UM POUCO DE HISTÓRIA

A Terapia da Escrita

Quando Sigmund Freud desenvolveu seus estudos sobre a “alma humana”, como dizem alguns a “psique”, este ser que existe dentro de nós e que ao mesmo tempo é nós mesmos, no seu conflito dialético entre o Id, esta força vital inconsciente motivada  por impulsos diversos, entre eles o sexual (a libido) e o Superego, aqueles valores morais construídos nas relações sociais, que são históricas, portanto, mutáveis, que reprimem estas vontades/impulsos do Id, nos mostrou uma outra compreensão da vida em sociedade. As civilizações, com suas normas de convivência, freiam as vontades do Id, possibilitando às pessoas, por exemplo, andarem nas ruas sem serem molestadas sexualmente ou agredidas fisicamente e, quando tais fatos ocorrem estes são considerados crimes. Neste conflito entre Id, que tudo quer, e o Superego que diz “é proibido”, o Ego se espreme entre a liberdade dos desejos e as grades da moral, residindo neste conflito a razão para tantos ocuparem as salas de espera nos consultórios dos terapeutas. O psicanalista Hélio Pellegrino, juntamente com outros intelectuais, levantou-se contra a ditadura civil militar que se instalou no poder em 1964, tornando-se uma referência na defesa da democracia como uma relação de convivência social muito mais saudável do que a tirania ditatorial reinante. A opressão do regime autoritário, refletido inclusive nas relações familiares e afetivas (se é que podemos chamar uma relação tóxica de dominação e assédio moral como afetiva), influencia no adoecimento do Ego, desequilibrando o já delicado malabarismo que cada um faz entre o Id e o Superego dentro da sua cabeça. (É possível ser feliz numa sociedade onde há tantas injustiças? Certamente quem tem consciência da realidade social e luta contra as injustiças é mais feliz do que aqueles que sofrem calados).

A Psicanálise, não sou da área, mas tenho lá as minhas leituras, busca principalmente na própria pessoa os caminhos para uma vida melhor, “conhecendo-se a si mesma”, aprendendo a administrar seus traumas, sabendo das suas origens e como levar a vida de uma maneira mais feliz, construindo um futuro sem esquecer o passado, mas, ao mesmo tempo, não sendo escravizado pelos traumas vividos/sofridos (não há vida sem traumas, nascer já é traumático). Já ouvi gente irritada ao dizer: “putz, 45 minutos de consulta e eu falei mais de 40 e paguei para o  analista me escutar”. Ter alguém para nos escutar é uma grande necessidade que todos possuímos. Alguns psicólogos, entre eles Eduardo Mascarenhas, costumavam dizer que a confissão dita ao pé do ouvido do padre, na segurança do segredo do confessionário, equivale, na prática, a uma consulta no psicanalista, afinal falar sobre si mesmo é revelar-se a si mesmo.

Aliás, escrever também é um ótimo recurso para colocar as ideias em ordem, tentar entender os sentimentos, segurar a onda das ansiedades. “Conhece-te a ti mesmo”, já dizia Sócrates como o máximo da sabedoria, e mesmo ele não havendo escrito nada, podemos usar a escrita como parte deste autoconhecimento. Concatenar ideias e fazê-las fluir de forma coerente no papel não é tarefa fácil e nem ocorre de forma espontânea, como peidar dormindo. É preciso esforço, romper a acomodação e ir além das selfies sorridentes no celular ou aqueles emojis que dizem tudo e, ao mesmo tempo, nada, porque substituem o que poderíamos escrever ou falar à pessoa amada (ou odiada). Vivemos numa época em que os toques na tela são o nosso contato com o mundo e com o conhecimento. E a leitura dos livros? Aquela porta aberta para um mundo além da nossa caverna, cujas luzes das telas dos celulares nos mostram uma realidade recheada de fake news, refletida nas paredes, como se fosse a única realidade? Sair da caverna e ver o mundo é imperativo! A leitura e a escrita são grandes ferramentas para viver esta aventura. Quem tem ou já teve um diário sabe dos efeitos terapêuticos que existem no ato de colocar os sentimentos e angústias no papel e, depois de ler com calma, se dar conta que os problemas não são tão grandes assim, ou, em outras palavras, ver que o bicho, afinal, não é tão feio e nem tão forte que não possa ser vencido. Leia e escreva, é difícil no início, dói um pouco, mas depois a gente se acostuma e até acaba gostando. (Não se sinta culpado por sorrir maliciosamente, frases de duplo sentido tem este efeito.)

Interessante observar como exemplo do autoconhecimento através da escrita a imensidão de poemas e literatura em geral produzida ao longo da história. É inegável que estas manifestações foram catarses realizadas pelos seus produtores. Um poema de amor, por exemplo, é a expressão de um sentimento que se não for manifestado talvez não seja suficientemente compreendido pelo seu autor (o amor pode ser compreendido na sua totalidade tamanha a sua complexidade quando nos arrebata o coração do peito e nosfaz perder o juízo?) Escrever, neste sentido, é um exercício de autoconhecimento, é compreender a si mesmo e, quem sabe,  aceitar-se e ver o mundo e a vida com outro olhar e assim reconhecer o outro como seu semelhante, o que não significa aceitar tudo o que tem por aí, afinal “chapéu de fascista é marreta”.

Até a próxima, “se Deus quiser e o Diabo deixar”.


NESTOR OURIQUE MEDEIROS

"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

COLETIVEARTS, 06 ANOS DE VIDA,
CONTANDO HISTÓRIAS, 
CRIANDO MUNDOS!


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