Em cada mergulho que dou em minhas lembranças, Alvorada City está lá. Ela é tão pulsante dentro de mim que, apesar de repudia-la quando moço e sair dizendo que nunca mais voltaria, retornei anos mais tarde para uma temporada em que fizemos as pazes.
Uma história de amor, ódio, estranheza e saudades.
Lá, eu dei meus primeiros passos, brinquei, apanhei, bati, me escondi, tive minha primeira paixão e a minha primeira desilusão. E foi lá que eu comecei meus estudos, na unidade de Ensino Municipal Coronel Aparício Borges, em 1984.
Quando fecho os olhos, eu consigo me lembrar do primeiro dia de aula, da disposição das classes, de meus colegas e da minha primeira professora, a Ana Vanin. Depois, na segunda série, foram duas as professoras: a Regina e a Graça Helena; na terceira série, a Marta (que me deu de amigo secreto um livrinho chamado "E se todo mundo tivesse rabo?") e, na quarta série novamente duas: a Graça Helena e a Ivete.
Da primeira até a quarta série foi um período encantador e desafiador, com aprendizagens, brincadeiras, molecagens e "chamadas de atenção". Eu vivia desenhando meus heróis nas páginas de cadernos, para desespero de minha mãe e de minhas professoras.
Lembro-me do sol vacilante de inverno, e todos sofrendo no pátio com um frio cortante e úmido para enxaguar a boca com flúor, sob o olhares atentos das professoras.
A grande maioria dos meninos e meninas eram do meu bairro, ríamos quando nos encontrávamos na rua, no armazém do seu Heitor, ou na padaria.
Éramos crianças felizes e esperançosas, com todo um futuro pela frente. O Márcio Jorge brincava que era o Ultraman, eu era o Spectreman, e assim íamos adiante, inventando e reinventando. O Everaldo queria ser delegado, a Inês, professora. Eu, um desenhador.
O Coronel Aparício Borges mudou de um pavilhão verde oliva de madeira, para um salão de material e finalmente para a grande estrutura que até hoje continua lá, na minha antiga rua, a Manoel de Almeida.
Os anos se passaram e a vida aconteceu... Márcio Jorge foi tristemente morto dentro da casa de sua mãe por envolvimento com drogas, Everaldo faleceu em um acidente de moto aos 23 anos, a Inês eu nunca mais soube, mas sempre quando penso nela, imagino que é uma ótima professora ou diretora de escola. E eu virei um desenhador e um Pedagogo.
Nunca mais soube de minhas ex professoras, mas carrego todas elas comigo, quando leio um livro, quando resolvo uma conta de matemática, quando desenho, quando entro em uma sala de aula para exercer minha profissão.
Queria poder rever cada um dos meus colegas, professoras e diretoras e dizer o meu muito obrigado por tudo, por cada segundo, por cada minuto, por cada momento passado.
Até hoje, a lembrança mais linda que tenho na Coronel foi da festa de final de ano em 1987, o último ano em que passei lá, quando fizemos uma linda roda de ciranda, cantamos cantigas rindo, houveram gincanas, brincadeiras e a professora Ivete estava fantasiada de Emília. Tudo tão perfeito, eternamente emoldurado em minhas memórias.
A professora Ivete, naquele dia, beijou-me e pediu para que eu nunca parasse de desenhar. E eu nunca parei, nunca parei, professora.
Obrigado, UEM Coronel Aparício Borges.
PS: enquanto eu escrevia essa crônica, juro que escutava a sineta sendo tocada para todos fazermos a fila para entrar em sala de aula, e mais, eu vi pelo canto dos meus olhos a merendeira dona Diva se preparando para nos servir ovos cozidos.
Arte: Denise Silveira |
6 Comentários
Lindo texto. Traz lembranças em cada um de nós. Obrigado.
ResponderExcluirMuito obrigado pelo retorno meu amigo.
ExcluirQue bela nostalgia. Lembrei-me do meu tempo de infância. Até hoje lembro da minha primeira Professora. Vida escolar tem dois lados. Cabe a nós fazer um caminho pra felicidade.
ResponderExcluirConcordo com você plenamente meu amigo.
ExcluirOi, Jorge, sou a Isab. Lendo teu texto lembrei do Daltro Filho em Porto Alegre. A emoção bateu forte. Obrigada por trazer essa lembrança tão linda. Bju
ResponderExcluirOi Isab, escreve sobre teu período escolar, vai ser maravilhoso te ler.
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