O UNIVERSO CONTA


 A Melodia do tempo

Parte 1


A noite estava estranhamente quente. Da janela do quarto, Manuela sentia uma energia diferente invadindo sua alma. Enquanto olhava para o céu e buscava uma solução para seus empasses, algo estava diferente e gritava dentro do seu peito.

Colocou os pés descalços na grama. Sentiu as cócega nas palmas dos pés subindo pelo seu corpo e, aos poucos, se transformando em energia para caminhar. Fechou os olhos, inspirou o ar quente, expirou a energia condensada em seu corpo e - como se tivesse um novo combustível - embrenhou-se no mato carregando apenas uma velha lamparina consigo.

Caminhou sem rumo pela pela densa floresta, com os ouvidos bem atentos a paz que emitia a ausência de humanos. Já não tinha mais medo, tão pouco pensava em sua própria história que a atormentava dia e noite. Poderia perder-se para sempre naquela noite maravilhosa, pois estava no mais  próximo do paraíso. Não havia mais racionalidade, sensatez ou responsabilidades, apenas ela, a noite e a natureza.

Manuela seguia uma trilha de barro, em meio à vegetação densa. A racionalidade, lá no fundo, mandava-lhe voltar, mas seus sentimentos pediam para seguir, pois havia algo de importante para fazer em algum lugar e precisava caminhar. Sentia-se, há muito tempo, presa em uma sala de espera, esperando algo ou alguém chamar-lhe para viver. Cansara de esperar, era como se tivesse levantado do velho banco já marcado pelo seu corpo quente e decidido ir por conta própria à vida.

De repente, estranhamente o farfalhar das árvores dera lugar a uma belíssima melodia. Ela parou no lugar. Quem tocava àquela hora e tão perto dela, mas longe do mundo? Manuela arregalou seu olhar, girou em torno de si com muita curiosidade, tentando iluminar o horizonte. De onde viria tal canção? Estava sonhando? Vinha de sua mente? Reconheceu o instrumento: era um violino. Um violino no meio da floresta? Eram tantas perguntas.

Seu ouvido apontou a direção, firmou-se nos calcanhares, baixou a lamparina e seguiu caminhando, tentando encontrar a origem de onde vinha aquele belíssimo som. Cruzou um sutil riacho com os pés descalços, tocando as pedras esculpidas pela água. A lama saía conforme caminhava pela vegetação rasteira, pois não havia mais trilha. O som ficava mais alto a cada passo e seu coração batia com mais intensidade, precisava sanar sua curiosidade.

De repente, ao longe, a jovem avistou alguém, encostado em uma árvore, tocando com muita paixão apenas para a natureza. A jovem não podia distinguir muito bem, mas foi se aproximando lentamente, hipnotizada pelos acordes. Foi quando estava há alguns metros de distância, que sua lucidez fora questionada. Estava sonhando? Pois não era uma pessoa tocando o violino!

O que seus olhos identificavam era uma árvore, que ganhou vida da cintura para cima, com feições humanas, tocando um velho e antigo violino surrado. Manuela ficou assustada, duvidando de si mesma, pois aquilo só poderia ser um sonho! Contudo, continuava se aproximando da estranha criatura, que a percebera, no entanto, insistia em tocar sua melodia, como se também estivesse encantada.

A cada passo, ela podia observar o olhar triste que carregava o ser encantado, tocando sua canção. Suas feições e acordes carregavam uma profundidade simbólica muito única, algo aconteceu para que aquela música e aquela árvore existissem. O que poderia ter sido, se perguntava a garota.

Foi apenas no momento em que ambos estavam frente a frente, que o ser mágico cessou sua canção e, por alguns instantes, permaneceram se  olhando em silêncio. Ela estava espantada, mas ele a fitava com um olhar triste e sereno.

- Você é real ou estou sonhando? - indagou a garota, quebrando o silêncio.

- Você não está sonhando, sou completamente real. - respondeu.


Continua no próximo sábado ...


Miriam Coelho


"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

COLETIVEARTS, 06 ANOS DE VIDA,
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