ARTE E CULTURA

PARA TODES COM CARINHO: 

EDUARDA OURIQUES


"Olá queridos alunos, alunas e alunes", assim começa o vídeo "Paulo Freire para crianças", realizado por Eduarda Ouriques, contemplado pelo edital 001/2021 - Ocupação Cultural: Intervenções Urbanas e Digitais e financiado com recursos do Fundo Municipal de Cultura e Prefeitura de Gravataí/RS, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer (SMCEL), de Gravataí/RS. Um vídeo sensível e divertido, que atraiu discursos de ódio e preconceitos, não só por causa do pronome neutro que traduz a nova realidade inclusiva em que vivemos e que muitos atacam com a desculpa de que "estão matando a língua portuguesa", para justificarem sua homofobia, mas também por trazer como conteúdo Paulo Freire, o "terror comunista", aliás, como o "perigo comunista" virou o bicho papão de pessoas intelectualmente limitadas...

Sobre o pronome neutro que é inclusivo, ele é uma realidade no mundo inteiro e não fere a Língua Portuguesa, a língua é viva, ela se adapta ao seu tempo, refletindo e produzindo uma nova realidade, que por consequência irá novamente mudar a língua, forçando a se adaptar, refletir o novo tempo, produzir uma nova realidade, em um ciclo sem fim. Ou você encontra muita gente por aí falando "vosmecê"? Que, aliás, já era a transformação de vossa mercê; hoje é somente você, ou no "internetês": vc. Uma boa dica é ler teóricos que falam sobre o tema, como Michel Foucault na sua obra máxima "As palavras e as coisas", ou Noan Chomsky em " A teoria da Linguagem". Também deixo aqui link para uma matéria bem interessante publicada no site Nova Escola, intitulada a Língua é viva. Para ler, clique aqui

Falar sobre Paulo Freire é falar sobre o brasileiro mais condecorado na história, são mais de 40 títulos de Doutor Honoris Causa em universidades no Brasil e no exterior, é o terceiro autor mais citado em trabalhos acadêmicos de Ciências Sociais no mundo. Combatido à exaustão pela extrema direita, ele sempre pregou o pensamento critico. Então, se você não conhece a obra dele (conhecer pelos grupos de zap não é conhecer), pegue um livro dele, leia. Se não gostar, aponte o que não gostou, fazendo isso você vai estar fazendo o que ele pedia, criticidade e autonomia de pensamento. Se você quiser saber um pouco mais sobre Paulo Freire, existe vasto material para pesquisa, deixo aqui uma matéria do site Nova Escola, ela é bem didática. Para ler, clique aqui.

O ColetiveArts acredita na pluralidade de olhares e de mundos, só não acredita no olhar do ódio, do preconceito  e da exclusão. E para aqueles que acham que estamos errados, deixo aqui as palavras de Belchior, em "Como nossos pais":

     "...é você quem ama o passado e que não vê que o novo sempre vem!"

Para assistir o vídeo  PAULO FREIRE PARA CRIANÇAS da Eduarda Ouriques, clique aqui.
 
Os ataques covardes receberam nota de repúdio da Departamento de Arte Dramática da UFRGS (para ler, clique Aqui ) e uma carta aberta do Conselho Municipal de Cultura de Gravataí/ RS (para ler, clique Aqui).

Nós, do Arte e Cultura, fomos conversar com a Eduarda, conhecer um pouco mais dela, do seu trabalho e do seu pensamento. Eduarda Ouriques, tem 22 anos e é graduanda em Teatro - Licenciatura na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), produtora, oficineira, contadora de histórias, pesquisadora e recreadora. Trabalha com teatro desde 2017, é a  realizadora do Projeto Construindo Brinquedos e História, financiado a partir do Edital do Fundo Municipal de Cultura de Gravataí, Arte em Casa e realizadora do Construindo Brinquedos e História 2.0, financiado a partir do Edital N° 10/2020 Saberes e Fazeres Culturais. Em 2021, realizou o projeto Paulo Freire para Crianças,  contemplado pelo Edital 001/2021 - Ocupação Cultural: Intervenções Urbanas e Digitais e financiado com recursos do Fundo Municipal de Cultura e da Prefeitura de Gravataí/ RS, por meio da SMCEL. Atualmente realiza uma pesquisa por meio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que pretende unir a filosofia de Paulo Freire com a metodologia de Jacques Lecoq, orientada por Cláudia Müller Sachs.

EDUARDA OURIQUES

JORGINHO: Eduarda, como foi a criação do projeto Paulo Freire para as crianças? 

EDUARDA OURIQUES: Tudo começou com a ideia de compartilhar o conhecimento que existe nos livros de Paulo Freire, só que de uma forma mais acessível para o público infantil. Eu pesquiso a filosofia de Paulo Freire na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e percebo o quanto algumas pessoas tem medo dessa filosofia por parecer algo muito distante. Mas a verdade é que os livros do Paulo Freire são lindamente simples e complexos, sendo sincera, ler os livros dele é como tomar um cafezinho com um amigo, só que nesse caso o amigo é o Patrono da Educação Brasileira. Então, o projeto surge com o intuito de compartilhar conhecimento, informar e claro, tornar tudo mais acessível e lúdico para todos os públicos, mas com foco no público infantil pois acredito que as crianças são agentes transformadores em constante formação e que é nosso dever como adultos, artistas e pesquisadores possibilitar instrumentos e formas para que elas possam trilhar esse caminho de forma segura, sensível e amorosa, possibilitando que elas possam, a partir disso, escolher no que acreditar, pelo que lutar e o que desejam transformar nesse mundo. Então, com o financiamento do Edital 001/2021 - Ocupação Cultural: Intervenções Urbanas e Digitais e com recursos do Fundo Municipal de Cultura e Prefeitura de Gravataí, por meio da SMCEL, o sonho de realizar esse projeto se tornou real. A partir disso, realizei muita pesquisa, selecionei os livros, o que falaria de cada livro, os objetos para contar essa história, tudo foi pensado e selecionado com muito carinho para conseguir fazer desse projeto uma forma de combater o medo e a desinformação com amorosidade, conhecimento e por que não, com um pouco de diversão.



JORGINHO: Para você, qual a importância de Paulo Freire? 

EDUARDA OURIQUES: Acredito que não só para mim, mas para o mundo, Paulo Freire nos ensinar a ter esperança, a nunca desistir de buscar um mundo melhor, ele mesmo se diz um sonhador e nos ensina a sonhar também com um novo mundo. Ele nunca parou de sonhar e de tentar transformar o mundo, para ter uma ideia: ele e sua equipe alfabetizaram mais de 300 trabalhadores em 45 dias, pois ele desejava que alfabetização fosse realizada a partir da realidade dos trabalhadores, usando palavras e situações que fizesse parte do cotidiano deles, e assim, ele e sua equipe fizeram isso com êxito. A preocupação de Paulo Freire era com as pessoas, com os sujeitos. Ele amava o mundo, amava as pessoas, amava lutar por transformações e foi a partir do amor, da esperança e de sonhos que ele abriu caminhos para que as pessoas pudessem amar, ter esperança e sonhar também. Todos falam da importância de seus métodos, livros e projeto e o que mais fica para mim disso tudo é que ele fez tudo isso a partir de sentimentos tão puros e que todos temos. Foi a partir dessa esperança e amor que Paulo Freire se tornou o brasileiro mais estudado de todos os tempos. Então, a filosofia dele me faz acordar pensando: o que eu posso sonhar e transformar a partir do amor e da esperança? Essa é importância de Paulo Feire para mim, ele abriu caminhos para eu descobrir como abrir meus próprios caminhos. 



JORGINHO: Como você enxerga esse momento cultural e político pelo qual estamos passando? 

EDUARDA OURIQUES: Não é um momento nada fácil, eu vejo colegas de trabalho realizando projetos incríveis com medo de possíveis ataques e discursos de ódio. Eu vejo artista com medo, cansado, mas jamais parando de criar só porque está difícil. Eles continuam criando, transformando e revolucionando. Agora imagina o quanto é difícil fazer isso em uma pandemia, na qual perdemos muitos trabalhos, muitos trabalhadores da cultura e ainda precisar ver um desgoverno discursar constantemente contra artistas e contra o que eles acreditam. Não é nada fácil, mas não paramos de ter esperança e de continuar buscando por transformação. Um exemplo é a comunidade artística de Gravataí, que eu percebo que ficou mais forte e unida nessa pandemia. Os trabalhadores de cultura de Gravataí buscaram realizar editais para nos amparar nesse momento, e fizeram isso com êxito. Isso nos aproximou, nos uniu e fez da cidade um lugar melhor, que é conhecida até mesmo fora da cidade, por ser um lugar forte em relação à cultura. Então, mesmo com desgovernos no Brasil, mesmo com medo e dificuldades, não paramos e continuamos constantemente transformando e construindo um lugar com mais cultura e arte. 


JORGINHO: Você foi atacada de uma maneira vil por causa do uso do pronome neutro e por falar sobre Paulo Freire nesse lindo projeto que foi contemplado em edital, qual a sua opinião sobre esses fatos? Na sua opinião, por que tanto ódio aos pronomes neutros e a Paulo Freire? 

EDUARDA OURIQUES: Sendo mais objetiva possível nessa resposta: tudo que é um avanço gera medo, principalmente para aqueles que são representantes do regresso. A linguagem neutra e a filosofia de Paulo Freire são avanços, por isso tanto ataque, tanto medo e revolta. Mas a linguagem neutra é apenas uma forma de ser mais inclusiva, não é ensinar ou doutrinar ninguém a nada, é apenas incluir. E a filosofia de Paulo Freire, como disse antes, é baseada em amor e esperança, é claro que isso vai ser transformador. Nem todos estão abertos para a transformação, para o amor e para a esperança. E tudo bem, isso faz parte do processo de mudança, não significa que isso irá nos parar de querer transformar o mundo em algo melhor para todes.


JORGINHO: Diante destes acontecimentos, e de tantos outros nessa mesma escala, quais as perspectivas que você enxerga para o Brasil nesse futuro próximo? 

EDUARDA OURIQUES: Sinceramente, eu sou uma pessoa muito esperançosa, sei que passaremos ainda por muitos momentos difíceis, por muitos ataques aos nossos direitos, por muito desamparo. Mas ao mesmo tempo acredito nas pessoas, acredito que a maldade existe sim, mas que ela não chega perto da bondade. E vejo constantemente pessoas buscando cada vez mais melhorar o mundo, criando projetos, criando novas realidades, dando a mão para o outro e criando amparo. Então, acredito que não pararemos de lutar e de ter esperança em transformar o Brasil, de transformar o mundo.

JORGINHO: Quais os planos da Eduarda para 2022? 

EDUARDA OURIQUES: Não parar de lutar e continuar tendo esperança para transformar, é a principal, com certeza! (risos). Desejo realmente continuar criando, continuar construindo projetos e formas para construir um mundo melhor. Tenho pensado já nos próximos projetos, e desejo que todos sejam feitos e realizados a partir de muita esperança e amor para que possam gerar isso também. O plano é continuar, por mais que tentem me parar, o plano continua sendo continuar em frente.

JORGINHO: Deixe uma mensagem para o leitor do Arte e cultura.

EDUARDA OURIQUES: Eu desejo muito amor e esperança para que nos momentos mais tristes e difíceis, vocês possam lidar da melhor forma. Eu desejo que vocês percebam que a mudança continua acontecendo, mesmo quando vemos tanto regresso. Eu desejo que vocês saibam a força que existe em um coração, para assim acreditar que temos forças para continuar. Essa é a minha mensagem para vocês leitores, continuem em frente por aí e eu continuo por aqui, e por fim saberemos que somos mais fortes juntes.
 

"Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção."

- Paulo Freire


Contatos Paulo Freire para crianças:


"Mas ao mesmo tempo acredito nas pessoas, acredito que a maldade existe sim, mas que ela não chega perto da bondade. E vejo constantemente pessoas buscando cada vez mais melhorar o mundo, criando projetos, criando novas realidades, dando a mão para o outro e criando amparo. Então, acredito que não pararemos de lutar e de ter esperança em transformar o Brasil, de transformar o mundo."
    - Eduarda Ouriques


Jorginho








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1 Comentários

  1. Para Eduarda Ouriques: Aprovado!
    Kkkkkk .... Você é ótima, é um grande projeto, um Ensaio Acadêmico muito bom provando com sua didática de que é possível trabalhar temas tão complexos com pessoas em tenra idade, séries iniciais do ensino fundamental, despertando desde cedo o pensamento critico e inclusivo. Foi um prazer estar ao lado de pessoas como você, talentosas e inovadoras, nesta jornada linda!

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