CONTRAPONTO

 

        Ser Solteiro

A sociedade nos motiva diariamente a formar casais. Na maioria dos filmes, sempre tem cônjuges se formando, as novelas giram em torno de casais, os contos de fadas foram tão desconstruídos que parecem falar só de par perfeito, as séries circundam em torno de romances e assim crescemos vendo a vida: aqueles que não estão em uma relação amorosa, prestes a entrar numa ou sofrendo violentamente por um amor platônico, têm algo de muito errado.


Porém, em nenhuma parte desse trabalho árduo social em torno do relacionamento amoroso, mostra-se a realidade de se relacionar com outras pessoas. O fato é que, normalmente, embarcamos nesses navios furados sem antes saber nadar. Quando afunda, permanecemos nos debatendo até pular para cima de outro navio furado ou morremos na praia da solidão dramática, digna de reprise na Televisa!


Já é clichê, mas nunca deixou de ser verdade: não tem como viver uma relação à dois (ou mais) se você não tem a mínima ideia de quem é e o que faz aqui no mundo. Ninguém veio a passeio. Muitas pessoas abdicam de necessidades fundamentais suas, para continuar vivendo o tal “grande amor” e observo isso diariamente no meu meio social, principalmente no lado feminino, que é sempre mais cobrado pelo sucesso ou fracasso das uniões.

Nós, mulheres, sempre nos cobramos mais, infelizmente. Percebo que para o universo masculino (veja bem, falo da maioria dos casos!) ainda é mais prático terminar a relação que não está mais dando certo, que no feminino. Sempre vem a desculpa “estamos muitos anos juntos” ou “recém começamos a namorar e vou terminar?”, “temos um filho juntos”, “quero tanto um filho e essa é minha chance, depois eu vejo” e por aí vai.


Não que eu esteja dizendo que nós, mulheres, somos as vítimas dos malvados homens, que só querem transar, depois nos abandonar e quem quiser, que fique com o resto de nós. Pelo contrário, nós nos colocamos - inúmeras vezes - nessa posição de vítimas, de sexo frágil, de dependência emocional, para não assumirmos que o mundo não é mais o mesmo, que ninguém está esperando filhos da sua parte para continuar a espécie, que não é feio uma mulher sozinha aos 30 anos, feio é apanhar na rua de um traste, ganhar chifres no bairro inteiro ou viver de escrava do lar em nome da criança em corpo de homem, incapaz de levar o próprio copo para a pia.


Esse domingo foi o Dia dos Solteiros e quem está solteiro não deve se sentir envergonhado, desprezado, rejeitado ou o cocô do cavalo do bandido. Nós, solteiros, devemos lembrar que nascemos assim, solteiros mesmo, e iremos morrer sozinhos, mesmo com uma multidão ao redor. Nossa companhia eterna somos nós mesmos. Devemos lembrar que para estar em relacionamentos, precisamos saber quem somos e ter muitos pilares de base em nossas vidas pessoais para não sobrecarregar ninguém que vier. Viva a solitude e não a solidão. Se você está vivendo a solidão, essa é a oportunidade de se recuperar! Vamos celebrar, com alegria, nosso corpo e nosso espírito, para depois saber onde nos encaixamos e onde não vale nem a pena se demorar um segundo.



Miriam Coelho é artista das imagens e das palavras


Miriam Coelho














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COLETIVEARTS, 03 ANOS CONTANDO HISTÓRIAS, CRIANDO MUNDOS.



Sempre algo interessante
para contar!

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2 Comentários

  1. Perfeito! Um tema muito delicado, Miriam fala bem, escreve bem. Eu tenho dificuldades ainda para tratar destes assuntos, apesar da maturidade. Sou de uma geração criada sob uma fórmula namorar-noivar-casar, que mulher tem que ser assim e assado, que homem tem que ser .... Convenções! Hoje, quase 50 anos, me vejo solteiro, feliz e escrevendo. Viva a solitude! Homens e mulheres, e difícil escrever sobre este tema com tanta desenvoltura quanto Mima faz. Ótimo texto!

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    1. Verdade. Percebo que é um tema muito delicado de se falar e que muitas pessoas têm diversos preconceitls. É por isso mesmo que acredito que precisamos falar mais. Sou assim: cutuco a ferida até perder a sensibilidade. Kkkkkkk
      Uma hora, esse mundo fica melhor!

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