CONTRAPONTO

 

Vulnerabilidade: o maior ato de coragem

Vulnerabilidade não é algo bom nem mau: não é o que chamamos de emoção negativa e nem sempre é uma luz, uma experiência positiva. Ela é o centro de todas as emoções e sensações. Sentir é estar vulnerável. Acreditar que vulnerabilidade seja fraqueza é o mesmo que acreditar que qualquer sentimento seja fraqueza. Abrir mão de nossas emoções por medo de que o custo seja muito alto significa nos afastarmos da única coisa que dá sentido e significado à vida. (BROWN, Brené - A coragem de ser imperfeito - Rio de Janeiro: Sextante, 2016 - pag. 27 à 28).

Atualmente estou lendo um livro que me chamou a atenção principalmente pelo título: A coragem de ser imperfeito, de Brené Brown. Penso que, enquanto grupo social, nosso limite para as imperfeições e tolerância com os demais diminuiu consideravelmente. Em muitos casos, não importa o bem que a outra pessoa fez e toda a série de qualidades que demonstrou ter, o primeiro erro é fatal para aquela relação. Diante disso, muitos de nós já deve ter sentido o medo de parecer “imperfeito”, pois isso significaria iminente solidão. Temos medo de falar certas coisas, agir de certos modos e nos posicionar em certos aspectos, para que não recortem as nossas sombras e as transformem em resumo do que somos (a metódica, o "pavio curto", a grosseira, o transtornado, a imatura, o inconveniente, a gorda, o seco). Passamos por esse medo de forma tão contínua, que parece estranho quando somos verdadeiros, às vezes soa falso até para nós mesmos, já que não sabemos mais ser de verdade. Máscara, julgamentos e ilusões se misturam dentro de nós, empurrando a essência lá para o fundo, e ganham o lugar que não deveriam, passando a ser a verdade sobre nós.

O primeiro ponto do livro que me atingiu como uma tijolada na cabeça foi a vulnerabilidade. Não sei você, mas eu aprendi que demonstrar sentimentos, me expor e falar da minha intimidade denota fraqueza, além de possibilitar que usem isso contra mim. Depois de 33 anos aprendendo isso e adquirindo provas confirmando essa ideia, vem um livro psicológico e diz o oposto: ser vulnerável, mostrar-se com verdade e sem reservas é o melhor caminho para a felicidade. Difícil de tragar!

Porém Brené é clara quando fala que temos de ter inteligência e perceber quem são as pessoas com quem vamos nos abrir. Ela associa essa percepção a soma e subtração de atitudes das pessoas com quem estamos nos relacionando. Cada atitude soma um ponto a favor e nos permite se abrir ou subtrai pontos e nos prova que devemos ter cautela. O importante de tudo é que ela nos recomenda sermos verdadeiros sempre, a nunca termos medo de viver as situações e agir com honestidade, mesmo diante da possibilidade de sermos julgados. Em resumo, ela recomenda uma das coisas que mais acredito na vida: a
liberdade. Libertar os medos, libertar as crenças, soltar todas esses lixos que juntamos ao longo da vida para viver sempre como se tivéssemos nascido ontem, não com ingenuidade e ignorância, mas com verdade, a nossa verdade.

Para isso, precisamos permitir ser vulneráveis, permitir que a vida nos leve para os caminhos, soltar as preocupações e o controle, para sentir o que o presente nos traz de experiência. Essa tarefa não é nada fácil. Ainda mais diante de um mundo que pode ser cruel nos julgamentos. E se formos vistos como os vilões em potencial do Batman?

[...] aprendi também que as pessoas que me amam, aquelas com quem realmente posso contar nunca são os críticos que me apontam o dedo quando fracasso. Também não estão na arquibancada me assistindo. Elas estão comigo na arena, lutando por mim e segurando a minha mão. Nada transformou mais a mim é minha vida do que descobrir que é uma perda de tempo medir meu valor pelo peso da reação das pessoas nas arquibancadas. Quem me ama estará ao meu lado, independente dos resultados que eu possa alcançar. (BROWN, Brené - A coragem de ser imperfeito - Rio de Janeiro: Sextante, 2016 - pag. 44.)

Esse trecho é importantíssimo para esclarecer muitas coisas. Esse mundo que nos julga não é o que devemos considerar. É um mundo raso, tão raso que dá traumatismo craniano mergulhar em qualquer palavra que usam para nos "diagnosticar". As pessoas que realmente estão conosco podem até apontar algo que precisamos cuidar, mas sentimos de longe que é um apontamento com amor e afeto. É com essas pessoas que vale a pena sermos plenamente vulneráveis. É com o mundo e essa dádiva de vida, que pulsa dentro de nós, que devemos ser abertamente vulneráveis. Os demais vão continuar ladrando o que acham que sabem - e está tudo bem, não nos diz respeito. Tudo que deve importar é a nossa vida e aqueles que estão vivendo conosco de verdade.


Miriam Coelho


Miriam Coelho é artista das imagens e das palavras.



04 ANOS DE COLETIVEARTS,
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