PELELINGUA SEDENTOBEIJO
EDUARDO SEVERINO |
Em 2020 um cenário quase surreal abateu-se sobre o mundo, nos modificando, trazendo inquietações, incertezas e novos olhares. A pandemia de Covid-19 nos mostrou o que existe de melhor e o de pior na humanidade. E o que existe de melhor são aqueles inquietos, aqueles que acreditam na ciência, na educação, na cultura, na arte. Aqueles que não aceitam, como diria Cazuza, "tanta babaquice, tanta caretice desta eterna falta do que falar". Eduardo Severino Cia. de Dança faz parte deste grupo.
MARCO FILLIPIN |
Em seu espetáculo Pelelingua Sedentobeijo, a Eduardo Severino Cia. de Dança nos traz o desejo e a ausência do beijo durante a pandemia. O projeto foi contemplado pelo Fumproarte em 2016, mas recebeu o financiamento apenas em 2020, precisando ser reformulado por casa da pandemia.
MÔNICA DANTAS |
O que a impossibilidade do beijo suscita no corpo? Esta foi a provocação da Eduardo Severino Cia. de Dança feita a sete bailarinos isolados 18 meses para a montagem do espetáculo, que nasce de mais uma inquietação da companhia em investigar comportamentos sociais: o ato de beijar, o desejo e o calor humano, trazendo assim à cena a sensualidade, o desejo e o erotismo na solitude.
LUCIANO TAVARES |
A temporada de apresentações ao vivo ocorre nos dias 27, 28 e 29 de agosto e 03, 04, e 05 de setembro, sempre às 23h, pelo YouTube da Eduardo Severino, em link privado. Para assistir, o público deverá enviar e-mail para pelelinguasedentobeijo@gmail.
GABRIEL MARTINS |
“Corpos sedentos de pele, de língua e de toque e um vírus invisível, sem precedentes, que gera desconfiança nas relações. Todos os sentimentos extravasados no mundo virtual. Esses foram os propulsores da nossa proposta coreográfica, em que os movimentos gerados pelos estímulos internos e externos, as sensações do desejo, a carência, a falta do conforto do outro, a desconfiança, as distâncias, as ausências, as presenças diáfanas, a impotência e a nossa fragilidade construíram o espetáculo”
- Eduardo Severino
EDUARDO SEVERINO |
Ficha Técnica:
Direção-geral: Eduardo Severino
Intérpretes criadores: Eduardo Severino, Gabriel Martins, Daniel Aires, Luciano Tavares, Marco Fillipin, Mônica Dantas, Tatiana da Rosa e Viviane Gawazee
Cenografia: Rodrigo Shalako
Consultoria de figurino: Luciane Soares
Design gráfico: Adriana Sanmartin
Edição de vídeo: Alex Sernambi
Assessoria de Imprensa: Roberta Amaral
Redes sociais: Verônica Prokopp
Fotografias: Lu Trevisan
Produção: Luka Ibarra/ Lucida Cultural
Horário: 23h
E-mail para solicitar
Nós do Arte e Cultura fomos convidados para assistir o ensaio de forma online e ficamos encantados com o espetáculo que é instigante, hipnótico e provocador. Com a tela dividida por vezes em quadros, as ações vão se desenrolando concomitantemente, parecendo uma história em quadrinhos no estilo de uma Graphic Novel, que nos tira de uma zona de conforto. Pelelingua Sedentobeijo é imperdível. Aproveitando que se aproxima a sua estreia, fomos conversar com o diretor do espetáculo, Eduardo Severino.
EDUARDO SEVERINO
JORGINHO: Quem é Eduardo Severino?
EDUARDO SEVERINO: Bailarino, coreógrafo, professor, inquieto, querendo paz, artista independente, natureba, danço há mais de 30 anos, faço treinamentos diários para manter o corpo atento, tenho 58 anos, sobrevivo de fazer dança, sou de esquerda, humanista, vivo intensamente o hoje.
JORGINHO: Explique para o leitor o que a dança representa para você.
EDUARDO SEVERINO: A dança para mim significa estar/existir no mundo. Através da dança me comunico, troco energias, me alimento, viajo, me sustento, me conecto com meu interior mais profundo, me conecto com o externo, com o periférico, com a vida, com a morte, com o saber.
JORGINHO: Eduardo, você como artista, um ser que lida com a força e sensibilidade ao mesmo tempo, como está enxergando esse momento político social, de retrocessos e preconceitos que estamos vivendo?
EDUARDO SEVERINO: ASSUSTADOR, mas preparado para guerra se for necessário. Quando crio meu trabalho penso nessa gente, gosto de enfrentar essa babaquice careta, cafona, jurássica, medieval.
JORGINHO: Como a pandemia obrigou a reinvenção dos espetáculos de dança?
EDUARDO SEVERINO: Adaptações gerais tiveram que ser feitas, como criar, como dar aulas, como dirigir um trabalho, como apresentar o trabalho, tudo, hahaha, somado a todo o conhecimento que eu não tinha sobre tecnologia, o digital, adaptar os espaços físicos para o trabalhar em casa, mas aos poucos fui aprendendo e entendendo como fazer. Só sei que nada sei ainda, mas descobrindo.
JORGINHO: Fale sobre o Pelelingua Sedentobeijo, o que o público pode esperar deste espetáculo que irá acontecer nos próximos dias?
EDUARDO SEVERINO: Pelelingua Sedentobeijo começou a ser pensado em 2013 numa performance que fizemos numa ação na Sala 209, espaço que administramos no projeto Usina das Artes, no dia 29 de abril, dia Internacional da Dança. Em 2016 apresentamos um projeto ao Fumproarte chamado O BEIJO e fomos contemplados. Em 2019 fizemos um estudo e apresentamos num bar, Von Teese onde o contato era explicito. Em 2020 o financiamento foi liberado, no início de uma pandemia, antes tínhamos o contato físico, na pandemia várias questões surgiram, sobretudo: Como vamos fazer? Não sabíamos ao certo o tempo que iria demorar a pandemia, então no início pensávamos em apresentar o trabalho na rua, depois num caminhão e por fim com a bandeira preta, no online mesmo. No final de 2020 começamos o processo, cada um nas suas casas (pequeno histórico). Chegamos à conclusão que uma grande questão a ser pesquisada seria: "O que a impossibilidade do beijo provoca no corpo?" Viajamos nas sensações, no desejo pelo outro, pelo calor do outro, pela boca do outro, trabalhamos com a ideia de que a boca e símbolos conduziriam a dramaturgia do trabalho, trabalhamos com a boca lânguida, boca voraz e como isso reverberaria no corpo, com fetiches individuais, texturas diferentes, olhares do outro lado da tela, o voyer. Oito indivíduos sedentos pelo calor e afeto do outro. Oito palcos com música tema de Adriana Deffenti.
JORGINHO: Poderia deixar uma mensagem para o publico leitor?
EDUARDO SEVERINO: A arte ajudou a todos nessa pandemia, portanto consuma arte, consumir arte hoje é a maneira mais delicada e civilizada de resistir e existir, a arte transforma.
Jorginho |
1 Comentários
Ameiiiii! Muita sensibilidade nas fotos! Estou curiosa para ver a apresentação!
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