Conversas e Pradarias - II
Ao longo desses cinco anos de Cavalgando com Tex, tive o privilégio de realizar muitas matérias e entrevistas com colecionadores, escritores e artistas do mundo texiano. Todas elas me deixaram muto feliz, conheci muita gente legal e conversei com alguns dos meus ídolos.
Hoje nesse Arte e Cultura especial, trago um copilado das entrevistas que eu realizei, optei por não colocar a data que elas saíram, mas não mexi em uma vírgula, então haverão sinais em que período elas saíram.
Espero que vocês se divirtam lendo elas, tanto quanto eu me diverti às realizando.
Boa leitura.
LAURA ZUCCHERI: Desde pequenina eu sempre desenhei, sempre tive a vocação para o desenho, para todas as artes figurativas e também para a música. Eu sempre tive uma sensibilidade especial que me levou a enxergar a beleza e a arte como expressão da alma humana.
JORGINHO: O que você lia quando era criança?
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"Tex é o homem que todos gostaríamos de ser...É o pai, o irmão, o amigo, o vizinho que todos sonham em ter." - Dorival Vitor Lopes |
JORGINHO: Como Cláudio Villa se define?
CLAUDIO VILLA: Uma criança curiosa procurando a maravilha escondida em um lençol branco.

JORGINHO: Quando a arte entrou na sua vida?
CLAUDIO VILLA: Desde pequeno adorei colocar marcas de lápis em todos os lugares, acho que a paixão pelo desenho nasceu e cresceu comigo, me fazendo companhia.

JORGINHO: O que você lia quando era criança?
CLAUDIO VILLA: Meu pai era um grande fã de quadrinhos, e trazia regularmente para casa as revistas que eram recém lançadas e então eu as estudava com "atenção" (eu olhava principalmente as figuras, eu mergulhava nos desenhos)
Então assim eu entrei em contato com os primeiros super heróis americanos que chegaram na Itália: o Superman que aqui se chamava Nembo Kid, o Batman que nos primeiros tempos tinha um traje vermelho, depois uma série (Os clássicos D'Audace ), que oferecia quadrinhos franco - belgas de personagens como Dan Cooper, Ric Roland e muitos outros.
Depois houve Tex e Zagor.
Na medida que eu cresci, fui ficando curioso sobre o Universo Marvel, com o Homem - Aranha e o Demolidor.
Eu cresci entre gigantes.

JORGINHO: Quais são as suas maiores influências no desenho de quadrinhos?
CLAUDIO VILLA: Sempre adorei uma prancha clássica e legível como a de Curt Swan (desenhista clássico de Superman) e Carmine Infantino (Flash), a dinâmica de Neal Adams (Batman), depois veio Giraud com seu Blueberry, Hermann com Red Dust e Ticci no mundo Texiano.
Agora eu sou influenciado por muitos autores, entre os quais se destacam Lewis La Rosa e Alex Ross

JORGINHO: Como começou a sua carreira nos quadrinhos?
CLAUDIO VILLA: Quem me ajudou a aprender trabalhar com quadrinhos foi Franco Bingotti (Zagor Mister No, Martim Mystére além de outros personagens que ele desenhou no passado) e foi ele quem me apresentou a uma editora francesa, na qual eu dei meus primeiros passos no mundo dos quadrinhos .
Mas essa aventura logo terminou, então me apresentei na Bonelli enquanto estavam trabalhando Martim Mystére. Eles me deram as pranchas de teste padrão que dão para todos os desenhistas, e acabei entrando para a equipe de desenhistas.
Depois de quatro histórias de Martim Mystére, me perguntaram se eu queria fazer western. E então comecei a cavalgar ao lado de Tex.
CLAUDIO VILLA: Ele é o herói mais clássico. Ele ajuda os fracos e luta contra os valentões, mesmo que eles usem uniforme. Os valores que o movem são valores absolutos para a humanidade. Às vezes gostaríamos de ter ele por perto quando encontramos algum valentão pela rua. Tex iria consertá-lo adequadamente e o faria mudar de atitude.


JORGINHO: Quais os escritores que mais te impressionaram? Claro, estou falando daqueles com quem você trabalhou nas edições de Tex.
CLAUDIO VILLA: Cada escritor tem suas próprias características e é tarefa do desenhista se adaptar a ele para poder tirar o melhor de uma história.
Comecei (em Tex) com textos de G.L. Bonelli, e ele foi muito decisivo para minha diagramação de página, Depois trabalhei com Claudio Nizzi, muito meticuloso e descritivo. E por fim com Mauro Boselli, um vulcão em erupção.
Cada um com sua personalidade, mas no centro de tudo estava sempre o bom e querido Tex.

JORGINHO: Tem ideia de quantas capas de Tex você já desenhou? Qual a sua capa favorita?
CLAUDIO VILLA: Sinceramente, perdi um pouco a conta. Mas acho que já está em torno de mil capas.
A minha favorita? A próxima, espero. Em cada desenho que eu faço, sempre encontro algo que eu faria de novo, ou faria diferente.

JORGINHO: Quais são os seus próximos projetos?
CLAUDIO VILLA: Eu acabei de terminar uma historia que será lançada agora em setembro. É a história que celebra o "aniversário de publicação de Tex", e retrata uma situação muito importante e envolvente para Tex.
Agora estou fazendo as capas de Tex, mas espero conseguir me dedicar para algumas páginas da revista que sairá em novembro de 2023, será um história maravilhosa. Não posso dizer mais nada.

JORGINHO: Quais os quadrinhos que você acompanha como leitor?
CLAUDIO VILLA: Gosto de reler aqueles que me inspiraram de forma virtual como artista: Batman, ano um (Frank Miller/David Mazzucchelli); Batman, O cavaleiro das Trevas (Frank Miller); O Reino do Amanhã (Alex Ross) e as obras de Lee Bermejo.

JORGINHO: Nós brasileiros somos apaixonados por Tex e pelo seu trabalho com ele. O que você conhece, o que você acompanha do nosso Brasil?
CLAUDIO VILLA: Barrichello, Stock Car, Atila Abreu. Resumindo, eu sou um fã do automobilismo e pratico por comodidade de forma virtual, revivendo as façanhas dos motoristas que eu mencionei através de um simulador nascido ai no Brasil: o Automobilista 2
Então eu também tenho um pouco de seu lindo país em minha casa.

JORGINHO: Nos dias 30/09 e 01/10 estaremos reunidos na cidade de Porto Alegre/RS para comemorarmos os 75 anos de Tex no evento "Uma tarde Bonelli". Você poderia deixar uma mensagem para todos os fãs que estarão lendo essa matéria e estarão reunidos na festa Texiana?
CLAUDIO VILLA: O que eu posso dizer é um grande obrigado por vocês escolherem ler Tex!
E vou fazer aqui uma promessa à esse enorme povo Texiano que está lendo esta entrevista e nos dias 30 e 01 vai festejar o aniversário de Tex: enquanto vocês estiverem aqui para ler, estaremos aqui para contar a história!
Um grande abraço!
MAURIZIO DOTTI

JORGINHO: Como Maurizio Dotti se define?
MAURIZIO DOTTI: Sou um artista de quadrinhos, eu sempre quis ser! Desde muito jovem eu já desenhava sem parar, por toda a superfície que eu encontrava. Eu sou um apaixonado pelo desenho, eu sempre fui, mesmo pelo desenho dos outros. Eu sou uma eterna criança, com o meu ponto de vista, com minha maneira de olhar. Acho que a parte lúdica do meu trabalho é ainda hoje o que mais me fascina e estimula. Eu agora me sinto como um demiurgo de antigamente, que pode criar novos mundos, que pode viver e fazer as pessoas viverem aventuras maravilhosas.

JORGINHO: Quando a arte entrou em sua vida, Maurizio?
MAURIZIO DOTTI: Eu não sei se posso encaixar aquilo que faço no conceito de arte como conhecemos, através dos movimentos da história da Arte. A meu ver, sempre me parece uma palavra muito grande se atribuída aos quadrinhos, é claro, muitos pensam assim. Acredito, no entanto, que essa atividade pode ser associada a um bom exercício de "artesania", com picos muitos altos em alguns casos, que chegam a verdadeira e própria Arte. Dito isso, a minha formação, no que diz respeito aos estudos, foi artística. Eu fui sempre estimulado e influenciado pela criatividade artística em suas mais variadas formas: artes visuais, música, teatro e literatura.

JORGINHO: O que você costumava ler quando era criança?
MAURIZIO DOTTI: Eu lia muitos quadrinhos que eu trocava periodicamente com meus amigos, estabelecendo um verdadeiro ritual, alguns amigos eram adultos que também eram apaixonado pelos quadrinhos. Lia muitos títulos: Tex Willer, Zagor, O grande Blek, Comandante Mark e a História do Oeste; também muitas publicações menores já há muito desaparecidas, das quais me lembro com nostalgia: Kinowa, Alan Mistero, Pecos Bill, mas que hoje estaria datadas por estarem caracterizadas por uma óbvia ingenuidade narrativa.
Eu gostava muito dos quadrinhos franceses, eles eram frequentemente traduzidos e publicados pelas editoras italianas: Tintim, Blueberry, Comanche, Asterix, etc, etc.
Eu também lia títulos consagrados e extraordinários, mas difíceis de encontrar no final dos anos 1960, começo dos anos 1970. Mesmo assim não faltaram: Tarzan, que eu amava enormemente; Príncipe Valente; Rip Kirby (Nick Holmes); Flash Gordon e muitos outros, tanto que ficaria muito longa a minha lista se eu os nomeasse aqui. Eu nunca gostei de super heróis! Eu também li muitos romances de aventuras, obviamente Zane Gray, Stevenson, Júlio Verne, Salgari, Edgar Rice Burroughs, Dumas, Scott, etc.

JORGINHO: Quais são as suas maiores influências no desenho?
MAURIZIO DOTTI: Se falarmos em influência real vou responder que é Jean Giraud com seu incomparável Blueberry e o grande Giovanni Ticci, com seu inovador Tex Willer, estes sempre foram meus pontos de referência inabaláveis. Naturalmente eu aprecio e respeito muitos outros autores, mas estes dois artistas (é preciso dizer), são e tem sido temas contínuos e repetidos dos meus estudos. Eu tenho sempre tentado teimosamente compreender os seus segredos, dominar as sua técnica expressiva. Os dois são muito diferentes entre si, mas são igualmente brilhantes e inovadores.
JORGINHO: Como começou a sua carreira nos quadrinhos?
MAURIZIO DOTTI: Foi no final dos anos 1970, havia muito trabalho para todos na publicação de quadrinhos, e quase todo mundo lia o gênero. Foram anos lindos, de muito entusiasmo e criatividade. Minha história não foi muito linear, publiquei meus primeiros trabalhos aos dezessete anos, enquanto ainda frequentava o Instituto de Artes. Parei de trabalhar como quadrinista aos vinte e três anos, para me dedicar ao teatro de bonecos até os trinta e cinco. Parece que meu destino basicamente sempre foi contar histórias. Entre 1992 e 2000 colaborei como ilustrador para as mais importantes agências de publicidade de Milão/ Itália.
Em 1995 finalmente voltei a trabalhar com quadrinhos, graças ao Allarico Gattia que foi um ótimo ilustrador e quadrinista italiano, cuja a amizade e orientação artística me valeram o início da colaboração com as edições Paoline no título de "Il Giornalino". O ano tão esperado e esplêndido que eu entrei na Sergio Bonelli foi o de 1996! Este em resumo é a história do início de minha carreira e se tudo isso que aconteceu pode vir a ser caracterizado como uma produção artística, não sou eu quem deve ou pode dizer.
JORGINHO: O que Tex significa para você?
MAURIZIO DOTTI: Profissionalmente foi um destino prestigiado e importante, um coroamento ideal para um desenhista que como eu ama quadrinhos e o gênero western. Ele é um personagem cuja a longevidade ainda permanece um mistério. Publicado ininterruptamente desde 1948, detém um recorde mundial que ninguém consegue alcançar. Ele é o herói que encarna o sentido de justiça, livre das regras da lei (a lei nem sempre é certa). Defensor dos fracos, vingador dos erros, desde o incio ao lado dos nativos norte americanos e de sua causa, não é pouca coisa se pensarmos na sensibilidade geral em relação às minorias étnicas em 1948. Tex é o inimigo do homem comum: ele faz o que sabemos ser a coisa certa a fazer, mas que não ousamos a fazer por medo das consequências.

JORGINHO: Quais os escritores que mais te marcaram em Tex?
MAURIZIO DOTTI: Eu desenho Tex desde 2011 e, de acordo com uma pesquisa do setor publicada recentemente, o autor mais prolífico da Sergio Bonelli foi o Mauro Boselli, que alcançou a considerável soma de mais de cinquenta mil páginas. E eu acabei sendo o desenhista mais prolifico que trabalhou com ele com três mil, cento e dezessete pranchas, trabalhando em Tex, Dampyr e Zagor. Tudo isso para dizer que tenho trabalhado desde 1996 até hoje quase que exclusivamente com o Mauro. O trabalho, é claro, sempre tem algumas reservas, acidentes e mal entendidos, mas estamos quase sempre na mesma sintonia. Tenho tido poucas oportunidades de trabalhar com outros escritores, não consigo dar uma opinião competente apoiado por uma experiência direta. Como leitor, posso dizer que tenho muitas histórias do Gian Luigi Bonelli que ficaram para sempre no meu coração, mas também ficaram algumas de Nizzi, de Guido Nolitta (Sergio Bonelli), e de Gianfranco Manfredi.

JORGINHO: Você tem ideia de quantas capas já desenhou? Quais as que mais te marcaram?
MAURIZIO DOTTI: Acho que até hoje eu criei entre 70 e 75 capas. É difícil de escolher algumas, mas não impossível. Uma delas, eu diria, é certamente a do especial número n° 03, dedicado ao encontro entre Tex e Zagor, mas acho que teremos a oportunidade de falarmos isso em detalhes daqui a pouco. Há algumas que eu prefiro por causa do ponto de vista técnico. Definitivamente estou me referindo as capas de n° 02 e n° 05, por meio dessas duas capas eu consegui, através de um concurso promovido pela editora, o título de desenhista de capas da série. Posso citar as capas dos números: 10, 24 e 51, vou parar por aqui.
JORGINHO: Como foi desenhar a capa do encontro de Tex com Zagor? O que você achou desse encontro?
MAURIZIO DOTTI: Eu não gosto dessas "alquimias narrativas", desses encontros impossíveis, chame do que quiser, é uma opinião completamente pessoal. Eu entendo que o fã fique regojizado com esse tipo de história, mas acho-as forçadas, uma luta para "suspender a descrença", por assim dizer. Eu sou apaixonado por aquele tipo de histórias que se inspiram em acontecimentos reais, ainda que ficcionais.
Se realmente você quer falar sobre a capa, vamos lá: acho que posso dizer que junto com algumas outras, não é bem sucedida, sob qualquer ponto de vista. Certamente a bem menos sucedida entre as mal sucedidas. As expectativas eram muito altas e minha ansiedade não era diferente. Houve algo que não funcionou: geralmente Boselli me dá sugestões, indicações gerais, nas quais eu baseio meus esboços iniciais para submeter a ele. Talvez nesse caso especifico eu não tenha conseguido entender a ideia básica, foi como se seguíssemos dois caminhos diferentes, sem nos entendermos. Depois de inúmeras correções, o resultado foi aquele que todos vocês puderam ver, infelizmente. Às vezes, as coisas são assim.
JORGINHO:Quais os seus próximos projetos?
MAURIZIO DOTTI: Estou começando uma história de Tex em que o antagonista ainda é Nick Castle, o loiro rápido com a arma, personagem presente em quase todas as histórias de Tex que eu desenhei. Eu acredito também que já está aparecendo no horizonte mais uma história de Dampyr.

JORGINHO: Quais os quadrinhos que você costuma acompanhar como leitor?
MAURIZIO DOTTI: Principalmente os que eu desenho. Sou apaixonado pelos quadrinhos de faroeste, que infelizmente são um gênero negligenciado, exceto em casos raros e louváveis. Não gosto de super heróis, como eu já disse, então concluo que eu acabo não lendo muito quadrinhos. O tempo que eu tenho disponível é muito pouco, por isso prefiro a leitura de livros.

JORGINHO: Como você vê o mercado de quadrinhos na Itália e no mundo? Quais criações te encantam?
MAURIZIO DOTTI: Acho que os quadrinhos encontraram um novo fôlego e gozam de boa saúde. De protagonista incontestado nas bancas fechadas pela pandemia, encontrou novo lugar nas livrarias em sua forma original, culta e intelectual (graphic novel), mesmo que graficamente nem sempre esteja à altura, no meu modo de ver. Os quadrinhos populares são cada vez menos procurados, e na maioria das vezes é por um núcleo duro de leitores de longa data. Além disso, há muito tempo os mangás colonizaram a Itália, que se deixou colonizar.
Nosso país teve e tem grandes autores, mas a natureza esnobe de seus intelectuais em relação ao que é popular, não permitiu, exceto nas duas últimas décadas, a merecida valorização dessa forma de arte. Tampouco a escola, que é uma guarnição de cultura e educação, nunca cuidou dos quadrinhos como sabiamente deveria. Por que você os manteria longe?
Do mercado de quadrinhos no mundo eu não tenho informações, mas sei que no Brasil são muito apreciados e lidos e nos Estados Unidos este também é o caso. Sem falar na França, um país com muitas qualidades e em que os quadrinhos sempre tem um valor enorme.
Sobre as novidades da indústria, 'foi ruim", não sou, como já havia dito, um leitor antenado e nem compulsivo por quadrinhos. Mas vou responder para evitar machucar a figura "dos que não sabem nada", eu posso dar alguns nomes: “Bouncer” di Boucq, “Les Tour de Bois-Maury” di Hermann, “Undertaker” e “Asgard” di Mayer.
JORGINHO: Nós brasileiros somos apaixonados por Tex e pelo seu trabalho com ele. Mas e você Maurizio, o que conhece de nosso país?