CONTRAPONTO

 Setembro amarelo

Estamos no mês do setembro amarelo e nunca se fez tão presente o assunto sobre o suicídio e a depressão quanto nos últimos anos. Antigamente, se pensava que evitar falar sobre isso ajudava; ainda conheço pessoas que acreditam ser melhor não falar de problemas do que tocar em assuntos delicados, porém, atualmente, estamos tendo mais clareza de que precisamos abrir, expor os casos e refletir sobre isso. A falta de diálogo é sempre o melhor e mais rápido caminho para o fracasso.

Semana passada, escutei uma palestra espiritualista sobre o tema suicídio. A psicóloga falou de forma linda, leve e direta, mas, no espaço aberto para comentários, muitas pessoas se manifestaram contando que tentaram tirar a própria vida e o quanto foi necessária a intervenção de conhecidos. Acredito que outras tantas bocas caladas também tinham histórias para contar, porém o tabu de se admitir ter passado pela beira desse precipício ainda é presente.

Não existe idade, nem raça, tipo físico ou algo que restrinja a possibilidade da depressão chegar. De crianças bem pequenas até idosos, todos têm essa chance. Não podemos mais fechar os olhos, lavar as mãos ou julgar quem passa por essa dor, tudo que podemos fazer é oferecer nossa ajuda e fazer o que for possível para que ninguém se sinta mais sozinho ou isolado.

Uma das minhas maiores preocupações, durante a palestra, foi as crianças. No meu trabalho, presencio e já presenciei muitas crianças bem pequenas com sintomas alarmantes de depressão. Nem sempre os casos eram relacionados a maus tratos familiares. Muitos estavam relacionados a excesso de zelo e falta de incentivo à autonomia. Comentei sobre a minha preocupação, quando foi aberto o espaço para perguntas, e a palestrante me respondeu - em resumo - que posso dar amor, dentro dos meus limites de professora.

Concordo plenamente. O amor pode estar num olhar verdadeiro, numa escuta com atenção, numa palavra afetuosa e sem julgamentos, numa empatia.

Que nesse setembro amarelo, outubro, novembro - enfim, de janeiro a janeiro - possamos lembrar que não sabemos os pesos que os demais carregam e podemos responder, sim, com mais gentileza, até mesmo àqueles mal humorados e de cara fechada que cruzam por nós. Que possamos lembrar, também, de pedir ajuda, de não temer sobrecarregar ninguém e que somos o país de maior caridade do mundo, portanto estamos sempre esbarrando em pessoas que não pensarão duas vezes em nos socorrer se nos aproximarmos e dissermos “estou muito mal e preciso conversar”. Que possamos nos escutar com aquele olhar que acolhe e socorre, longe de julgamentos e cobranças, pois ninguém cumprirá nossas demandas e correrá no nosso tempo. “Temos nosso próprio tempo”.


Miriam Coelho

Miriam Coelho é artista das imagens e das palavras.

CINCO ANOS DE COLETIVEARTS,
CONTANDO HISTÓRIAS, 
CRIANDO MUNDOS!
#SETEMBROAMARELO

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1 Comentários

  1. As pessoas corretas, sinceras, são as mais propensas à depressão? Penso que sim, pois, desiludidas, perdem a noção.
    As pessoas más, irresponsáveis, são propensas ao suicídio? Penso que sim, pois, derrotadas, não tem a quem recorrer.
    Às vezes imagino que o ser humano só se separa do irracional por um tênue fio corrompido, e nos momentos angustiantes, arrependidos, negativos, usa de sua consciência para atuar na inconsciência.
    Seria por aí, nobre Escriba?

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