Conversas com o escritor
O Cosme Velho é um bairro charmoso no Rio. Pequeno em dimensões geográficas, mas grande em se tratando de representatividade. É no bairro que o público tem acesso para visitar o Cristo Redentor, e isso por si só, faz o bairro ter várias pessoas visitando a região. Tem também o Largo do Boticário, um belo pedacinho do bairro.
Nessa exata localização do bairro, mora Alfredinho. Ah Alfredo, como és um ser diferenciado. Do alto de seus 65 anos bem vividos, boa parte deles dentro do seu botequim no Largo do Machado, lá era seu habitat natural. Por ser cria do Cosme Velho desde que se entende por gente, é conhecido nas redondezas.
Atrás do balcão, Alfredinho sempre foi ouvinte de várias histórias dos frequentadores do bar. Mesmo sendo um bar não muito espaçoso, recebe bastante gente. E por já estar estabelecido no mesmo lugar há anos, tem a sua reputação. E o bar é famoso por ser um estabelecimento simples mas aconchegante, ter bons quitutes e bebidas ao gosto do freguês, é parada obrigatória por quem frequenta a região.
Alfredinho é uma figura ímpar. Ao mesmo tempo doce, é daqueles caras bem ranzinzas. Mesmo tendo uma estatura baixa, não tem medo de ninguém, fala o que der na telha. É respeitado pela sua franqueza e quando é amigo, da a roupa do corpo, sem ver a quem. Por isso o bar sobrevive até hoje, por mais que tenha enfrentado algumas crises.
O bar que não possui nome, é frequentado por populares, artistas, alguns nomes da política, a galera bem alternativa, uma boa miscelânea de gente se mistura no recinto e faz do lugar um ponto cultural. Acaba tendo saraus, músicos tocando, escritor lançando livro,e não se é cobrado um centavo do Alfredinho, só vão pelo prazer de estar ali.
Uma vez, ao fechar o bar e fazer o balanço da semana, resolveu parar para dar uma relaxada e beber algo. Cansado do dia longo e de ter feito a contabilidade do bar, além de ter bebido umas e outras, escuta uma voz conversando com ele. Mas estava só no bar. Olhou para todos os lados e teve a certeza que não tinha mais ninguém no local. Até que viu um vulto passando e ficou um pouco assustado. Era simplesmente a presença de Machado de Assis ali no bar de Alfredinho. O grande escritor brasileiro,que na época em que era vivo, vivia no Cosme Velho, resolveu ir conhecer o bar e conversar com o dono dele. Ficaram por horas conversando a fio, uma boa troca de idéias e vivências.O bom dono do bar, um admirador do escritor, matou a sua curiosidade e perguntou tudo o que queria saber a Machado de Assis. O grande escritor não se furtou a falar e adorou a conversa. Mas era hora de ir embora e voltar da onde não devia ter saído.
Daniel Filósofo |
INTIMIDAÇÕES!
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