CONTRAPONTO

 

Você merece ser feliz

Semana passada iniciamos o mês de setembro e com ele as campanhas do “setembro amarelo”. É realmente alarmante o número de pessoas que tiram suas vidas e é mais doloroso ainda imaginar que isso acontece principalmente pela forma como nossa sociedade é construída. Somos criados, desde cedo, com “engole o choro”, “para de drama”, “não exagera”, e assim passamos por cima das condições dos demais. “Forte” e aceito é aquele que aguenta tudo no osso sem chorar! Esse trabalha das 7h às 20h, chega em casa e faz faxina, equilibra as contas e não derrama uma lágrima ou queixa sequer! Passa a ser fraco aquele que demonstra qualquer dor ou desequilíbrio emocional diante de todos os desarranjos e doenças sociais.


É do nosso costume ignorar a pobreza das ruas, a vizinha que apanha do marido, o primo que está sem dinheiro para pagar as contas no final do mês ou o colega que chegou mais calado no trabalho. Os que não estão fazendo parte dessa “força” vão para a margem da sociedade e ainda são cobrados para saírem de lá sozinhos. O meio em que vivemos cria pessoas tristes para cobrar delas mesmas estas tristezas. “Tá pedindo esmola, mas podia estar trabalhando”, trabalhando de quê, se o desemprego aumentou e a maioria está aceitando misérias para sobreviver? “Tá chorando pelos cantos porque é mimizento, só sabe se queixar”, mas quando você está triste, quer respeito! “Apanha do traste porque é sem vergonha, não sabe largar ele!”, mas não faz ideia de toda a construção violenta que o agressor fez sobre a vítima.


Passei por muitas dificuldades em minha vida e tive algumas crises de depressão. A mais forte começou quando eu ainda era adolescente. Ficava sem comer, chorava o dia inteiro e pensava em não viver mais. Até que, com 21 anos, procurei uma psicóloga por conta própria. Descobri muitas coisas erradas na minha vida e a partir dali iniciou o meu longo e árduo processo de libertação e reequilíbrio.


Mas não pensem que nesse meu equilíbrio (que ainda, com 32 anos, continua em construção) vão me ver falando baixinho, me vestindo como todo mundo e dando “like” em perfis de mulheres saradas no instagram, anotando as dicas de butox e dejejum emagrecedor! Meu equilíbrio é muito pessoal. Falo alto, faço caretas e expressões, pinto os cabelos da cor que eu quero, passeio de batom azul e não aceito que mande em mim quem não me prova capacidade!


Uma das coisas que percebi com as minhas depressões é que eu tentava viver da forma que os outros achavam certo. Eu não fazia ideia de quem eu era, minhas concepções sobre mim mesma eram as ideias limitantes das outras pessoas. Pode parecer clichê, mas um dos elementos básicos que nos faz atravessar o tortuoso mar da depressão e nadar para águas mais calmas é mergulhar nesse mar com a coragem de ver o que está causando toda essa tempestade. 


A depressão e a tristeza não vieram de graça. Existem elementos causadores e explicações. Será que você vive como realmente quer viver? Se não vive, o que pode fazer para melhorar? Quais traumas ainda ressoam na sua vida? Como você pode vê-los de outra forma?


Não estou dizendo aqui que as respostas são óbvias, tão pouco fáceis de se assimilar. Requer uma ajuda profissional e, principalmente, boa vontade da nossa parte. Uma das minhas maiores certezas, quando procurei ajuda, é que eu queria ser feliz. Atualmente é o que me move a todo momento. Quando percebo que estou inserida num relacionamento problemático, num ambiente doentio, numa situação tóxica eu pulo fora! Quero ser feliz! Não importa quem você seja, de onde tenha vindo, quem são seus pais, o que fizeram com você e o que ainda fazem. Você nasceu para ser feliz! Todos nós nascemos para encontrar o caminho da felicidade, mesmo diante das maiores dificuldades. Pego de exemplo, sempre, os maiores revolucionários do mundo. Se os nossos intelectuais, revolucionários, condutores da nossa sociedade tivessem desistido diante dessa sociedade doente e cega, ainda estaríamos nas trevas, defecando em janelas, acreditando que a mulher nasceu apenas para gerar filhos e morrendo de gripes e infecções aos 28 anos.





Miriam Coelho é artista das imagens e das palavras

Miriam Coelho


03 ANOS DE COLETIVEARTS
 NÃO ESPALHE FAKE NEWS, ESPALHE CULTURA!

SIGA-NOS EM NOSSAS REDES SOCIAIS:


Sempre algo interessante
para contar!

Postar um comentário

3 Comentários

  1. Sem palavras! Mais uma vez, um EXCELENTE texto de Miriam Coelho! Que reflexões! Que visceral!!!!

    ResponderExcluir
  2. Ótimo texto, minha ansiedade também vem das cobranças alheias, eu nunca me encaixei num padrão social que esperavam. Mas muito cedo assumi quem eu era, exagerada, pesquisadora, decidida e sim mulher. Uma mulher que não aceita os padrões de uma sociedade machista que luta pra ser ela mesma. Também busquei por conta própria psicólogos para ajudar a me entender melhor e o que me fazia mal

    ResponderExcluir
  3. Isso é o mais importante, Laís: ter coragem de descobrir quem realmente somos! ❤

    ResponderExcluir