TECITURA


 O dia em que torci pelo Inter

Sou Gremista. Ponto final. Não um gremista qualquer, um gremista de final de semana; sou daqueles que choram, sofrem, torcem. O Mundial Interclubes de Tóquio foi a grande conquista do Grêmio até agora. Primeiro Campeão Mundial aqui no RS. Ah, claro, os colorados virão com um monte de argumentos, de que a FIFA não reconhece este título pois não era organizado por ela e vários blábláblás ... bom, vão tirar também o reconhecimento dos títulos do Santos de Pelé, do poderoso Flamengo de 1981, dos títulos do Peñarol do Uruguai? Então, o Grêmio Football Porto-Alegrense foi Campeão Mundial Interclubes em 1983, e ponto final. Não se discute mais isso! Mais do que ser Gremista, sou anti-colorado! A boa e saudável rivalidade Gre-Nal, impossível um torcer pelo outro! Mas houve um momento. Houve um episódio em que eu, Gremista ROXO, torci ... me emocionei, chorei pela saga heroica realizada pelo Internacional de Porto Alegre, ao representar a Seleção Brasileira de Futebol nos Jogos Olímpicos de 1984.


As Olimpíadas de 1984 foram disputadas em Los Angeles, e nela a FIFA autorizou a utilização de jogadores profissionais, com a condição de que eles não tivessem disputado uma Copa do Mundo. A CBF precisava escolher o time para representar o Brasil, surgindo a ideia de enviar um de seus campeões nacionais ao torneio. O primeiro pensado foi o Fluminense, atual Campeão Brasileiro. Com a recusa deste, a CBF voltou seus olhares para o Inter, campeão do Torneio Heleno Nunes (não existia Copa do Brasil nesta época). Escolha do treinador Jair Picerni, base do Inter formando o time com o acréscimo de alguns jogadores de fora, entre eles Tonho, ponta esquerda (hoje um jogador moderno seria, daquele tipo que volta para compor, ajudar na marcação), formado na base do Inter, com passagem pelo Aimoré e que faria carreira no rival, Grêmio. Entre os jogadores colorados, o goleiro Gilmar Rinaldi, que após esta Olimpíada, defendeu a Seleção Brasileira principal de 1986 a 1995; Luiz Carlos Winck, Mauro Galvão e Dunga também ganharam enorme projeção mundial, defendendo a Seleção Brasileira. E um centroavante, daqueles centroavantes dignos das crônicas de David Coimbra: Kita.



Kita não era craque. Não era um virtuose do futebol. Tampouco um jogador de encher os olhos, com jogadas refinadas e muitos recursos. Não. Kita era centroavante. Mas Kita era de uma época em que um centroavante era de fato centroavante! Estou falando da época de Geraldão, Baltazar, Dadá Maravilha, Reinaldo, Roberto Dinamite, Careca, Serginho Chulapa ... época em que um time de futebol era composto por nove jogadores e dois profissionais: o goleiro e o centroavante! E Kita era centroavante. A bola podia chegar quadrada, redonda, por cima, por baixo, forte, fraca, da linha de fundo, alçada na área, não importa: Kita sabia fazer gol! Como dizia o filósofo do futebol, Dadá Maravilha: “ Não existe gol feio. O feio é não fazer gol!” E Kita foi gigante. Um guerreiro! Lutou! E o Inter lutou. Muito! A primeira medalha Olímpica para o futebol brasileiro, a medalha de prata. Na época, uma façanha! Tanta tradição no futebol, e somente em 1984 conquistamos uma medalha! Pois esta seleção brasileira tinha Goleiro e tinha Centroavante! Assim, escritos em maiúscula!

Vencemos todas na primeira fase: Aplicamos 1 a 0 na Alemanha Ocidental (a Alemanha
eram duas antes da queda do Muro de Berlim: Alemanha Ocidental e Alemanha 
Oriental, ambas com seleções fortes); fizemos 3 a 1 na Arábia Saudita e terminamos a primeira fase com 2 a 0 sobre o Marrocos. Aí vieram as quartas de final, e as coisas começaram a complicar. Canadá deu trabalho, a vitória veio nos pênaltis, após uma verdadeira batalha campal! Semifinais ... e à frente da Sele-Inter estava a fortíssima Itália ... Zenga, Massaro, Baresi, Fanna, Tancredi ... muitos embates contra Dunga, Gilmar, Mauro Galvão, Luiz Carlos Winck pelas suas seleções principais o mundo ainda iria ver! Jogo duríssimo, bem jogado, decidido no detalhe, Brasil 2 x 1 Itália. A Epopeia estava perto do final. E que final! A poderosa França, atual Campeã Europeia. A França de Henri Michel, um técnico que faria história! Estádio Rose Bowl com 101.799 pessoas, o maior público em um jogo de futebol das Olimpíadas. E o Brasil jogou muito! Lutou bravamente, heroicamente ... a final teve na escalação Gilmar, Ronaldo, Pinga, Mauro Galvão e André Luiz; Ademir, Dunga e Gilmar; Tonho, Kita e Silvinho. Apesar de toda a entrega, toda a luta, a França era um adversário formidável! Esta mesma seleção, com o acréscimo de craques como Jean Amadou Tigana e Michel Platini travariam uma batalha histórica e espetacular contra a Seleção Brasileira principal na Copa do Mundo de 1986, vencendo e tirando o Brasil daquela Copa. E nesta Olimpíada de 1984, a história da Sele-Inter terminou com a derrota de 2 x 0 para esta poderosa seleção francesa!


Bom, as historias ... um título importante, a país conquistou mais algumas medalhas de
prata na modalidade, mas o ouro só chegou em 2016, com Neymar e companhia. Vejam
bem, o futebol Olímpico é bem mais antigo que a Copa do Mundo, temos o exemplo do Uruguai , a Celeste Olímpica, que alcançou status de potência do futebol pelas Olimpíadas conquistadas! Luiz Carlos Winck segue carreira como treinador de futebol. Todos tiveram êxito em suas carreiras como jogadores, o espírito que apresentaram naqueles jogos foram de vencedores. Mauro Galvão é hoje considerado um dos maiores zagueiros da história do futebol brasileiro. E Dunga dispensa comentários. Vencedor da Copa do Mundo de 1994 como jogador, foi treinador da Seleção Brasileira na Copa de 2010, uma trajetória vitoriosa em que conheceu a derrota no jogo que tirou o Brasil da Copa, contra a Holanda.


E Kita. O Centroavante foi artilheiro por onde passou. Sua trajetória foi épica, como a história desta seleção. Em 1983 foi artilheiro jogando pelo Juventude, treinado por Luis Felipe Scolari, daí indo para o Internacional. Em 1986, é vendido para a Inter, de
Limeira, e torna-se o artilheiro do campeonato paulista daquele ano, contribuindo para o título paulista inédito da Inter; jogou ainda no Flamengo, na Portuguesa, no Grêmio e
no Atlético Paranaense, aposentando-se nos anos 1990. Em 2011, após complicações de uma cirurgia, teve seu pé esquerdo amputado na altura da tíbia. Em 2015, foi internado em sua cidade natal, Passo Fundo, por complicações em decorrência da diabetes e de um câncer. Lembro das campanhas nas rádios, em especial a rádio Gaúcha, que sempre escuto, por orações e ajuda a este jogador, que estava em dificuldades. Lembro das palavras de Dunga, Mauro Galvão, Renato Portaluppi e tantos outros que vieram à sua ajuda, prestar solidariedade à família. E foi assim, em 2015 perdemos o grande Centroavante.



Sou Gremista, mas também um gaúcho e um brasileiro, e o Inter honrou nossa cidade, nosso estado, nosso país! O nosso Centroavante foi um lutador, um guerreiro até o final, assim como aquele formidável time.

Regozijem-se, Colorados! Foi lindo!


Sandro Ferreira GomesProfessor de Língua Portuguesa, Conselheiro Municipal de Políticas Culturais em Gravataí/RS, Servidor Público, Porto Alegrense, admirador das belas artes, do texto bem escrito e das variedades de pensamento.

Sandro Gomes














03 ANOS DE COLETIVEARTS
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