CONTRAPONTO

De mala e cuia

Depois de um mês de férias das artes e da coluna, retorno hoje com minhas opiniões nada definitivas, mas apenas reflexivas do momento - sempre considerando que somos eterna metamorfose. E é exatamente sobre a metamorfose que quero falar nessa abertura de ano. Já sentiu, em algum momento da sua vida, o desespero ao perceber que algo à sua volta estava mudando? Já mexeu em um cômodo interno da mente e desencadeou movimentações nos demais objetos guardados? Já mudou de moradia e sentiu um completo pavor, ao se ver dormindo num ambiente desconhecido, talvez numa cama estranha e com uma escuridão logo à frente no futuro, sem saber o que virá?

Mudanças são muito boas, quando estão no nosso controle (mas a maioria não está!). A falta de jurisdição sobre as transformações nos deixa estressados, com medo e completamente desorganizados emocionalmente, com os sentimentos a mil km/h! Voltamos à infância, quando - em algum momento - nossos pais nos deixam com estranhos contra a nossa vontade utilizando explicações às quais não entendíamos (trabalhar, médico, estudar, etc). Regressamos à pergunta “o que será de mim?” e não existem opiniões alheias que nos traga conforto, porque fomos desacoplados do comum. Algo nos empurrou para fora do nosso canto ainda aquecido pelo calor da nossa inércia, mesmo que ruim, nos obrigou a esticar as pernas e rever algo melhor.

Era bom, era ruim, mas era nosso! Vem a dor da separação e as reconsideração de retorno. Contudo, o que é nosso de verdade? O que legitimamente nos pertence? Nossos pais? Nossos filhos? Nossos animais? Nossas moradias? Nossos carros? Nossos objetos? Nossos empregos? Nossos corpos? O que iremos levar para onde formos, seja em qualquer canto do mapa ou para os outros universos pós vida? Talvez o real desespero de vazio não esteja na perda das coisas ou das pessoas, talvez seja porque o que mais importa não está sendo alimentado - nossa alma.


Miriam Coelho

Miriam Coelho é artista das imagens e das palavras.

CINCO ANOS DE COLETIVEARTS,
CONTANDO HISTÓRIAS, 
CRIANDO MUNDOS, CRIANDO
CONTRAPONTOS!


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