Um campeão
Olimpíadas de 1996, Atlanta. De repente, surge na tela da televisão um de meus grandes ídolos do esporte ... Judoca, nosso meio-pesado Aurélio Miguel, disputando a medalha de bronze olímpica, uma luta em que vence o gigante holandês Ben Sonnemans.
Tentei imaginar por um instante o que estaria se passando pela mente de Aurélio Miguel naquele momento. Certa feita, li uma frase sua em entrevista dada a um canal de esportes que me trouxeram reflexões – “Nunca entrei numa luta que não fosse para vencer.” Está enraizado na cultura de nosso povo a soberba pela vitória – segundo e terceiros colocados não tem o mesmo valor que os campeões, os primeiros colocados. É assim em tudo, apenas o primeiro merece crédito, é uma cultura nefasta e injusta! Aurélio foi honrado como porta-bandeiras brasileiro nesta Olimpíada ... na olimpíada anterior, em 1992, não alcançara desempenho satisfatório, ficando em 9º lugar. Estava ali para se provar? Seria esta a sua motivação?
Campeão mundial júnior em 1983, campeão olímpico em 1988, trazendo a primeira medalha de ouro do judô para o país, apesar da tradição neste esporte. Aurélio sempre foi um inquieto! Desde o início de sua trajetória no esporte, sempre foi um atleta de ponta, colocando-se entre os melhores, pontuando, trazendo medalhas, conquistas. Além de um atleta vencedor, é também um inquieto! Sua inquietude, termo utilizado pelo amigo e fotógrafo Alex Glaser, o fez ser cortado da equipe olímpica de 1984 ... Aurélio era, então, o atual campeão mundial! Em entrevista anos atrás, Aurélio fala sobre este episódio, dizendo que havia tendência muito forte de ter conquistado o ouro olímpico ali, pois estava muito bem preparado ... mas as divergências com o CBJ (Confederação Brasileira de Judô) e seu dirigente, Joaquim Mamede, estavam apenas começando. Esta relação turbulenta marcou toda a trajetória de Aurélio. E as lesões! Muitas. Aurélio sofreu uma sequência de lesões e cirurgias no ombro, as dores sofridas, intensas ... fisioterapia, recomeço de treinamentos. Para mim, suas vitórias foram muito maiores, pois Aurélio lutou contra adversários tão temíveis quanto os formidáveis lutadores desta nobre arte marcial! Lembro também sobre as falas na época de 1992, onde Aurélio ficara em 9º lugar e que estava acabado para o esporte, não era mais o mesmo. Minha admiração por este atleta redobrou após ouvir estas falas via programas de rádio, onde alguns jornalistas falam ou inventam qualquer coisa para ganhar audiência, ao passo das informações que obtive sobre a trajetória dele para aquela olimpíada ... nesta modalidade, os atletas, independente quem forem, não são convocados. Eles passam por uma classificatória, torneios em que sua pontuação vai definir o índice olímpico, quem vai disputar os jogos. E meses antes deste torneio, Aurélio passara por nova cirurgia no ombro, estava em fase de recuperação quando começou seus treinos para a classificatória. Uma de tantas recuperações que já havia feito. Retornou triunfal em 1996, obtendo a medalha de bronze!
“Representar o país numa Olimpíada empresta um enorme peso psicológico ao atleta. Não basta estar muito bem técnica e fisicamente. A cabeça precisa estar muito bem preparada. A pressão é enorme. Me lembro do que senti em Seul. O Brasil voltou de lá com apenas uma medalha de ouro: a minha. A cobrança era muito forte. Inclusive a auto cobrança. Numa Olimpíada, a distância entre ganhar ouro ou bronze é muito pequena.”
- Aurélio Miguel
Sandro Ferreira Gomes, Professor de Língua Portuguesa, Conselheiro Municipal de Políticas Culturais em Gravataí/RS, Servidor Público, Porto Alegrense, admirador das belas artes, do texto bem escrito e das variedades de pensamento.
Sandro Gomes |
03 ANOS DE COLETIVEARTS
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