TRANSVIADA, o olhar que desafia

 Carnaval, carnaval, carnaval. 

Eu me irrito quando chega o carnaval

Todo ano é a mesma coisa, chega fevereiro, com ele baterias, fantasias e muita batucada. 

Lá no início dos anos 2000, um dos hits do carnaval ecoava pelos salões 

“Não leve a mal, tudo bem ô rapaz

Ei, você aí de cima

Entre outras coisas que eu quero saber

Por favor, me ensina

Como esse povo que sofre com fome, que passa mal

Vai batucar na panela vazia e fazer carnaval”

A música, Deus é brasileiro do grupo Terra samba, marcou minha adolescência e me fez parar pra pensar

Não importa o mal que nos aflija, não importa o tamanho da desgraça, o carnaval é o momento em que pegamos a tristeza jogamos pra cima e deixamos que se espalhe como confetes, na esperança de que ao menos por quatro noites, os ventos a levem pra longe. E isso, não é de hoje.

O carnaval no Brasil, começa lá no tempo colonial, onde a festa de ESCRAVOS com a cara pintada, consistia em sair às ruas jogando farinha e água de cheiro nas pessoas. 

Diferente do que se vê  hoje, não tinha música. Assim como hoje, o senhorio via a festa como uma agressão e acabou sendo criminalizada no início do séc XX.

Com isso, a elite passou a comemorar a festa em clubes fechados ( lucrando e selecionando público) com música e o uso de máscaras e daí por diante, a evolução da festa para o que conhecemos como carnaval nos dias de hoje.

Bom, a festa evoluiu, mas não evoluiu sozinha, com sua evolução, o preconceito também ganhou fantasia, foi mascarado e por alguns, chamado de crença ou religião.

Não entendo a energia gasta contra o carnaval, sempre acreditei que respeito é via de mão dupla e pôr ele em prática , faz com que a vida de todos fique mais leve. 

Todo ano é igual, os ataques de religiosos contra o carnaval, entopem as redes sociais  com a circulação de vídeos e muito texto. E pra mim, me desculpem, não tem nada a ver com religiosidade.

Aprendi com o tempo, que não vale a pena tentar debater, que não conseguimos iluminar, alguém que teme a luz.

E mesmo tendo consciência disso, vocês não fazem idéia da irritação que me causa esse povo.

Carnaval de 2024, e quando penso que já vi de tudo, em Salvador ao parar o trio em frente ao camarote de Baby do Brasil para cumprimentá - la, Ivete foi surpreendida com sua fala sobre o apocalipse e arrebatamento. 

Isso gerou muita comoção nas redes. Há quem concorde com Baby, quem utilize sua fala para apoiar seu preconceito e existe aqueles que como eu, ainda estão procurando onde foi parar sua noção.

Não era hora, foi inconveniente, mas deu Ibope!

E me parece - e me desculpem os que não concordam - que é disso que se trata, é ganhar Ibope, e que isso gere novas ovelhas ao rebanho. 

Não sou contra religião nenhuma, sou contra a forma que fazem um negócio lucrativo da fé das pessoas.Assim como sou contra que usem a religião para atacar, fiscalizar e julgar a vida do outro.

Em entrevista, Baby disse se arrepender, que não pensou, apenas ouviu a voz de Deus e decidiu passar a mensagem.

Não vou julgar a percepção religiosa sob o apocalipse, mas pra mim, o apocalipse tá rolando faz tempo. 

Começou quando permitimos que uns tivessem tanto, enquanto outros passam fome nas ruas. Quando nos calamos, diante grades e bancos Antimendigo, impedindo que moradores de rua, se protegessem do tempo ruim. Sabe lá, quando se vendeu a ideia de que aquecimento global e efeito estufa eram bobagem, que na verdade era uma forma de controlar o povo? Isso sim  foi o início do apocalipse. 

Mas lembra dos confetes? Isso é Brasil. Não que a gente não se importe, não que não exista uma preocupação, mas é hora de jogar pra cima e deixar que o vento leve. 

A atitude de Baby, trouxe desconforto a Ivete, e uma enxurrada de comentários maldosos, inclusive sobre a religião da cantora. Em um vídeo da Pastora Sarah Sheeva, filha da cantora, ela diz que Ivete foi infeliz na resposta, por não conhecer nada de “biblês” , já que era declarada sua religião de matriz africana.

Fico observando cada nova notícia, cada novo comentário, perplexa e aí lembro de um outro trecho da música:

“Deus não pega ônibus nem lotação

Mas deve ouvir pedidos e reclamação

Não tem nem cor nem sexo nem estado civil

Coitado se ele for o gerente do Brasil"

Arte:  Heros Elliot


Deus é Brasileiro:



D'Anjo

D'Anjo é gaúcha, educadora, controversa e gosta de brincar entre rabiscos e palavras.

CINCO ANOS DE COLETIVEARTS,
CONTANDO HISTÓRIAS, 
CRIANDO MUNDOS!





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