CRÍTICA
O último suspiro do cangaço
“Mataram Lampião…mas outros Lampiões aparecerão…” Revoada, longa- metragem com estreia em 15 de agosto de 2024, traz uma abordagem diferenciada sobre a história de um grupo de cangaceiros que, com a notícia da morte de Lampião, vê- se sem rumo e busca uma empreitada considerada kamikaze a fim de saciar sua vingança contra o coronelismo nordestino e os “macacos”, que partem no seu encalço, dando fim, assim, ao banditismo cangaceiro.
Com uma fotografia instigante e que retrata a paisagem do nordeste do país, o diretor José Umberto Dias opta por uma quase metalinguagem, ao explorar na história desse pequeno grupo várias referências a diferentes épocas e estilos cinematográficos, chamando a atenção especialmente a influência do Cinema Novo na sua obra. Com diálogos pautados algumas vezes por ditados populares, é palpável a intenção do diretor de trazer a essência nordestina e sua cultura exuberante para dentro das relações entre os componentes do grupo e também com aqueles que atravessavam o seu caminho.
Dias trouxe com destaque para as cenas a saga de captar a alma humana que defrontava-se com a perda do seu líder maior, Lampião, e as diretrizes que agora teriam que tomar, tomados pelo terror do fim próximo, da loucura que abeirava-se dos seus destinos e também da vingança alimentada e desejada pelos últimos companheiros de ideal. Isso fica em evidência, e por vezes de maneira bastante teatral em intensidade (o que um cinema mais “palatável” não ousa fazer), o que de modo nenhum diminui o sofrimento de tais personagens. Os cortes de cena causam no espectador um desconforto só compreendido mais adiante, acompanhando a angústia que se apodera do grupo de cangaceiros, da falta de um raciocínio mais claro e estratégias mais lógicas de ação, que, pouco a pouco, vão se tornando escassas, colocando-os na alça de mira dos macacos (policiais), pela incapacidade de encontrarem saídas possíveis para continuarem vivos.
Revoada é um filme inspirado em fatos reais, que não se preocupa em romantizar o cangaço, mas sim, dar-lhe uma revisão, um entendimento contemporâneo sobre a quebra de correntes, sobre a resistência de grupos marginais que não concordavam com a postura ditatorial do coronelismo nordestino, e que não mediram esforços para defender seus interesses, mesmo que para isso vidas fossem sacrificadas. É um importante olhar para um pedaço da história do país, ainda que se mostre sob uma cortina de ficção. Assista levando em consideração todas as referências cinematográficas e um olhar amplo sobre as perspectivas propostas sobre a história do cangaço, sem julgá-la ou condená-la, mas refletindo em que medida, ainda hoje, novos cangaços se apresentam em várias partes do Brasil, trazendo novos Lampiões sob outras roupagens.
Estreia nos cinemas brasileiros dia 15 de agosto de 2024.
Duração: 85 min | Ficção
Classificação indicativa: 16 anos
Instagram: AQUI
Direção e roteiro: José Umberto Dias
Elenco: Jackson Costa, Annalu Tavares, Edlo Mendes, Nelito Reis, Aldri Anunciação, Gil Teixeira, Caio Rodrigo, Nayara Homem, Bernardo D’El Rey, Sérgio Telles, Christiane Veigga e Carlos Betão
Produção Executiva: Walter Webb
Direção de Fotografia: Mush Emmons
Som direto: José Melito
Música: João Omar
Montagem: Bau Carvalho, Severino Dadá, André Sampaio
Direção de Arte: Zuarte Júnior
Produção de Finalização: José Walter Lima
Pós-produção de Imagem: Cinecolor Digital, Samanta do Amaral
Pós-Produção de Áudio: Estúdio BASE, Eduardo Joffily Ayrosa
Produção: VPC Cinemavideo
Distribuição: Abará Filmes
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Para ler entrevista como direto e roteirista José Umberto Dias, clique AQUI
TRAILER:
Patrícia Maciel |
Patrícia Maciel é Doutora em Educação pela Unilasalle/RS; Mestre em Artes Cênicas pela UFRGS, com pós-graduação em Psicopedagogia pela UNIASSELVI/ RS; Gestão Cultural pelo SENAC-RS; Língua, Literatura e Ensino pela FURG, e Arteterapia pela Famaqui/RS; graduada em Teatro- Licenciatura pela UFRGS. Atua como docente e pesquisadora na área de Artes e Educação, principalmente nos segmentos de artes, teatro, educação e formação de espectadores. Desenvolve pesquisa em pedagogia da Arte, processos criativos e escrita criativa. Membro fundadora do grupo ColetiveArts, atuando na área de escrita literária.
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