ARTE E CULTURA

Tornando-se - Parte 2


No segundo texto da série falando sobre o mês da Consciência Negra relato sobre um importante momento de minha trajetória enquanto mulher negra: a adolescência. 

Não julgava-me bonita,  parecia óbvio que precisaria de muito esforço para assegurar algum espaço, ou seja, o racismo estrutural estava atingindo seu objetivo, fazendo-me sentir inferior aos outros. 

Tinha aproximadamente quatorze anos quando iniciei o curso de Magistério na escola normal Dom Feliciano, no município de Gravataí-RS. Um investimento que exigiu muito de meu pai, dinheiro suado, lembrança que carrego na memória até hoje, quando nas datas de vencimento das mensalidades, ele contava literalmente moeda por moeda.

Era um momento sagrado, quase um ritual...E a adolescente calava no peito mais um precioso ensinamento...

Na busca por referências encontrei, em uma das minhas inúmeras investidas na biblioteca, um livro sobre Martin Luther King. Lembro do meu encantamento pela trajetória do reverendo. Nascia ali a ativista...Inicialmente ingênua, não percebendo o caráter estratégico do discurso de King. Era uma adolescente completamente deslumbrada com uma fala  potente e aparentemente pacífica. 

Uma jovem negra, pobre e fora dos padrões estéticos impostos pela sociedade. No entanto o conhecimento foi a ferramenta certa para reescrever minha história. 

Sem a presença da avó paterna, faltava-me o elo com a ancestralidade,  que de uma certa forma Luther King restaurou. Despertava em mim o ser político, a necessidade pelo debate e o exercício do pensamento crítico. 

Martin Luther King resgatou-me do comodismo e afastou-me da zona de conforto, que o racismo estrutural estrategicamente me ofereceu. Retomei minha procura , por algo que nem mesmo eu sabia exatamente o que era. E olha que  ainda nem conhecia Angela Davis... 


Angela Maria Xavier Freitas é a atual Presidente do Clube Literário de Gravataí, escritora, poeta, e professora. Possui descendência africana e também ascendência indígena. Graduada em Letras com Especialização em História e Cultura Afro-brasileira. Também atua como diretora de teatro estudantil, tendo recebido em 2018 o troféu Desconstrucão da História Oficial com a esquete Lanceiros Negros no Festil em Gravataí. Autora dos contos infantis Lanceirinho Negro e Lanceirinho Negro/Herança de Porongos. Integrante dos coletivos Profes pretas e Educação antirracista do Rio Grande do Sul. Atualmente é graduanda do curso de Espanhol pela UFSM e orientanda da UFRGS.



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2 Comentários

  1. Mais um belo texto!!! Excelente! Adoro Martin Luther King, e tantos outros ligados a luta pelos direitos civis norteamericanos ... Os panteras negras, os atletas (:em especial Cassius Clay - Muhammad Ali e Kareem Abdul Jabbar) ... Ângela foi uma adolescente interessantes, grandes influências!!!!

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  2. Gratidão, Sandro!
    Tem uma citação do reverendo King que ainda me inspira em minha luta diária: "Quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele."
    Abraço, amigo!

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