TRANSVIADA, o olhar que desafia

 Desesperança 

Às vezes, quando a gente tá bagunçado por dentro, o que resta é a introspecção, deixar que baixe a poeira e as coisas voltem pro lugar.

E pensando assim, que dei uma sumida, aguardei  algumas coisas se resolverem, que a rotina se restabelecesse e alguns sentimentos fossem acomodados.

Talvez seja culpa desse meu jeito ansioso, ou talvez dessa rebeldia que não permite que me conforme com as coisas erradas, com a injustiça e muito menos com a capacidade que alguns têm de nos tirar pra palhaços.

A gente tenta acreditar que as coisas podem mudar, que podem melhorar, mas parece que as pessoas fazem questão de apagar qualquer fagulha de esperança que a gente possa ter.

Há muito reflito sobre a “evolução” da educação, será mesmo que evoluímos?

Em tempos de Palco, muitos são os novos “pensadores”. São professores  que com ajuda da internet dividem com o público, novas idéias, teorias e técnicas que na maioria das vezes, dá certo só na rede social mesmo. 

Fazem uma leitura e adaptam  Waldorf, Pikler, Montessori, misturam com as trevas da falta de limites, da falta de rotina e falta de bom senso e o resultado, são muito bem ilustrados pelos  Enzos e Valentinas da prof Márcia - personagem do comediante Diogo Almeida.

E antes que me atirem pedras, calma, isso não é uma crítica aos autores, isso é uma crítica ao extremismo fantasiado  e a falta de educação romantizada.

Não me levem a mal, acredito na importância do desenvolvimento da autonomia, acredito que o interesse, bem como o tempo de cada um deve ser respeitado, mas também acredito e vivenciamos isso todo dia, que a criança precisa aprender lidar com as frustrações, que ela precisa aprender sobre limites, sobre respeitar o espaço do outro e que alguns velhos costumes, podem contribuir e muito com a formação do indivíduo. Ninguém passa por essa vida ileso, todos temos nossas frustrações. Agora imagine, um pessoa que nunca teve de lidar com isso, enfrentando o primeiro não ao pedir a menina em namoro, disputar uma vaga de emprego ou até mesmo uma vaga no estacionamento.Qual tu acha que seria o resultado?

Esse tsunami de pedagogos compartilhados todos os dias, vendendo cursos, apostilas e ideias mirabolantes, na maioria das vezes, não pisam em sala de aula. É muito fácil vender uma ideia, difícil é ter estrutura física, quadro de profissionais suficientes e muitas vezes, até um espaço  externo que nos ajude proporcionar tudo isso. Mais difícil ainda, é lidar com a comparação e com as cobranças.

Como se já não bastasse toda a dificuldade do magistério, ainda se tem de aguentar o famoso discurso do “professor por amor”.

Isso me revira o estômago! 

Essa historinha de passo por todas as dificuldades pelo amor a profissão, é uma maneira bonitinha de apoiar a desvalorização e falta de reconhecimento ao profissional. 

Sabe, talvez tu esteja lendo isso e pensando, que eu não suporto o que faço. Mas quero te dizer que não, sou apaixonada, mas ando exausta.

Exausta de tentar defender o óbvio, cansada de tentar explicar a diferença entre autonomia e falta de limites, personalidade e falta de educação e mais ainda, entre deficiência e incapacidade.

Ando me sentindo um extraterrestre, no único lugar onde sempre me senti bem. 

Onde sempre tive prazer de criar, instigar e ver o processo de investigação e aprendizagem acontecer. 
Até isso tá cada dia mais difícil!.

Enchem as salas, como se fossem depósitos, que tu pode empilhar a mercadoria. Esquecem que a criançada se mexe, precisa dormir, precisa brincar, e tudo isso exige de Espaço.

Aceitam a inclusão, mas que cada dia mais é excludente. Não dá pra chamar de processo de inclusão, uma criança que não é verdadeiramente incluída as atividades diárias da turma. Mas elas continuam chegando, mesmo que isso signifique, que não se tenha condições de proporcionar uma experiência real de socialização e estímulo ao seu crescimento. 

Aí me pergunto, a culpa é de quem? 

Essa semana alguém disse que minto pra mim mesma, quando digo que não acredito mais na educação. Pela ótica da pessoa, a minha dedicação e animação quando se trata da construção de materiais, demonstra o contrário.

Talvez as pessoas não compreendam a diferença que existe aí, mas é real.

A paixão pelo processo de construção, de investigação e por todos aqueles olhinhos curiosos acompanhando, sempre vai existir.

Mas o descaso com o profissional,  com as necessidades das crianças e essa falta de bom senso que a gente anda encontrando, isso tem me matado.

Bem, desculpem o desabafo. Mas diante de alguns questionamentos sobre o paradeiro da Transviada, decidi compartilhar com vocês a desesperança, que tenho certeza, não é só minha.

D'Anjo

D'Anjo é gaúcha, educadora, controversa e gosta de brincar entre rabiscos e palavras.

"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

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