CONTRAPONTO

 

Campo quântico e relações (parte 2)


Para dar continuidade à reflexão sobre a minha experiência com constelação familiar, vou falar novamente dos pais e um dos pontos mais importantes, a hierarquia na família e a exclusão.


Essa palavra “hierarquia” sempre foi difícil de tragar para mim, pois soa como ditadura, como se existisse um superior o qual devo obedecer cegamente e nunca questionar. Mas depois da vivência em grupo, a qual eu fui um peão no campo quântico de alguém, pude entender muito melhor o que significa essa hierarquia dentro da constelação familiar.


Quem veio antes de nós é maior do nós no sentido de que não podemos cuidar deles, não somos responsáveis pelas suas escolhas e nem pelos resultados. Nossos avós, bisavós e tataravós tiveram suas vidas de acordo com o conhecimento que tinham e as limitações de suas épocas. Portanto, não devemos julgar, recriminar ou querer modificar a vida dos que ainda estão vivos, mesmo que seja por amor. Eles estão acima de nós e nós estamos acima dos que vierem depois. 


Inconscientemente existe em nós uma fidelidade ao passado, como se quiséssemos nos responsabilizar pelo que nossos maiores viveram repetindo o mesmo padrão, mesmo que inconscientemente. Como a quebra da feminilidade em nossa vida, porque nossos antepassados femininos sofreram por ser mulher. Isso é muito comum, inclusive. Repetimos os padrões a fim de nos sentirmos parte da família ou de nos responsabilizarmos pelo que nossos anteriores viveram.


Quanticamente, temos a lei do pertencimento, portanto todos que foram gerados na família pertencem a ela, até mesmo os que não nasceram ou nasceram mortos. Excluir alguém por qualquer motivo gera um desequilíbrio grande nessa família, pois a hierarquia se torna incompleta. É como se estivéssemos atravessando um rio tortuoso num barco gigante. Alguns lugares estão faltando, portanto os demais têm de fazer um esforço maior para atravessar em segurança. Mas se todos os lugares estiverem ocupados, ninguém se sobrecarrega.


Nessa lei do pertencimento, entra um grande ponto o qual quero falar e que meu amigo Jorginho vem me pedindo já faz um tempo, porém tenho muitas dificuldades: a alienação parental e demais conflitos entre os pais.


Todos temos um papel importante e uma posição na família. Quando o casal entra em conflito e mexe na dinâmica relacional com o filho, isso causa resultados doentios e muito difíceis de curar. Durante a vivência com Constelação Familiar, fizemos diversas posições no tabuleiro energético e eu fui lembrando de casos que vejo na vida real, como quando a mãe substitui o marido pelo filho, quando o pai exclui a mãe da vida da criança, quando o filho não aceita os próprios pais e assim vai. Temos diversas possibilidades de desequilíbrio nesse conjunto familiar e que irão gerar diversos tipos de doenças energéticas. Não falo aqui que é errado um casal se separar ou ter problemas no relacionamento. Falo aqui que o relacionamento do casal diz respeito apenas a este casal e que os filhos devem ser apartados desses problemas e respeitados. Não existe ex pai nem ex mãe, a relação dos pais com os filhos deve ser intocada durante os processos de brigas e divórcios. Mesmo que não sejam bons pais, na nossa limitada opinião, os filhos ainda têm direito de vivenciar seus relacionamentos.


Eu sofri alienação parental desde que me entendo por gente, não julgo essa atitude pois minha mãe fez o melhor que podia por mim, dentro do que ela conhecia do mundo na época, todos nós erramos em maior ou menor grau. Se ela soubesse do peso que ela trouxe para a minha vida quando eu ainda era muito pequena, tenho certeza de que ela jamais teria tomado essa atitude. 


Atualmente, ainda sinto muita raiva do meu pai. Percebi isso durante a vivência em grupo, quando uma das integrantes passou a ser o meu pai. Ela sentia muita dor na coluna, como se estivesse carregando o mundo nas costas e eu sentia raiva. O curioso disso tudo é que a menina que fez essa dinâmica comigo também tem problemas com o pai e, consequentemente, assim como eu, problemas com os relacionamentos amorosos.


Para a mulher, o pai é a primeira experiência de um parceiro masculino. Quando a figura paterna é desestruturada, a filha irá procurar parceiros que simbolizam essa desestruturação sempre, na eterna busca por reparação do passado. O mesmo acontece com o homem e sua mãe.


Quando os filhos tomam seus pais para si nesse entendimento hierárquico o qual mencionei acima, suas vidas passam a funcionar de forma mais harmônica. Essa “tomada dos pais” não é ficar chorando em cima de um túmulo tudo que não chorou antes, ou ficar visitando todos os dias seus pais e forçando uma convivência a qual nunca existiu antes. Tomar seus pais para si é entender que eles vieram antes de nós, que eles têm todo o direito e a liberdade de fazer de suas vidas o que bem quiserem e nós somos os que vieram depois, os que devem compreender, não julgar e honrar a vida que recebemos desses pais da melhor forma possível. Quando nos libertamos das posições que não são nossas, a energia flui de forma saudável e nossas vidas também.


Já tive um namorado, por exemplo, que a mãe o colocou no lugar do pai, logo que esse pai faleceu. Esse homem tem uma vida muito confusa e em desequilíbrio, pois está sempre em conflitos com a mãe, que cobra dele uma fidelidade que não lhe pertence. Ela não aceita nenhuma das namoradas do filho e está sempre competindo com elas. Enquanto ele permanecer nessa dinâmica doentia e não se colocar na posição de filho novamente, ele jamais conseguirá ter um relacionamento saudável com mulher alguma e nem com sua mãe. Por sua vez, ele espera das parceiras uma atitude maternal, porque não tem isso da mãe, ao mesmo tempo que tem uma mãe que quer ser tudo na vida dele.


Quando transformamos a forma que vemos nossos pais e nosso passado, iniciamos o processo de libertação. Para quem já tem filhos e está em processo de separação, é importante lembrar da importância da presença dos dois (pai e mãe) na vida das crianças. Para quem já é adulto, sofreu alienação parental e tem uma visão distorcida do seu passado, é importante procurar formas de rever o que aconteceu e curar.




Miriam Coelho é artista das imagens e das palavras

Miriam Coelho


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1 Comentários

  1. Eu tive um ex que a mãe era bem estranha, não sei se colocava ele no lugar do pai, pois era casada, mas era extremamente controladora com todos da família, morria de ciúmes dos dois filhos, do marido. Ligava toda hora, incomodava, não queria deixar eles trabalharem fora de casa, era algo assustador, fez da minha vida um inferno e o pior é que aceitei por muito tempo isso.

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