Pensamento do Dias

Vou Sendo Como Posso

Nasci numa sexta-feira, 4 maio de 1979. Foi nesse dia que Margaret Thatcher se tornou primeira-ministra da Inglaterra. Mas teve coisas boas, também. Audrey Hepburn fez 50 anos nesse dia. 

Demorei um pouco pra nascer e quase morri. Aliás, quase matei minha mãe, junto. Que dizer? Nasci pra dar trabalho. E preguiçoso. Assim como Fernando Pessoa, sempre achei dormir maravilhoso. Meu pai não foi. Mas não se preocupem. Ele não saiu para comprar cigarros. A carteira já estava no bolso. Ele tinha que cuidar da banquinha de bananas, em frente ao Mercado Público. Sei lá, acho que ser trocado por bananas é menos poético. Mas mais saudável.  

Meu pai me amou durante os 9 meses em que conviveu comigo e com uma tuberculose mal curada da infância. Depois achou de bom tom morrer aos 28 anos, que esse negócio de morrer aos 27 era muito pra ele. Ele nunca curtiu seguir as tendências. Passava os dias me chamando de Marcinho, que era o nome que ele queria que eu tivesse. É, ser eu mesmo sempre foi um problema na família. 

Depois que ele decidiu comer bananas pela eternidade nos salões de Odin, fui adotado pela minha avó, a quem chamo de mãe.  Sempre vi nos outros mais do que eles achavam que eram. E hoje é ainda melhor. Tenho 2 mães pra chamar de minha. E no Dia das Mães sou absolutamente justo. Deixo AS DUAS sem presente. Bolso e benção são duas palavras que não parecem andar juntas. 

Minha primeira viagem de avião foi com 7 anos e para o Rio de Janeiro. Causei um tumulto na ida, procurando Jesus nos Céus, pelas janelas. Não encontrei. Mas já o vi em risos de crianças, cachorros me fazendo festa, histórias contadas por velhos e no abraço dos meus filhos. É bonito, Ele. No Rio de Janeiro, conheci o Zico no Maracanã, que falou comigo, mas só me disseram que era ele, 2 dias depois. Participei de um clipe do Paralamas do Sucesso, mas só descobri, 10 anos depois. Ah, e peguei dengue, no primeiro surto da doença no país. Viagem magnífica!

Cresci ouvindo Rádio Caiçara e discos do Roberto com minha mãe e desconfio que a vida nunca mais vai ter a leveza daquelas noites. Aprendi a ler sozinho com 4 anos. Continuo lendo sozinho. Mas sabem o que dizem: "Um livro, um amigo..."

É mentira. Mas é bonito pacas.

Não tenho amigos pra visitar, ser visitado ou tomar umas. Nada de reunião de ex-alunos. Aliás, nada de amigo daquela época, também. O que me faz desconfiar que eu devo ter sido mais chato que Havaianas. 

Meu primeiro beijo foi com 17 anos. E eu achei que era um namoro. Descobri o significado da palavra "ficar", 2 semanas depois. Se bem que na prática, eu ainda me atrapalhei com o conceito umas vezes. Minha primeira transa foi com 20. Mas como foi uma coisa pavorosa, remarquei a data oficial para a segunda transa. Que foi apenas 7 anos depois. E essa compensou. Muito. 

Conheci minha esposa em 20 de agosto de 2008. A pedi em namoro em 12 de fevereiro de 2009. Noivei com ela em 23 de junho do mesmo ano. Casamos em 31 de janeiro de 2010. Não sei bem quais são as bodas em que estamos, pois sou péssimo com datas. Tenho uma filha adolescente que me trata as vezes como irmão dela. Vai ver é minha idade mental que ela sacou. Meu filho de 7 anos me vence na queda de braço, nas contas de matemática e em qualquer pedido que me faça porque é uma manipulador descarado. Fico tão feliz de ele puxar coisas de mim. 

Escrevo para não enlouquecer. Agora, já que não deu certo, tento me manter louco, para seguir escrevendo. Acredito nas coisas mais estranhas. Multiversos, astrologia e no Valência. Fazem todo sentido pra mim. Só o fax é que nunca consegui entender. Já fui poliamorista, mas abandonei. Detesto igrejas. Sou esquerdista, mas nunca comi crianças no café da manhã. Provavelmente minha pré-diabetes iria estourar. Anos e anos de vício em Coca Cola. É, uma boina com estrela vermelha e uma latinha de refrigerante capitalista. Eu ia fazer um sucesso daqueles na Revolução Cubana. 

Me tornei colorado depois de 39 anos como gremista. O Inter nunca mais foi campeão depois disso. Tá, todas minhas decisões são ideológicas. Mas eu uso meia até no verão. Pés gelados. Eu deveria ter avisado.

Esse é o cara que vai escrever para vocês daqui para frente. O que é uma mentira. Eu não escrevia para ninguém. Já disse, escrevia para não enlouquecer. Mas escrever terminou de me enlouquecer. Então agora, escrevo para ver se encontro outros loucos como eu. Para quem sabe enfim, ter uma "tribo" . E talvez entender que não tem nada de tão errado assim comigo. Que sou apenas um sonhador que toma tombos horríveis de sua nuvem, todo santo dia. Que vive se machucando. Que vive quebrado. Mas que segue sonhando. Com grana pra comprar um violão. Uns discos do Belchior. Umas bicicletas para passear com os filhos. Mostrar o mar para eles. E comer bananas com seu velho pai em outras paragens, quando as coisas aqui se encerrarem. 

Sou um homem de quase 46 anos, com alma de 25 e cansaço de velho, mas que ainda sonha em ser feliz. Com sua garota. Seus filhos. E um punhado de amigos, quem sabe. Apenas um clichê. Mas a vida é um clichê. E como diz a frase que eu acho que criei, mas se não criei, tudo bem, que o Paul McCartney já disse que tudo é cópia de algo, mesmo: "Todos os clichês são verdadeiros!".

Davison Silveira

Davison Silveira é escritor e sonhador. Não ganhou dinheiro com nenhuma das duas, mas continua achando que as respostas da vida estão em alguma canção do Belchior, num disco de Dylan, num livro de Kundera, numa revista do Asterix e nos beijos de Denise. Para ele o sentido da vida é Centro-Bairro. E segue sua vida esperando o retorno daquele que veio dos Céus para nós salvar: Goku. Ou que finalmente resolvam fazer a versão 600 ml do refrigerante Teem

"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."

- Ricardo Mendes

COLETIVEARTS, 06 ANOS DE VIDA,

CONTANDO HISTÓRIAS, 

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