiniões eu digo que deve-se respeitar sempre, a menos que atentem contra nossos princípios básicos, e para mim, atentar contra a Democracia já foge do campo do respeito às opiniões. A crônica de Isab-El foi um texto de opinião bem escrito, dentro do campo da argumentação, trazendo consigo o registro histórico de um fato importante que estamos passando.

Quando escrevemos um texto, devemos estar prontos para a interpretação a que eles podem passar. Textos de opinião podem divergir as opiniões, trazendo o contraditório, bem como a boa aceitação do material escrito. O que não se pode ter são interpretações dúbias e debates ofensivos, que fogem do campo da argumentação e do respeito, levando o assunto para o lado pessoal (apesar que há pessoalidade nos textos de opinião, mas não com o foco em algo ou alguém específico, a não ser que o escritor/a tenha o claro interesse em atingir determinada situação ou pessoa), e foi isso que eu presenciei em alguns ataques dirigidos a Isab-El em função de seu texto. Ataques desnecessários, ao meu ver. O texto foi bom, não é preciso concordar com a totalidade dele para reconhecer a sua qualidade. Isab-El é uma das tantas pessoas que passaram por este tipo de situação, e dos dois lados desta polarização! Eu digo sempre, ser antidemocrático não está atrelado a nenhum lado. Esquerda, direita, centro, petistas, bolsonaristas, liberais, conservadores, progressistas, todos somos frutos da Democracia, esta que é ainda muito jovem em nosso país, estamos aprendendo, crescendo, nos aprimorando. O Anti-democrático pode ser qualquer um destes … e isto preocupa! Talvez com cultura e educação, segundo Isab-El, pode-se combater estes males, sugestões muito boas!

Bom, sobre Literatura e História … são matérias relacionadas, que andam lado a lado. Citando o exemplo desta crônica do Navalhas na Carne, o texto em sua totalidade reflete um contexto histórico, uma passagem importante de um período que deixará sua marca. Os comportamentos sociais, a variável linguística de uma época, o contexto político-social, os costumes, valores, figuras históricas. Percebem a riqueza de informação elencada? Em algumas décadas, um texto assim pode servir de fonte de informações e estudos … Barão de Itararé, Stanislaw Ponte Preta, Paulo Mendes Campos, Vinicius de Moraes, Ferreira Gullar, Lygia Fagundes Telles, Marcelo Rubens Paiva e tantos mais … ao ler estas pessoas, seus trabalhos, você embarca em uma viagem rumo à história deste país, enriquecidos por fatos históricos, costumes de época, linguagens, jargões, gírias … olha o que é ler Stanislaw Ponte Preta, a mistura de uma linguagem rebuscada, carregada de palavras pouco utilizadas e norma culta misturando-se a um coloquialismo divertido, carregado de gírias e jargões de época, ou o sarcasmo de Barão de Itararé, imortalizando um período marcante em nossa história através de sua irreverência!

Pois isso é Literatura, a arte em forma de palavras, a resistência que sobreviveu a muitas coisas, como exemplo cito a truculência do regime militar em sua fase mais nefasta, onde alguns escritores e escritoras “driblaram” o sistema, criando a Poesia Marginal, uma forma de expressão que fugia do padrão editorial, ficando “à margem” das editoras convencionais a fim de não ser detectada, fugindo da censura imposta pelo regime antidemocrático, sobrevivendo através de divulgações em panfletagens, escrevendo em postes, muros, banheiros, locais públicos, criando um movimento que sobreviveu a este período e se consolidou como um dos mais importantes em nossa história.

(*) Para ler o texto de Isab-El Cristina clique AQUI



Sandro Gomes

Sandro Ferreira Gomes, Professor de Língua Portuguesa, Conselheiro Municipal de Políticas Culturais em Gravataí/RS, Servidor Público, Porto Alegrense, admirador das belas artes, do texto bem escrito e das variedades de pensamento. 

Confiram podcast gravado com Sandro Gomes clicando Aqui


04 ANOS DE COLETIVEARTS,
CONTANDO HISTÓRIAS, CRIANDO MUNDOS
Não espalhe fake news,
espalhe cultura!


Postar um comentário

2 Comentários

  1. Sandro! Não tens ideia do bem que me fez esta tua crítica. Muitas vezes fico triste com os ataques de pessoas que eu julgava inteligentes e/ou meus amigos. Não conseguem ver a literatura antes de julgarem meu posicionamento político. Escrevo crônica como quem relata a história, claro que coloco meu coração e minha alma nos assuntos, mas antes de ser uma inimiga nas letras sou uma escritora. Tuas palavras bailam frente aos meus olhos quando lia que me consideras uma boa escritora, sabes muito bem o quão isso é importante para quem escreve com o coração na ponta dos dedos. Não escrevo para ser "simpatiquinha", escrevo para instigar o pensamento e diante de tantos ataques que tenho recebido bem como de elogios como o teu, Davidson e outros conhecidos e desconhecidos começo a crer que estou alcançando meu intento. Mais uma vez, muito obrigada. Não concordo com alguns posicionamentos teus da mesma forma que não concordas com muitos dos meus, mas isso não impede de ver nossas qualidades literárias. Ah, em tempo, teu texto além de tocar meu coração é um texto muito bem escrito, muito bem elaborado como todos os teus textos. Pena que quem gritou, xingou, teve piti e me atacou não pode ler essa crônica, pois não teve personalidade nem caráter para continuar no grupo. Bom, "enquanto os cães ladram, nossa caravana passa". Grande abraço, Sandro.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pelo feedback, Isab-El. Realmente, a arte da argumentação é para poucos; estamos passando por um período (ou será que sempre estivemos nele?) Em que muitos tentam impor sua posição, suas opiniões, sem respeitar o próximo. Textos bem escritos e argumentados podem causar repulsa a muitos! Abraços

    ResponderExcluir