ARTE E CULTURA


50 ANOS DE SPECTREMAN



Planeta Terra, Cidade Alvorada...

Eu era muito pequeno e cabia deitado em uma poltrona (meus pais chamavam a poltrona de sofá pequeno), olhava a TV Piratini que reprisava séries, filmes e programas do centro do país com produções locais. Ali assistia Durango Kid, Ivanhoé, Jim das Selvas e os seriados japoneses  Ultraman, Ultraman Jack,  Robô Gigante e o maior de todos: Spectreman. 

Sim, para este que aqui escreve o maior, e mesmo sendo um androide, o mais humano dos heróis japoneses. Spectreman apanhava, perdia, não desistia e voltava para enfrentar o perigo novamente. Ele se machucava, sofria quando alguém morria e quando alguma ordem dos Dominantes (seus criadores)  ia contra a sua noção de moral, não tinha dúvidas e se rebelava. Não tinha como um  aquariano não se identificar com ele.

Após os episódios eu ia brincar sozinho  nos fundos da minha casa, lá eu era Kenji e me transformava em Spectreman, recriava as histórias que assistia e inventava muitas outras. Dava socos e chutes no ar, tinha longos diálogos com Dr Góri e perseguia o seu assistente o terrivelmente engraçado  Karas. Nas lutas finais contra  os monstros mais terríveis, em que alguns eram personificações monstruosas de um tipo perigoso da vida real, o alcoólatra  violento, eu usava o Spectre-Flash. Esses dias, minha madrinha Tânia, que era minha babá, me falou de como eu não parava quieto nos lugares aonde ia, e que inclusive na sociedade espirita que eu frequentava não parava um minuto de "dar com as mãos" ou "me assoprar", não titubei e respondi: " madrinha é que eu era o Spectreman e haviam muitas criaturas a serem combatidas ali".

Quando aqui no Rio Grande do Sul  surgiu a TVS, Spectreman passava pela manhã e era reprisado durante a tarde. Depois, firmou-se no horário do meio dia. Olhei diariamente todos os episódios. Quando ganhei de um coleguinha uma edição da revista em quadrinhos que saía pela extinta editora Bloch, foi um encantamento só. Lia e relia e não notava as diferenças no visual e nem na grafia do nome (Kenji tinha virado Kenzo no gibi), simplesmente eu estava muito inserido no universo do herói para  perceber qualquer nuance naquele período. 

Foi em Spectreman que vi pela primeira vez alguém falar sobre poluição e cuidados com o meio ambiente. Me lembro que quando a ecologia virou pauta nacional , em 1989 na Escola Júlio Cesar em Alvorada, a saudosa professora Nanci propôs uma redação sobre ecologia e uma colega chamada Milena (aonde está você, Milena? por onde andas?) fez uma redação sobre Spectreman em defesa da ecologia, fiquei com inveja dela. Hoje, passados todos esses anos, é a minha vez de corrigir esse erro, precisava escrever sobre o Cinquentenário de Spectreman, e para fazer algo bem legal,  entrei em contato com pessoas muito especiais para o sucesso do herói aqui no Brasil: o desenhista Eduardo Vetillo e  o dublador de Spectreman Luiz Nunes. Mas antes, vamos falar um pouco mais sobre o herói.



Planeta Terra, Cidade Tóquio...

Spectreman foi criado pelo roteirista Souji Ushio a pedido da P-Productions , teve 63 episódios e foi exibido pela primeira vez de 02 de janeiro de 1971 até 25 de março de 1972 pela Fuji Television. No Brasil foi ao ar de 1981 a 1982 pela Rede Record (em parceria com a TVS Canal 11 - Rio de Janeiro ) e de 1983 até 1990 na TVS (atual SBT). 

No papel principal se revezavam dois atores: como Kenji, o professor de artes marciais Tetsuo Narikawa, falecido aos 65 anos no dia 01 de janeiro de 2010,  e como Spectreman, o ator dublê Koji Uenishi, que interpretava também o ajudante do Dr. Góri, o gorila Karas. Koji também interpretara antes Ultrasseven. A série trazia os simióides espaciais que vinham para a terra a fim de dominá-la, usando a poluição que seus habitantes produziam para criar monstros. Eram os anos 1970, e vivia-se o sucesso de Planeta dos Macacos, uma óbvia influência para Souji criar os antagonistas mais que perfeitos para o herói espacial.

Spectreman foi sucesso no Japão, EUA, França e Brasil, tendo uma das aberturas e música-tema mais famosa da televisão mundial.



Bloch

Em 1983, a extinta editora Bloch produziu quadrinhos brasileiros de Spectreman com roteiros do escritor, músico e publicitário Carlos Araújo e desenhos do mestre Eduardo Vetillo. Foram trinta edições, que são muito disputadas até hoje entre os fãs do herói. Nos quadrinhos da Bloch, o personagem tinha mudanças no design, cores e grafias de nome dos personagens (como já citado antes, Kenji virou Kenzo). O gibi de Spectreman encerrou sua publicação em 1986.



Pipoca e Nanquim

Para comemorar os 50 anos do herói a Editora Pipoca e Nanquim anuncia um presente dos sonhos para os fãs do herói e leitores da nona arte em geral. Ela anunciou em live recente a publicação do mangá original de Spectreman pela primeira vez no Brasil. O mangá é uma obra de Souji Ushio e Daiji Kazumine. Souji, o criador de Spectreman e Daiji Kazumine, (desenhista falecido no dia 27 de novembro de 2020) teve um trabalho marcado por adaptações de tokusatsus famosos (séries japonesas de ficção científica live action) como Ultrasseven, Ultraman  e Godzilla. No Japão, o mangá foi editado em sete volumes, a Pipoca e Nanquim irá publicar a saga toda em quatro volumes com o primeiro lançamento previsto para novembro/ 2021. 



Dominantes, às ordens!

Aqui trazemos dois dos responsáveis pelo legado de Spectreman estar presente até hoje no imaginário popular brasileiro, um cenário que se renova cada vez mais: o desenhista Eduardo Vetillo e o dublador Luiz Nunes.



 Entrevista com Eduardo Vetillo:


Jorginho: Spectreman está completando 50 anos de vida e queremos saber, quando você conheceu o personagem?

Eduardo Vetillo:  Acompanhava esporadicamente, à época eu estava envolvido com a produção de hqs dos trapalhões.

Jorginho: A série ainda reverbera em você?

Eduardo VetilloSim, muito.

JorginhoComo surgiu a proposta para você desenhar o personagem e como se deu a criação ou recriação visual dele, como design e cores diferentes?

Eduardo VetilloFoi através de um convite do Edmundo Rodrigues, editor de quadrinhos da Bloch. Eu tive que recriar o modelo e as cores do personagem para dinamizá-lo e ser bem sucedido comercialmente.

Jorginho: Como era o convívio com os roteiristas da revista, como era feito o
processo de desenvolvimento das histórias?
 
Eduardo VetilloNão mantinha contato com os roteiristas, que eram oriundos do Rio de Janeiro.

Jorginho: Sempre admirei muito a construção dos monstros e a dinâmica que o senhor dava ao Spectreman em suas aventuras, quais foram suas maiores influências como desenhista?

Eduardo VetilloMinhas maiores influências foram de Alex Raymond  e Jean Giraud, o Moebius.

Jorginho: Quais histórias desenhadas naquele período mais te marcaram? 

Eduardo VetilloGostei muito de ter desenhado o "Senhor do medo" e o "Couraçado Orbital" entre outros.

Jorginho: Spectreman pela Bloch durou de 1983 a 1986, como foi para você o processo de encerramento da revista?

Eduardo VetilloFoi doloroso porque a revista poderia ter ido mais longe, tinha uma tiragem de oitenta mil exemplares e vendia mais de sessenta mil por mês.

Jorginho: A editora Pipoca e Nanquim anunciou recentemente que no segundo semestre irá lançar quatro volumes do mangá original de Spectreman em comemoração aos 50 anos da série, queremos saber o que você acha deste lançamento e se irá acompanhar?

Eduardo VetilloDesejo sucesso a essa editora e acompanharei com certeza...

Jorginho: Como é a sua relação com fãs de Spectreman até hoje?

Eduardo VetilloExcelente! Recebo constantemente encomenda de commissions do Spectreman e encontrei muitos fãs nos eventos em que compareci.

Jorginho: Gostaríamos de saber quais os seus próximos projetos e que deixasse uma mensagem para os fãs do senhor e fãs de Spectreman que estão felizes com esse cinquentenário.

Eduardo VetilloEspero lançar uma edição extra do Spectreman (já pronta), num formato maior e com mais de cinquenta páginas após essa pandemia. Espero ter respondido da melhor maneira possível, grande abraço e Dominantes, ás ordens!








Entrevista com Luiz Nunes:


Jorginho: O que o Spectreman significa para o Luiz Nunes?

Luiz Nunes: O Spectreman foi o primeiro herói que eu dublei na minha carreira, então ele representa uma conquista pra mim. Assim como a cada conquista do herói, a cada
episódio, após combater cada um dos “monstros” enviados pelo Dr. Gori, ele significa um marco de conquistas na minha carreira.

Jorginho:  Como foi dublar o personagem?

Luiz Nunes: Como o material que nos foi enviado veio em inglês, foi relativamente simples a dublagem. Claro que, após entender o significado do Spectreman, entender sua conduta ética, foi possível a interpretação emotiva que ele imprime em suas duas identidades.

Jorginho:  Como era o ambiente para a dublagem de Spectreman e o convívio com
os demais dubladores?

Luiz NunesEsta obra foi dublada através da COM-ART, uma produtora que nós, um grupo de amigos, atores/dubladores, fundamos no final de 1978, após uma longa paralisação na dublagem brasileira. Então, estávamos entre amigos e o clima era bem
descontraído.

Jorginho: Todo grande herói precisa de um grande vilão, Dr Góri era um vilão forte e complexo, com a natureza sofrendo agressões diariamente, pergunto o vilão era de todo errado? Qual a visão do Luiz sobre Dr Góri?

Luiz Nunes: Eu creio que o Dr. Góri foi o vilão necessário e inteligente para provocar os seres humanos, mostrando a todos nós nossa irresponsabilidade no trato com o nosso ecossistema. Ele tinha interesses de conquistas, até conquistas de riquezas, usando a “burrice” do ser humano para atingir seus objetivos. Assim a meta dele era conquistar a terra, destruindo o que fosse contra ele. Ele foi positivo pois escancarou nossos egoísmos, mas também negativo devido ao seu senso de destruição. Só que, como ele tinha o desastrado Karas ao seu lado, se tornou um vilão mais cômico que aterrador. Um belo trabalho de dublagem do amigo Carlos Seidl e do Osmiro Campos,
respectivamente.

Jorginho: Quais seus episódios preferidos do Spectreman e por quê?

Luiz Nunes: Eu  sempre cito “O Exílio de Spectreman”, creio eu devido ao nosso atual momento, inclusive foi o que me inspirou o vídeo “Um paralelo do Spectreman dos anos 70 e hoje.” - publicado no meu Canal no YouTube, Luiz Nunes ArtMaker, pontuando sua atitude “humana” salvando uma família condenada à morte, contaminada por um vírus, que estava em quarentena. Isso fez alguns dos meus seguidores imaginarem que, se o Spectreman viesse hoje para a terra, nos ajudaria a vencer o Coronavírus.



Jorginho: A Editora Pipoca e Nanquim anunciou que estará trazendo o mangá original de Spectreman para o Brasil no segundo semestre, o senhor pretende acompanhar as quatro edições programadas?

Luiz Nunes: Eu fui pego de surpresa com esta informação e não sei exatamente como será. O Joabas, que fez uma das lives sobre os cinquenta anos comigo, me passou algumas informações e até pensou em sugerir minha presença no lançamento. Mas, de concreto, nada sei. rs

Jorginho: E como é o convívio com os fãs de Spectreman, apesar da quarentena?

Luiz Nunes: .Eu diria que a quarentena me aproximou dos fãs do Spectreman.
Vieram as lives e, por consequência, uma maior intimidade, digamos assim, com todos os canais dedicados ao nosso herói. Um fã em especial, Odil Junior, está preparando um grande evento, em live, para que eu fale com os quase 20 mil seguidores da página Spectreman do Facebook, quando haverão sorteios de bonecos, camisetas, e da revista “O Retorno do Spectreman” , do quadrinista Alê Lima, por exemplo.

Jorginho: Para terminar, poderia mandar uma mensagem para todos os fãs de
Spectreman nesses 50 anos do personagem?

Luiz Nunes: O momento em que estamos vivendo é bastante delicado para a convivência humana. A podridão, os maus tratos para com a natureza, os falsos líderes, convergem para um possível caos, caso os seres humanos não sejam
éticos e colaborativos. Todos temos que agir como o Spectreman, agindo com ética, combatendo o vírus através do respeito aos protocolos de distanciamento, higiene e uso de máscaras, no mínimo. Sem distanciamento social o vírus vai continuar se espalhando e, o pior, se fortalecendo, surgindo novas cepas, como já está ocorrendo.
Cuidem-se, porque, se cuidando, estaremos cuidando de todos. Abraços a todos e sempre às ordens.


Aqui Luiz pedindo "às ordens" para o Spectreman. Estatueta que ganhou do fã Von Douglas. Em breve Luiz  vai publicar no seu canal do you tube o Luiz Nunes ArtMaker, um vídeo sobre a emoção que ele sente com o carinho dos fãs, poie como ele falou: "Os presentes que ganho e a atenção dos fãs sempre emocionam".  Você também Luiz. sempre nos emociona. 

Se inscreva no canal do Luiz: 
Luiz Nunes ArtMaker



Retiradas

E o Apelidado Tio Isa não poderia ficar de fora desta matéria, fã do nosso herói ele também veio prestar sua homenagem, confiram:




EPÍLOGO

Ao finalizar essa texto,  confesso que escrevi e montei todo ele cantarolando a música tema de Spectreman. Eu tenho toda a série e a "maratonei" durante a semana em que estive preparando essa matéria. Agradeço de coração ao grande Paulo Kobielski (Dossiê Kobielski) que me trouxe direto da CCXP 2019 a commission e o "print"  do mestre Eduardo Vetillo e que me colocou em contato com o mesmo; ao Eduardo Vetillo e ao Luiz Nunes pela atenção me dada; ao Apelidado Tio Isa por dividir essa paixão nerd comigo; ao Odyl Teixeira Nunes (*) por não deixar essa paixão morrer administrando um grupo maravilhoso no face que já conta com vinte mil integrantes; a minha esposa Patrícia Maciel por todo apoio; ao  Souji Ushio por ser criador do nosso herói e ao Spectreman, por ainda continuar derrotando todos os monstros que aparecem pela frente.

(*) Odyl vem informar que por volta do dia 15 de maio deverá ocorrer live em comemoração  aos 50 anos de Spectreman e ao enorme sucesso do grupo de fãs no Face . A live deve acontecer no canal do Luiz Nunes com endereço já referenciado aqui e haverá sorteio de brindes, como hqs, chaveiros, camisetas etc. Será imperdível!
Para ficar por dentro do que vai rolar na live e de tudo mais que envolva o herói cósmico,  entre você também no grupo Spectreman !

















Sempre Algo interessante
para contar.




















Eduardo enviou Ontem às 13:15



















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5 Comentários

  1. Baita matéria Jorginho. Merecida aos 50 anos do personagem e seus arti

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  2. Demais Jorginho. Bela homenagem a esse ícone da cultura pop. Seus artistas, especialmente Eduardo Vetillo, que tive privilégio de conhecer. Legal retorno dele aos gibis. Em duas frentes, nacional e o mangá original. Na expectativa. Aquele abraço.

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  3. Ficou muito bacana o conjunto de entrevistas. E só lembrando que também fiz minha parte ao falar do Spectreman no meu canal

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  4. Aqui vai o link do vídeo que mencionei, pra quem for conferir ou rever:
    https://www.youtube.com/watch?v=AzcvMzHX-JI

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  5. Baita matéria ... marcou gerações! Gostava muito destes personagens, Ultramen, Spectromen, Robô Gigante ... Patrulha do Espaço, enfim ... belas lembranças! Parabéns pela matéria, muito boa!

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