Quando não se cabe em si…
Dizem que a boca fala, aquilo que o coração transborda, será?
E quando a gente não fala, pra onde vai tudo aquilo que a gente cala?
Setembro é o mês d prevenção ao suicídio, e apesar de já ter abordado o tema aqui, apesar do receio da superficialidade, acho que sempre é bom refletir sobre.
Dias atrás, a dor da depressão, quase vitimou alguém pertinho de mim, e o que mais me entristece e me deixa com sentimento de incapacidade, é que de novo, ninguém percebeu. Poucas horas antes, havia sorrisos, violão, música e muitas histórias junto da família.
A gente pensa, que por estar em tratamento, por fazer terapia, estar com medicação em dia, o perigo corre longe, mas muitas vezes, o perigo está justamente aí, na segurança que isso nos trás.
Quando nos bate a ansiedade, a sensação que temos é de não caber em si mesmo. A angústia toma conta, os longos suspiros denunciam a dificuldade em acalmar a mente, em desacelerar o coração, que muitas vezes acaba em arritmia e falta de ar. Parece que nada que se faça é suficiente, e muitas vezes, falar não nos parece uma possibilidade. Seja por falta de apoio, por vergonha ou simplesmente por não saber nomear o que se sente.
A causa da ansiedade e da depressão nem sempre são claras, muitas vezes nem mesmo a gente sabe explicar. São aquelas vivências que ficam guardadas no inconsciente, mas que deixam marcas que não conseguimos administrar.
E foi numa dessas crises, que um único comprimido não se fez suficiente, que levou "A" de 20 anos, tentar tomar outro e outro, e mais um, até que fosse a cartela inteira durante a madrugada. E aquilo que era pra ser um auxílio, quase vira a foice da morte.
Aí tu pode pensar, que isso era óbvio, que tudo em excesso faz mal, que foi loucura. Sim! Foi…
Mas a dor do momento foi tão forte, e ficou tão acentuada com a solidão da madrugada, que isso nem mesmo lhe passou pela cabeça.
Naquele momento, tudo que "A" queria era dormir, aquietar a mente e esquecer daqueles pensamentos que o atormentavam.
O resultado não poderia ser outro, após internação e dois dias "fora do ar", o retorno pra casa é difícil, o medo de acontecer novamente atormenta todos ao redor e agora é necessário que se repense nos cuidados com a medicação.
Essa história me fez repensar em muitas outras que a gente conhece, e lembrei da fala de um psicóloga que dizia:
"Quando se tenta suicídio, a pessoa não quer acabar com a vida, ela quer acabar com a dor."
E isso fica tão evidente nesse caso, que quando percebeu o que tinha feito, "A" pediu socorro.
Isso não é fato isolado, e serve para que a gente fique atento, e preste mais atenção ao redor.
Para quem passa por uma depressão, é importante que além de terapia e uso da medicação, se tenha uma rede de apoio, alguém que saiba que mesmo que não saiba explicar, tem com quem contar. Além disso, outros recursos podem auxiliar, Se nomear sentimentos não é possível e falar é difícil, a arte pode ser uma saída.
A arte é uma forma de expressar - se, pode ser através de uma escrita, um desenho, pintura ou quem sabe uma música? Até mesmo a rede pública de saúde, faz uso desse recurso em seus grupos de saúde mental, é uma maneira de pôr pra fora, aquilo que nos angustia.
A quem é rede de apoio, é importante que se esteja atento, que esqueça os julgamentos, que saiba respeitar a dor do outro e saber que às vezes se fazer presente é simplesmente sentar e deixar que role o pranto.
Muitas vezes, um abraço ajuda muito mais, que muito conselho.
Seja qual for tua dor, lembre Sempre há uma saída.
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D'Anjo |
D'Anjo é gaúcha, educadora, controversa e gosta de brincar entre rabiscos e palavras.
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