TECITURA

Ubuntu


Lendo um texto extraordinário de uma escritora ligada às causas do movimento negro e do combate ao Racismo Estrutural, seu final chamou minha atenção: esta escritora fecha o texto desejando Ubuntu para todos e todas.

Ubuntu! Um estrangeirismo, palavra interessante. Nunca soube o seu real significado, apesar de ter-me deparado com ele muitas vezes no passado, nas áreas de tecnologia.

Houve época na minha vida profissional em que os meios tecnológicos e as frequentes certificações e atualizações eram uma constante. Entre várias especialidades, fui representante especializado e certificado pela Dell Computers, quando trabalhei nas gigantes Unisys e NCR. Neste período, realizei treinamentos e prestei suporte a uma versão Linux que estava sendo distribuída nos equipamentos da Dell, o Ubuntu. Neste contexto, tratava-se de um Sistema Operacional de código aberto construído a partir do núcleo do Linux e com base em outro sistema, o Debian, utilizando o Gnome como ambiente de desktop, com suporte de longo prazo. Pronto, matei a saudade do meu “eu” tecnológico (risos). Ubuntu era isso para mim. Uma versão Linux utilizada por fabricantes e montadoras de computadores pessoais, muito bom e estável, diga-se de passagem.

Mas Ubuntu é muito mais do que isso! Comecei a prestar atenção e ver este termo, esta palavra sendo utilizada por mais pessoas, principalmente àquelas ligadas a questões de raízes Afro ou que conheçam seus significados. Vamos a eles! 

Ubuntu está além de uma palavra. Na tentativa de traduzir este termo para o português, o mais próximo seria “humanidade para com os outros”. Trata-se de uma noção existente nas línguas Zulu e Xhosa, que são línguas Bantu faladas pelos povos da África Subsaariana ( ah, lembro já ter escrito algo sobre estes povos. São os Homo Sapiens puros, sem miscigenações, o mais próximo que temos de nossos antepassados Homo Sapiens de acordo com os estudos realizados através do DNA Mitocondrial). O significado desta palavra é sinônimo de generosidade, solidariedade, compaixão com os necessitados e o desejo sincero de felicidade e harmonia entre os seres humanos. Segundo Dirk Louw, Doutor em Filosofia Africana pela Universidade de Stellenbosch (África do Sul), “Eu sou porque nós somos” - De Ubuntu, as pessoas devem saber que o mundo não é uma ilha. Eu sou humano, e a natureza humana implica compaixão, partilha, respeito e empatia.

Estudiosos afirmam que não há uma origem exata da palavra, referindo-se a Ubuntu como uma “ética” antiga sendo usada desde tempos imemoriais. Especula-se sobre o Egito Antigo como parte de um complexo de civilizações, e faziam parte as regiões ao sul do Egito, que compreendiam o atual Sudão, Eritreia, Etiópia e Somália como o local de origem do Ubuntu como uma ética, porém o próprio fundamento do Ubuntu é associado à África Subsaariana e às línguas Bantu. Este fundamento articula um respeito básico pelos outros, sendo interpretado tanto como uma regra de conduta quanto uma ética social. O ser humano como “ser-com-os-outros”, onde “ser-com-os-outros” deve ser tudo.

No campo político, este conceito é utilizado para enfatizar a ética humanitária e a necessidade de união e do consenso nas tomadas de decisões. Na África do Sul, ligou-se também à história da luta contra o Apartheid, inspirando Nelson Mandela na promoção de políticas de reconciliação nacional.

No campo religioso existe uma máxima Zulu (uma das 11 línguas oficiais da África do Sul) “umuntu ngumuntu ngabantu” (uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas), termos que aparentemente não tem muita conotação religiosa na sociedade ocidental, mas que está ligada à ancestralidade. A ideia de Ubuntu está inclusa no respeito à religiosidade, individualidade e particularidade dos outros. 

Que palavra impressionante! Forte, altiva, nobre! É muito mais que uma palavra. É um conceito; há toda uma filosofia em seu entorno, foram gerações após gerações para desenvolver e internalizar esta potência, fatos ocorridos em tempos imemoriais, talvez remonte aos primórdios das civilizações!

Nada melhor que utilizá-la como fecho deste texto. A vocês, que doaram um pouco de seu tempo para ler este ensaio, desejo: UBUNTU! 




andro Ferreira GomesProfessor de Língua Portuguesa, Conselheiro Municipal de Políticas Culturais em Gravataí/RS, Servidor Público, Porto Alegrense, admirador das belas artes, do texto bem escrito e das variedades de pensamento.







03 ANOS DE COLETIVEARTS
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2 Comentários

  1. Ubuntu veio como sistema operacional no último PC que adquiri, tempos atrás. Então conhecia essa parte tecno. A da significância, no entanto, era-me totalmente desconhecida, apesar de, por minhas convicções e atos, utiliza-la diariamente para com meus semelhantes.
    Estamos num tempo em que precisamos de muito mais Ubuntu. Diria, data vênia, que a palavra da moda para Ubuntu seria 'resiliência', muito utilizada em alguns lugares, programas e etc...
    Ubuntu, mestre Sandro.

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