Cheiro de Marias
Depois daquela noite
Ela nunca mais foi a mesma
Ela cresceu, amadureceu... e morreu...
A carne doía enquanto ela caminhava
E chorava:
- Deus! Pq eu não morri?
Lembranças ocupavam sua mente...
Ela vencera o ensino fundamental e médio
E com dificuldade entrara para a universidade
Trabalhava de dia e estudava a noite
Descia do ônibus e caminhava quatro quadras
Ela não sabe como foi jogada no chão
Nunca percebera aquela quadra de terreno baldio
As palavras do seu pai ecoavam em seu ouvido
E ela não entendia pq
Ela sempre usou decotes, saia curta, roupa justa
Onde está o direito da mulher?
A mulher que trabalha, que se defende
Que grita, que exige
Tem um punho enfiado na boca
E um homem enfiado em seu corpo
Ela tenta gritar... sua voz sai num sussurro
Tem uma arma na sua cara
E a bofetada a cala de vez...
Mas ela disse um não...
E esse não deveria ser ouvido
Ela poderia andar nua na rua
E ter sua vontade respeitada
O corpo é dela, e ela não pode usar a roupa que quer?
Sempre terá alguém para dizer:
- Ela tava pedindo... com aquelas roupas...
- Aquela hora na rua...
- Bebendo cerveja num bar...
Porra, meu!
Com todos esses direitos conquistados
Ela ainda teria que usar uma burca?
E mesmo de burca ela é estuprada
Ela disse: NÃO
Ela não queria aquele sexo
Mas aquele nojento a tomou como quem toma posse de um objeto...
E matou a mulher que nela existia...
Deixando sangue no chão com cheiro de maria
Quantas marias não estarão sendo estupradas neste momento?
Estamos no século XXI e ainda vivemos no medo?
Eu tenho medo de sair de noite
Pq o NÃO que ela gritou
Ainda é audível dentro de cada uma de nós
Somos todas... marias...
Texto: Isab-El Cristina |
Arte: Thaís Fontoura |
1 Comentários
Comovente o texto...
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