O UNIVERSO CONTA

 

A Melodia do tempo

Parte 2

Manuela sentia dentro de si que o momento de mudança da sua vida chegara e agora que estava frente a frente com ela não tinha certeza se queria continuar. O medo tomara conta da jovem.

Caminhou alguns passos para trás, mas deixou a lanterna cair e tropeçou em uma das raízes de árvore, indo para o chão. Ao mesmo tempo que seu corpo algo lhe dizia para levantar-se o mais rápido que podia e correr, outra parte disse para ficar, pois já era tarde!

- Não tenha medo, não vou machucá-la. - disse o ser encantado.

- Q-quem é você? - indagou ela, gaguejando.

- Pode me chamar de Art. - seu nome ecoou na floresta e na alma de Manuela. A jovem ergueu-se, invadida por uma nova força, caminhou novamente até o homem na árvore e o cercou com curiosidade, analisando cada aspecto seu. Era uma árvore com formato humano em partes, porém imóvel, como se um homem fosse grudado num tronco e se tornado parte da floresta.


À medida em que ela analisava seus detalhes chegando a tocar em alguns galhos com curiosidade, fora perdendo o medo. Não era mais ela mesma. Sua coragem em estar ainda ali parecia ter expulsado seu espírito do corpo e dado lugar a outro. Quando voltou-se frente a frente de Art, disse:

- Sua música era linda. Desculpa se me assustei… não esperava…

- Conhecer alguém como eu.

- Isso. - respondeu, pensou e continuou - Agora que o vi, algo me acontecerá?

- Não. Afinal, não posso sair daqui. - ele disse, direcionando suas mãos às raízes - e mesmo que pudesse, por que faria isso?

- Você não tem poderes mágicos?

- Não… - ele sussurrou, enquanto retomava o violino na posição de outrora - eu apenas estou eternamente preso aqui e destinado a tocar minha música para o nada e quem quiser me ouvir. - finalizou, antes de iniciar uma nova melodia.

Manuela enfeitiçou-se novamente pelos acordes bem tocados. A melodia era tão triste e profunda quanto a anterior, mas ainda assim era belíssima. Sentou-se no chão, recostou as costas em uma pedra próxima, enquanto Art tocava novamente. Algumas músicas tocaram, entre pausas pontuadas por elogios da jovem. Ele tinha um destino cruel. Pelo estado do violino, era nítido que estava ali há muito tempo. Tanto que perdera qualquer esperança. Ela passou a sentir uma semelhança entre ambos. Estavam presos e sozinhos.

Quando o sol dava seus primeiros sinais, Manuela ergue-se do seu lugar. Perdera a noção do tempo! Precisava voltar para casa antes que descobrissem sua ausência, porém seus pés não queriam obedecê-la. Olhou para Art com pesar:

- Se eu for agora, nos encontraremos novamente?

- Estarei sempre aqui… - disse ele, ainda com seu olhar triste.

A jovem juntou sua lanterna, despediu-se do homem na árvore e se afastou. As folhas das árvores ao redor pareciam cair magicamente sobre ela, despedindo-se enquanto ela se dirigia para o riacho que atravessara. Porém ela sabia, do fundo da sua alma, que aquele não era um adeus. Um laço invisível a conectava com aquele ser e a história estava apenas começando. Esse laço a puxava a cada passo que tinha de dar. Aquela talvez, fosse a mudança que previra sua vida inteira, o destino que estava previsto antes do seu nascimento, qualquer que fosse.

Chegou em casa quando o sol estava nascendo. Entrou pela janela do quarto, deu a última olhada para a floresta atrás de si, prometendo que voltaria. Apagou a lamparina e deitou-se em sua cama com o estômago revirado e o coração acelerado. Era tudo verdade ou sonho? Adormecera.

Continua no próximo sábado ...


Miriam Coelho



"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

COLETIVEARTS, 06 ANOS DE VIDA,
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