A MÚSICA SEGUNDO O FILÓSOFO

 


Circo Voador


Janeiro de 1982, Arpoador, Rio de Janeiro. Nas areais escaldantes, sol a pino e altas ondas, pousa um circo voador na Zona Sul do Rio e com ele trouxe muita diversão, boa música, cultura e um legado para uma geração que estava sedenta por liberdade e ao som e fúria de bandas querendo mostrar a sua arte.

A ideia inicial era ser um polo cultural que abrangesse varias atividades. Com ajuda de Perfeito Fortuna e a turma do Asdrúbal Trouxe o Trombone, que contava com artistas que depois viriam a ser conhecidos nacionalmente com o seu trabalho. Evandro mesquita, Patrícia Travassos, Luiz Fernando Guimarães, Regina Casé e Hamilton Vaz Pereira. Num desfile saído da Praça Nossa senhora da Paz em Copacabana até o Arpoador. Ainda sob a ditadura militar, os artistas gritavam por melhores espaços para divulgar a sua arte.

Asdrúbal Trouxe o Trombone: Perfeito Fortuna, Regina Casé, Evandro Mesquita, Patrícia Travassos e Luiz Fernando Guimarães

A ideia inicial era o Circo ficar por um mês no Arpoador. Acabou ficando por três meses. Mas a fiscalização, pois a lona á baixo e ali não poderia ficar. Perfeito Fortuna foi em busca de alguns lugares pela cidade, onde poderia pousar o circo. Com a ajuda de Zoé Chagas Freitas, mulher do governador Chagas Freitas, a trupe conseguiu um espaço na Lapa, onde se encontra atualmente. Na época a Lapa era um bairro decadente, sujo e nada parecia com hoje em dia.

Dois nomes foram importantes para o desenvolvimento do Circo Voador. Perfeito Fortuna e Maria Juça. Perfeito com sua verve inquietante, desbravadora, organizou no começo do Circo, várias atividades culturais não só no circo, mas pela cidade. Aliás, pegou o avião e levou o circo ao México na copa do mundo de 86.Os mexicanos ficaram extasiados com a festa realizada pelos brasileiros em seus domínios. Juça foi importante para as bandas de rock dos anos 80.Maria Juça com o seu rock voador na fluminense FM,abriu espaço para novas bandas da época. A maldita foi uma rádio genuinamente rock roll e importantíssima para a cena do rock brasileiro na década de 80.

                                                                  Maria Juça

Inúmeros artistas se apresentaram por lá. No circo, era uma diversidade de estilos musicais, tribos e já teve ocasião que plateia totalmente antagônica, se misturava em shows completamente diferentes. Um exemplo foi numa noite em que a banda Coquetel Molotov,  abriu para o Tim Maia. A principio os punks viraram as costas para o palco em forma de protesto. Depois estava todo mundo cantando e dançando ao som do sindico. A orquestra do Severino Araújo já se apresentou no palco do circo na década de 80.

Mas toda felicidade tem seu fim. Em 1996 num ato de vingança, a lona do circo foi abaixo. Num Domingo de eleição a prefeitura do Rio, Luis Paulo Conde, candidato apoiado pelo então prefeito Cesar Maia, venceu a o pleito e foi comemorar a vitória na Lapa e exatamente no Circo Voador. Mas não esperavam no que iria acontecer com eles. No palco do Circo, era dia de Punk Rock. Garotos Podres e os Ratos de Porão estavam se apresentando na casa e tanto público e bandas, não iam aceitar aquilo calado. Foi o que houve. Sob chuvas da vaias e protestos, saíram de lá. Com o poder da caneta, o prefeito Cesar Maia, mandou fechar o Circo voador e mesmo a classe artística e público pedindo o não fechamento do local, o alcaide não voltou atrás e o Circo voador ficou anos fechado. O circo ficou fechado por oito anos. Em 2002 sob a batuta de Maria Juça, criou-se um movimento de ocupação no seu canteiro de obras. No mesmo ano, por determinação judicial, a prefeitura teve que reconstruir o Circo voador e no dia 22 de Julho de 2004 foi reinaugurado com louvor e brilha até com excelentes shows e eventos culturais.

                                            Maria Juça no Circo Voador


Depoimento de Luiz Felipe Carneiro do canal Alta Fidelidade no Youtube:


Eu acho que se não tivesse o Circo Voador, o rock brasileiro dos anos 80, não seria exatamente como foi. Eu acho que foi o grande centro divulgador daquelas bandas novas que, por exemplo, não iam tocar no Canecão no inicio da carreira. Falando aqui no Rio. Então o circo voador, aglutinou toda essa turma e pode dar voz e espaço em diversos shows, seja no Arpoador, seja na Lapa. Pegando o exemplo do Barão Vermelho, o Barão Vermelho estava lançando o primeiro disco e tava fazendo o show com o ingresso mais barato, no circo voador, que você tinha muitas opções de lazer, teatro, tudo. Mas tava lá tocando. Não tinha nem palco, o palco era o piso mesmo, onde o público dançava. O Caetano Veloso, por exemplo, já estava lá vendo, o que tava acontecendo com a aquela nova geração. E uma coisa que foi muito importante foi à dobradinha do Circo voador com a Fluminense FM. Eles lançaram até um disco nessa dobradinha, o rock voador, com musicas de varias que se apresentavam no circo voador e tocavam na fluminense. Entraram numa dobradinha importante né, uma casa que tocava os artista novos e uma rádio que tocava também os artistas novos. Então essa dobradinha foi fundamental como falei no inicio se não fosse e também a fluminense FM, se não fosse essa dobradinha, o rock brasileiro não seria dessa forma como conhecemos hoje, que vê uma coisa tão forte."


Daniel Filósofo é cronista, jornalista, profundo conhecedor de rock'n'roll, torcedor do Fluminense e radialista Também escreve suas crônicas dominicais na coluna do Daniel Filósofo.














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2 Comentários

  1. Adorei a matéria, não conhecia a história do famoso circo voador.

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  2. Linda Laís,que bom que curtiu a coluna e obrigado pelo prestígio

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