ARTE E CULTURA

LUCIO FILLIPPUCCI, UM ARTISTA FANTÁSTICO

Prosseguindo na nossa IV Cavalgando com Tex, trago ao leitor Texiano uma entrevista com um dos maiores desenhistas italianos em atividade Lucio Fillipucci, um verdadeiro estilista do traço.Dono de um estilo inconfundível, foi extremamente gentil e educado, mostrando que também é um estilista com as palavras, confiram:

LUCIO FILLIPPUCCI

JORGINHO: Como o Lucio Fillipucci se define?

LUCIO FILLIPPUCCI: Como posso me definir? Cartunista e ambientalista. Eu desenhei quadrinhos toda a minha vida, portanto, a primeira definição é óbvia, e ambientalista porque dedico parte do meu tempo para proteger o meio ambiente, além de ajudar minha esposa no  jardim botânico que ela criou, um jardim botânico que é aberto ao público. Então, em geral, eu, os cartunistas, podem se autodenominar artistas? Obviamente que sim, provavelmente os últimos representantes da grande arte figurativa e provavelmente os verdadeiros representantes da chamada arte moderna.

JORGINHO: Como a leitura e os quadrinhos entraram na sua vida? O que você costumava ler quando criança?

LUCIO FILLIPPUCCI: Quando criança eu lia muito. Fiquei fascinado pelo Mickey Mouse, e pelo mundo da Disney e colecionava tudo o que podia encontrar  de Branca de Neve em diante, tudo que era relacionado aos desenhos animados e o que eu encontrava em jornais e revistas. Depois, os quadrinhos italianos como Geppo, Soldino, Cucciolo e depois passei para o Corriere dei Piccoli, onde, ao lado de histórias  feitas para os leitores mais pequenos, apareciam os grandes autores de quadrinhos como Hugo Pratt com sua "A Balada do Mar Salgado" e a "Batalha com os 5 de Selene". Mas houve uma história em quadrinhos em particular que queimou meu cérebro e incutiu em mim a ideia de desenhar quadrinhos: DAN DARE, piloto do futuro desenhado estratosfericamente por Frank Bellamy e Frank Hampson, que apareceu no início  da década de 1960, no encarte de quadrinhos do jornal Il Giorno.

JORGINHO: Quais são suas maiores influências como artista de quadrinhos?

LUCIO FILLIPPUCCI: Fui influenciado estilisticamente, ou pelo menos tentei aprender com eles, olhando para os grandes autores clássicos como Alex Raymond e os grandes autores da escola francesa como Jean Giraud, e é claro pelo meu professor: Roberto Raviola, também conhecido como Magnus.

JORGINHO: Como funciona o teu processo criativo?

LUCIO FILLIPPUCCI: Meu método criativo é bastante simples: sigo por puro instinto. Eu esboço a prancha de uma forma bem sintética e depois finalizo com o lápis antes de pintar, sempre tentando respeitar o meu estilo. Um pequeno empenho que tive que adotar quando mudei de Martin Mystère para Tex  foi de não trabalhar em linhas claras, pois nesse caso um traço muito limpo não era adequado para o faroeste, então eu sujei as placas, quebrei  as linhas, enfim, tornei meu estilo habitual mais empoeirado. Até certo ponto, porém, porque a primeira qualidade a preservar em um artista é a sua própria capacidade de reconhecimento, a sua identidade.

JORGINHO: Quando Tex entrou em sua vida?

LUCIO FILLIPPUCCI: Tex chegou em idade madura, quando eu já tinha cerca de trinta anos de experiência entre quadrinhos, publicidade e ilustrações e devo dizer que não foi uma coisa fácil. O faroeste, se você quiser fazer bem, é uma fera feia. Cintos, pistolas, rifles, cavalos, selas, chapéus com linhas aparentemente incontroláveis, enfim, muitos detalhes e acima de tudo cenas sempre definidas. No geral, uma boa mudança que acompanha minha vida desde 2006.

JORGINHO: Qual dos seus trabalhos com Tex te deixou mais orgulhoso?

LUCIO FILLIPPUCCI: O Tex que mais me satisfez foi sem dúvida o primeiro que eu desenhei: “Seminoles”, com um estilo ainda incerto, mas com uma história escrita por uma pessoa extraordinária: Gino D'Antonio, autor da série História do Oeste. Mas também os dois episódios de  "Os voluntários de Hermann", escrita por Claudio Nizzi, é uma história que me orgulha muito.

JORGINHO: Quais outros artistas do Tex você admira?

LUCIO FILLIPPUCCI: Admiro Claudio Villa e Ticci em particular, mas em geral todos os desenhistas de  Tex são profissionais da mais alta qualidade. Você não chega ao Tex por acaso. Para você receber roteiros de 220 páginas para desenhar nos níveis mais altos, e se não tiver uma boa base e digamos dois bons ombros, você não consegue. Todo desenhista traz sua interpretação do personagem e isso é um valor agregado. Todo mundo está muito bem e disso tenho certeza, em cada quadro e em cada prancha ele oferece o que há de melhor em si.

JORGINHO: Quais são seus planos para o futuro?

LUCIO FILLIPPUCCI: Agora, depois de mais de 15 anos no Tex, mantendo também uma colaboração com Martin Mystère, sinto a necessidade de percorrer novos caminhos que me permitam uma liberdade de expressão diferente. Depois de tantos anos de trabalho (estou fazendo 50), para mim agora é prioritário experimentar coisas novas para redescobrir estímulos adormecidos. A rotina, na verdade, não é amiga da expressão artística, pelo menos não no meu caso, e portanto não agora. Estou projetando algumas produções mais pessoais. Claro que não vou interromper o relacionamento com a editora Sergio Bonelli, só que por enquanto preciso ficar um pouco solto. Em particular, estou trabalhando em um projeto de um livro de capa dura a ser apresentado a editores italianos e estrangeiros nos próximos meses, sobre a história de Claudio Chiaverotti e uma outra baseada em roteiro do grande Magnus, o último dele concebido e ainda não realizado: O Homem da Espingarda, a história de um famoso fora-da-lei italiano de meados do século XIX. Projetos que pretendo realizar a cores. Finalmente, depois de tanto preto e branco.

Ao mesmo tempo estou trabalhando numa longa história do Docteur Mystere (do qual o primeiro capítulo foi publicado por ocasião da feira Riminicomics) e em uma produção de pinturas sobre índios americanos. Eu também tenho alguns projetos em segredo, muito pessoais, aos quais me dedicarei se sobreviver aos mencionados acima.

JORGINHO: Deixe sua mensagem para o leitor brasileiro que admira e ama muito o seu trabalho.

LUCIO FILLIPPUCCI: Aos amigos brasileiros que me conhecem, que acompanham o meu trabalho, principalmente pela minha produção de TEX, eu falo para ter um pouco de paciência, porque eu não consigo fazer os dois trabalhos ao mesmo tempo, e depois deste galope em liberdade, vou querer encontrá-los novamente, um pouco além da colina ou logo além do horizonte. Também espero entrar em contato com vocês mais cedo ou mais tarde, quando pousar na terra do Brasil que é fantástica!


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"...sinto a necessidade de percorrer novos caminhos que me permitam uma liberdade de expressão diferente. Depois de tantos anos de trabalho (estou fazendo 50), para mim agora é prioritário experimentar coisas novas para redescobrir
estímulos adormecidos. 
A rotina, na verdade, não é amiga da
expressão artística, pelo menos não no meu caso..."
- LUCIO FILLIPUCCI

Jorginho

Jorginho é Pedagogo, Filósofo, graduando em Artes, com pós graduação em Artes na Educação Infantil, ilustrador com trabalhos publicados no Brasil e exterior, é agitador cultural, um dos membros fundadores do ColetiveArts, editor do site Coletive em Movimento, produtor do podcast Coletive Som - A voz da arte, já foi curador de exposições físicas e virtuais, organizou eventos geeks/nerds, é apaixonado por quadrinhos, literatura, rock n' rol e cinema. É ativista pela Doação de Órgãos e luta contra a Alienação Parental.

"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

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1 Comentários

  1. É Seminoles ficou muito bom. Desenhos esplendorosos.
    Um abraço no Filippucci e obrigado por participar desse IV CAVALGANDO COM TEX 2024.

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