PAI, MEU ORGULHO
No próximo domingo comemoramos o Dia dos Pais. Muitas casas fazendo almoço em família, muita alegria.
Em novembro de 2009 o Dr. Quirino me deixou só, foi advogar em outra instância de outra estância e desde então o segundo domingo de agosto tem sido cinzento, triste.
Não tenho lembrança de comemorar esta data com ele morando conosco, mas lembro que desde muito pequena eu o esperava ansiosa na sacada. Eu corria escada abaixo para lhe entregar um cartãozinho feito no colégio, geralmente em folha A4, juntamente com um presentinho singelo. O sorriso dele se abria, enquanto ele apertava os lábios na tentativa de esconder os dentes imperfeitos, seus olhos brilhavam intensamente.
Eu cresci, infelizmente eu cresci. E a correria dos estudos, trabalho, casa, marido, filhos roubaram um pouco do tempo que eu dedicava a ele. Mas o velho Quirino nunca deixou que nada roubasse o seu tempo para mim. Todo domingo, fazendo sol ou chuva, frio ou calor, era sagrado, meu gnominho (como eu o chamava carinhosamente por ser baixinho, gordinho e muito calmo) vinha de Porto Alegre, dependendo de dois ônibus, só para me ver.
Ele já beirava os 80 anos e nunca se sentiu velho. Um dia eu lhe disse que já era hora de eu ir vê-lo e ele disse que eu tinha outros compromissos e que o domingo era importante para me preparar para a próxima semana. Que era obrigação dele vir me ver e não o contrário. Para ele a responsabilidade dos pais era eterna e por isso sempre foi um pai muito presente.
Com o caminhar cadenciado, devagar, fala mansa, e olhar doce que o Dr. Quirino se transformou no aluno exemplo da PUC ao se formar em Direito aos 60 anos de idade. Eu sempre disse que esse era o seu maior feito e ele me corrigia, para ele o seu maior feito ainda era a única filha .
Num dia 16 de novembro, com a mesma discrição que viveu, odiava chamar atenção, foi embora deste mundo contando piada para os colegas na eleição da Ordem dos Advogados do Brasil. Foi embora com a certeza de dever cumprido. Mas não sem antes ligar para o amor da sua vida, eu, só para me dar um beijo.
Pai, tá doendo muito e cada dia doi mais. Eu queria ter te entendido mais, ter te amado mais, ter te demonstrado mais o meu amor, mas sempre fui uma “ogra”.
Meu cartãozinho já está pronto, pai. E no domingo eu me sentirei novamente aquela menina correndo escada abaixo da casa da Cel. Bordini, sorrindo e gritando: - O pai chegou!
Até breve, meu velho!
Isab-El Cristina Soares |
12 Comentários
Lindo e de chorar ...
ResponderExcluirObrigada.
ExcluirEntendo muito bem esse sentimento com relação ao teu Pai. Embora eu tenha tido o privilégio de viver com o meu pai sempre, mas ele morreu muito cedo, aos 49 anos.
ResponderExcluirObrigada pelo retorno. Isab
ExcluirEntendo muito bem esse sentimento com relação ao teu Pai. Embora eu tenha tido o privilégio de viver com o meu pai sempre, mas ele morreu muito cedo, aos 49 anos.
ResponderExcluirMuito jovem mesmo. E como nos faz falta, né, Marli? Obrigada pelo retorno. Isab
ExcluirMeu pai se foi aos 46 anos, eu tinha 20, e estávamos naquele momento de falar coisas parecidas. Seu Waldemar era Motorista de ônibus e caminhão, sua vida era nas estradas do Brasil, mas os últimos 3 anos em função da doença o trouxeram pra casa e a doença levou. A saudade é grande.
ResponderExcluirWaldemar Max
A saudade dói. Obrigada pelo retorno. Isab
ExcluirMeu pai,minha mãe sempre fomos recíprocos um com o outro,mas sempre penso q qta coisa poderia ter feito mais e mais,gratidão 🙏
ResponderExcluirEu sempre me pergunto porque não fiz mais. Não sabia que a finitude estava tão perto. Obrigada pelo retorno. Isab
ExcluirLindo texto Isab, parabéns, não tem como não se emocionar.
ResponderExcluirFoi dolorido escrever. Queria que ele pudesse ler... Obrigada pelo retorno. Isab
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