TECITURA


 Diovana Rodrigues - Para o dia 
internacional da mulher


Semanas de muito trabalho, atuando em várias frentes e a consequente estafa se faz presente tanto físico quanto mentalmente. Dias de intensa produção e reconhecimento, mas que me tiram do eixo para a escrita criativa. Sabe aqueles momentos em que falta inspiração, a mente focada no trabalho e nos desafios, porém o mundo se fecha ao seu redor? É assim que tenho percebido meu mundo, ambiente, ou círculo (o termo que melhor se adequa, a mente anda tão atarefada que nem me esforço muito para tentar encaixar a melhor palavra). Fato que não consegui entregar o texto de minha última semana, ou seja, Tecitura pulou uma semana sem publicação. Já houve uma que outra vez, mas é raro. Creio que passarei a escrever quinzenalmente até retornar ao ritmo de outrora. Vamos ver!

Enfim, semana que vem estaremos entrando no mês de março, onde dia 08 teremos o Dia Internacional da Mulher. Penso no que vou escrever, a inspiração para este tema está no mundo ao redor, na forte presença feminina em meu entorno, minhas queridas colegas de trabalho, minha amada filha, minha irmã e primas, tias, as lembranças de minha mãe e minhas avós, enfim. Exemplos são vários, fontes de inspiração pujantes. Mas eis que me deparo com uma obra prima, um daqueles encontros raros com a literatura, a perfeição em forma de palavras onde qualquer coisa a mais estraga, um poema maravilhoso escrito pela escritora e poetisa Gravataiense Diovana Rodrigues, publicado em suas redes sociais. Entrei em contato com esta querida amiga - mulher forte, guerreira, mãe de três filhos - e pedi sua autorização para transcrever tão belas palavras e, após, fazer uma breve resenha sobre o texto e sobre este tão maravilhoso tema. Sem mais, espero que apreciem:

Para o dia internacional da mulher

Ei moço, senta aqui
Vamos conversar um pouco, quem sabe nos entender e até sorrir!
Moço, não tenho medo de ti!
Então também não tenha de mim!
Não sou tua rival
Tão pouco submissa
Sou tua igual!
Não me leve a mal
Sou feminina, mesmo que me chame de feminista!
Espero que tu não seja machista.
E entenda, posso tudo
que eu quiser!
Nasci Mulher! E já sofri muito!

Porém é passado
Não admito dor em meu futuro
Foi difícil, foi duro!
Tantas irmãs perdi
Para ter esse presente!
Sabe moço , às vezes ouço:
Isso é coisa de mulher!
Essa frase é muito dita
com desprezo!
Mas sabe o que penso ?
É coisa de mulher
Parir, sentir a pior dor do mundo
Sorrir e chorar ao mesmo tempo
Querer viver, mas morrer pelo ser que deu a luz!
É coisa de mulher, ser mãe e pai!
Sair pra trabalhar, e ainda limpar a casa.
É ser dona de casa, fazer tudo no lar e não ser reconhecida!
É coisa de mulher, sofrer calada, chorar maquiada
É coisa de mulher não perder a esperança.
É coisa de mulher lutar, cair e levantar!
É moço, tu questiona esse dia oito
Por quê ter um dia da mulher?
E te digo, não deveria ser um, mas todos!
É moço, conselhos não se dão
Mas se não for em vão
Te peço, se for difícil pra ti
Não precisa me entender
Só quero respeito!
E ame a mulher que te pariu!
Ame a mulher que te ama
Ame a filha mulher que uma mulher te deu!
Quanto a mim, moço, sou apenas uma voz interna
Cansada de machismo, egoísmo e de todo esse blablabla!
Sou tua mulher interior,
Pedindo por favor
Acabe com isso!!



Que mais dizer? Uma rica fonte de inspiração, esta bela prosa poética sintetiza o universo feminino de forma esplendorosa. Reflete o melhor exemplo que eu tive ao longo de minha vida, a força das mulheres de minha família e o que eu sempre busquei em uma companheira. Machismo? Nunca me permiti ser. Sou pai e mãe, minha filha hoje está com seus vinte anos. É incomum ver um homem criar um filho, quanto mais uma filha, papel tão comum entre as mulheres que fazem com maestria! Conheço as dificuldades de tal feito, e esta capacidade incondicional que muitas mulheres demonstram de amar! Falar sobre este texto é desnecessário … tudo que se precisa está ali. É necessário senti-lo! A reflexão se dá através da leitura e releitura, e este texto é um daqueles que a gente sente!

Diovana Rodrigues, que sensibilidade!

Aos quinze anos lançando-se neste universo literário, Diovana foi uma prodígio na cultura da cidade. Membro do Clube Literário a mais de vinte anos, a menina mulher agregou à sua qualidade em transpor para o papel seus pensamentos, a força e o conhecimento adquiridos com a maturidade. Mulher de posicionamento forte, escreveu o livro de poesias Autópsia em 2004 e participou de algumas coletâneas. Eu a vejo como um exemplo. Merece ser melhor abordada, dentre tantos e tantas excelentes artistas, escritores e escritoras que temos em Gravataí. Eu sou professor, amo lidar com a juventude, por vezes fico imaginando como teria sido bom conhecê-la naqueles seus quinze anos, a menina talentosa e criativa que estava ali, entregando-se ao universo literário. Quantas Diovanas temos, potenciais prontos para desabrochar. E o Clube Literário de Gravataí mostrando mais uma vez a força de seus representantes!

Finalizo esta resenha com a prosa poética Menina Mulher.

Menina Mulher

A menina
Foi embora
Cansada da rotina
Escreveu sua própria autópsia.
Abandonou a boneca preferida
Perdeu seus heróis
E na guerra da vida
Lutou só.
E perdeu também
Seu primeiro amor
Foi refém
De uma grande dor.
A menina alegre
Foi embora
Hoje em seu lugar triste
Uma mulher mora
Uma mulher
Chegou
Com muita fé
Mas pouco amor.
E ela guarda uma boneca
No baú do peito
Mas não revela
A ninguém seu segredo.

Olha-se no espelho
E vê uma menina
Não tem jeito
É a sua vida.
A vida
De uma menina mulher
De uma mulher menina.
Isso é insano
Menina alegre e mulher triste
Dividirem o mesmo corpo.
Os mesmos sentimentos
A mesma rotina
Os mesmos segredos
Uma única vida.
Vida feita de poesia
Vida que ensina
Que uma menina mulher ou mulher menina
É simplesmente uma poetisa.



 Diovana Rodrigues



Sandro Gomes

Sandro Ferreira GomesProfessor de Língua Portuguesa, Conselheiro Municipal de Políticas Culturais em Gravataí/RS, Servidor Público, Porto Alegrense, admirador das belas artes, do texto bem escrito e das variedades de pensamento. 

Confiram podcast gravado com Sandro Gomes clicando Aqui

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