ARTE E CULTURA



No que resultou meu contato com
 o trabalho de Valdir da Silva



A primeira sensação que tive quando ouvi sobre a exposição de um fotógrafo cego, foi a de ser tomado por todos os preconceitos que acreditava não ter. Uma série de certezas pré concebidas vieram de forma imediata e dominaram meu cenário mental. De cara pensei ser algo inviável e comecei a tecer teses a respeito. Até que me veio um pensamento: Como posso estar determinando o que é essa experiência sem ao menos tentar entendê-la com o mínimo de abertura? Como eu, um não cego, posso avaliar o que é essa experiência para um cego? Logo percebi o ridículo de ter assumido o papel de juiz, tão em voga hoje em dia. Pensei nas pessoas que não entendem a poesia me questionando sobre “que onda é essa de ficar fazendo poesia?” ou “o que você ganha fazendo isso?” . Hoje dá cansaço só de começar a explicar tais questionamentos, pois as pessoas que o fazem normalmente não estão interessadas nas respostas. Elas, sem entender, querem me provar que a experiência não tem valor. Daí veio o sentimento sobre o ridículo em que me encontrava, a necessidade de tentar entender e a sacação que para entender teria de ter o mínimo de abertura.

Como não tinha o contato de Valdir da Silva, o tal fotógrafo cego, fiz contato com Jorginho, curador da exposição, e falei sobre o desejo de saber mais sobre o processo de trabalho de Valdir. Jorginho trouxe o próprio Valdir para responder através do curta depoimento em que o fotógrafo fala não só do processo, mas da experiência em si. Assisti duas vezes seguidas e depois conversei um pouco com Jorginho sobre. Ele então passou-me as fotos e pediu para escrever sobre a conversa que tivemos.

Acho que poderia terminar falando sobre a experiência que o diálogo com este trabalho me trouxe. Primeiramente colocou-me em contato direto com meus preconceitos, fez-me refletir sobre eles, assumi-los e buscar o conhecimento a respeito do que se falava para chegar a um conceito com maior solidez. Obviamente ainda não consigo saber exatamente o que é a experiência para o Valdir, pois, isto, só a ele pertence. Mas permitiu-me exercitar a abertura para o novo, para o incompreensível e a busca pelo conhecimento. Permitiu-me passar rapidamente pelas respostas fáceis e a resistência em sair da zona de conforto onde sabemos, por exemplo, que um cego não fotografa e pronto. Pois fotografa sim. Tá aí o Valdir, ué.

Nestes tempos em que todos estão fechados em suas próprias bolhas, fragmentados em microgrupos cheios de certezas e que a superficialidade impera, manter o diálogo aberto e fomentar o questionamento sobre o que percebemos a primeira vista é fundamental para não cairmos nas armadilhas do nosso próprio interior, formatado desde a nossa infância para repetir ideias prontas.



Exposição acessível Imagens da Alma
Valdir da Silva (Fotógrafo cego)
Curadoria: 
Jorginho (ColetiveArts)
Visitação: Até o dia 03 de novembro de 2021 (seg - sex, das 9h às 18h)
Local: Quiosque da Cultura (Praça Leonel de Moura Brizola, s/nº)
Imagens de vídeo: Oldie Nerd, Luciano Xaba e Geovanni Beneditto.
Áudio descrição no vídeo: Jéssica Miranda
QR Code: Jorginho

* Conforme Decreto municipal vigente, todos os protocolos sanitários para enfrentamento da pandemia serão observados.
 


(*) O escritor Fabio da Silva Barbosa, um dos membros mais antigos e ativos do ColetiveArts  (é dele a coluna Malditos Teclados Bailarinos ), está de livro novo: Fábrica de Cadáveres - Do forno ao moedor.  Dono de um olhar cirúrgico, Fabio é um verdadeiro cronista do underground, caminha pelos becos e bares da vida, que depois transforma em textos que são verdadeiras pedradas nas janelas dos "donos da moral e dos bons costumes".

Para adquirir  Fábrica de Cadáveres - Do forno ao moedor:

fsb1975@yahoo.com.br  ou  editoramerdanamao@yahoo.com


FABIO DA SILVA BARBOSA


03 ANOS DE COLETIVEARTS
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