DR. QUIRINO, MEU PAI
No próximo domingo, dia 13 de agosto, comemoraremos o Dia dos Pais, mas o que isso realmente significa? O que é ser pai?
É muito comum ouvirmos que “mãe só tem uma”, “mãe faz qualquer coisa pelo filho”, “amor de mãe não tem medidas”, mas será que apenas a mulher pode amar um filho deste jeito? Eu discordo. Não é o sexo da pessoa que define o quanto ela pode dar de amor a um filho. Conheço muitos homens que colocariam algumas mães no chinelo, pois são capazes de um amor tão grande que algumas mulheres, mesmo parindo seus filhos, jamais conheceriam. E tenho a honra de citar como exemplo o meu pai. O velho e simples Dr. Quirino... quem o conheceu lembra do baixinho, caminhando lentamente, falando pausadamente, sem pressa de viver, sem pressa de ser feliz, sem pressa para nada. Sua única pressa foi sempre ser presente, abrindo mão da sua em detrimento da minha vida.
O rapaz tímido que veio do interior de Rosário do Sul, com a cabeça cheia de sonhos, para morar na capital e aqui se apaixonou, casou e teve sua única filha, sua princesa, sua razão de viver. Após a separação, nunca mais casou, nunca mais teve ninguém, nunca mais teve um lar, nunca mais teve nada, mas se sentia milionário porque eu era o seu tesouro. O homem com pouco estudo, vendo que deveria ser um bom exemplo, volta a estudar e aos 59 anos se realiza como advogado, mostrando para a filha que aquela era a estrada certa.
Meu velho pai, quantas histórias eu poderia contar... Quantas coisas alegres e quantas tristes... Mas eu nunca poderia deixar de te citar em nenhuma fase da minha vida, porque tu estavas presente em todas. Não consigo lembrar de nenhuma festa, nenhum Natal, nenhum aniversário, nenhuma Páscoa ou qualquer outra data que tu não estivesse presente. Ainda hoje, doze anos após a tua viagem eu ainda te espero todo domingo, porque mesmo aos 80 anos tu pegavas dois ônibus para vir me ver. Lembro que dizias que era tua obrigação vir me ver e não ao contrário... Levaste a tua obrigação muito a sério, para ti eu ainda era uma menininha...
Pai, tu continuas sendo o meu pãe, um pai que é mais do que mãe, continuas sendo a pessoa que eu sinto falta, a calma que me acalmava, o olhar que me sustentava, a fala mansa que me ensinava... As histórias sobre Getúlio Vargas, Carlos Lacerda, Princesa Isabel, reis e rainhas, Egito, pirâmides, Grécia... Nossa, como eu viajava nas tuas histórias, meu melhor professor de história e de política... As Cataratas do Iguaçu, toda a minha vida te ouvi falar que iriamos conhecer juntos e não conseguimos realizar... As areias brancas da praia de Rosário onde me ensinaste a mergulhar, o passeio a cavalo e de helicóptero... Tudo foi magia, tudo ficou na lembrança e agora eu estou chorando, lembrando de cada minuto...
Mas a melhor lição foi no ping -pong quando colocaste dois engradados de refrigerante para que eu alcançasse na mesa (eu era bem pequena) ao jogar a bolinha em minha direção eu me assustei e me encolhi. Tu me pegaste pelos braços e me sentaste na mesa, olhando fundo nos meus olhos, falaste com muito medo, quase com raiva, para que eu nunca fugisse, para que eu sempre rebatesse a bolinha. Que mesmo com medo eu nunca poderia fugir, e gritava “rebate sempre a bolinha”. Muito tempo depois que eu fui entender que a “bolinha” eram os problemas que eu enfrentaria e que não deveria nunca me encolher.
Pai, eu procuro sempre “rebater a bolinha” . Tu me ensinaste a enfrentar todas as dificuldades da vida num jogo de ping - pong. Ainda lembro das tuas lágrimas enquanto dizia para eu sempre enfrentar tudo, nunca fugir. As vezes, como agora, está difícil de rebater a dor e a saudade, mas a tua lembrança é meu esteio e minha lição. Pena que eu não soube ser a filha que tu merecia ter. Pena que eu só te entendi quando tu já não estavas mais aqui...
Pai, eu te amo, sempre...
Isab-El Cristina Soares |
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