CASOS DE UBER... MINHA ESPOSA PODE
Chamo um Uber. Já é tarde, saia de uma reunião política cansativa. Tudo o que eu queria era um carro com ar-condicionado que me levasse para casa.
Logo que o carro abriu a porta, um bafo quente saiu de lá de dentro. Meu primeiro pensamento foi: - Não vai ligar o ar...
A Uber exige que o carro tenha ar-condicionado, mas são poucos os motoristas que estão ligando, alegam alto custo e que não ganham o suficiente. Eu até concordaria se apenas o passageiro se beneficiasse, mas quem mais se beneficia é o próprio motorista. O passageiro fica dentro do carro por um período ínfimo, enquanto que o condutor, conforme relatos, chegam a ficar até 12 horas. Daí chegam em casa, cansados em função do calor, tomam um banho e ligam o ar residencial. Então porque o do carro é tão demonizado? Nunca entenderei.
Pedi para ligar e ele respondeu que estava estragado, mas, não sei porque, não acreditei. O motorista começou a falar no alto custo de vida, que o mercado está impossível de frequentar... Eu fingia que não ouvia, estava cansada demais para debater. Mas, sempre pode piorar, e ele disse que a culpa do Brasil estar assim é do Bolsa Família, dinheiro dado a vagabundos. Foi neste momento que minha paciência se uniu ao meu cansaço e saíram pela janela aberta, entre vários argumentos, cheguei a este:
- Não, moço. A culpa é das filhas de militares que nascem aposentadas e não casam para não perder a teta.
Ele deu uma sonora risada e sentenciou:
- Não mesmo. Elas merecem. São filhas de heróis... Minha esposa recebe um salário razoável. Eu faço Uber como hobby, sou aposentado e não quero ficar em casa, mas poderíamos perfeitamente viver com a pensão dela. Nem brinca tirar nossa pensão. Minha aposentadoria e o que tiro na Uber não chega nem a metade do que ela ganha de pensão.
- Então a pensão das filhas de militares tu achas correto, mas o bolsa família, não?
A partir deste momento comecei a falar sem parar, tentando argumentar.
Ao descer do carro, meti a cabeça para dentro da janelinha e disse:
- Hipócrita é teu nome do meio. Defendes o teu ganha pão, mas queres que o mais pobre morra de fome.
A resposta dele foi como um punhal entrando no meu peito:
- O pobre que morra de fome. Não merecem receber um tostão furado, muito menos esse tal de Bolsa Família, mas a minha esposa pode receber pensão.
Dei uma longa e sonora mugida, imitando gado e me afastei do carro.
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Isab-El Cristina |
2 Comentários
Cruzes! Fiquei enjoada... Por isso e outras, que o brasileiro sempre será fudido...
ResponderExcluirCristina tens um ima para este tipo de gente. Ah! Ótimo texto.
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