UM POUCO DE HISTÓRIA

Oi. Tudo bem? Meu nome é Nestor, professor de História aposentado. Depois de 33 anos lecionando nas escolas públicas de Gravataí decidi me dedicar a Literatura. Considero ler e escrever exercícios fundamentais para uma vida mais saudável e feliz. Escrevi um texto e postei no Facebook cujo título era "Porto Alegre, Sonhos Submersos", onde abordo o tema do momento nas nossas vidas: as inundações. Ocorre que este texto agradou a poetisa, cronista, formada em Letras Isab-El Cristina, que eu, desde 1980, quando nos conhecemos no Ensino Médio da E. E. Mal. Floriano Peixoto, em Porto Alegre, chamo de Cristina (acho que entreguei a idade, mas tudo bem, velhice não é vergonha, no mundo em que vivemos é conquista!) Ocorre que ela me convidou para escrever periodicamente no Coletivearts, me passou para o Jorginho e aqui estou. Será uma coluna quinzenal, vamos ver como eu me saio. Esqueci de mencionar que sou coautor do lindíssimo livro "Gravataí: Entre Anjos e Gravatás", autor do livro "Gravataí: Histórias" e da série de cinco novelas "As Aventuras do Detetive Oswaldo". O nome da minha coluna será "Um Pouco de História" e pretendo utilizar como marca o desenho da linha evolutiva do ser humano, desde o saltitante e simpático  Australopitecos até o Homo Sapiens-Sapiens caminhando e lendo um livro. Na minha opinião, o ser humano ao alcançar o grau evolutivo da leitura de um livro deveria ser considerado o máximo... deveria, se não fossem estes recursos tecnológicos que nos tornam, quanto muito, reles caçadores de Pokémon. Aviso agora, para ninguém dizer que eu não avisei: não escrevo para agradar ninguém, porque não sou publicitário e nem jornalista vendido. Escrevo para mim mesmo, eu tenho que gostar do que escrevi, do contrário, não público. Espero que gostem e, principalmente, comentem, até porque nenhum escritor gosta de ser ignorado. Após estes esclarecimentos espero que a gente se dê muito bem. Abraço.

Porto Alegre, sonhos submersos, vidas interrompidas

Esta inundação, superior a histórica de 1941, foi uma tragédia anunciada. No ano passado já precisaram fechar os portões do Muro da Mauá, o mesmo muro que pretendiam derrubar para vender área pública as margens do Estuário Guaíba para empreendimentos privados. Escrever que faltou manutenção nas bombas do DMAE e nos portões do Muro da Mauá é, me desculpe o trocadilho infame, chover no molhado. A tragédia anunciada é a falta de uma política pública para beneficiar a todos, não só para todos os empresários, mas para toda a população. Há conhecimento técnico e tecnologia centenária para evitar inundações, os holandeses que o digam. Entretanto, o desrespeito com a natureza, o maltratar este grande ser vivo chamado Planeta Terra, que tranquilamente poderia ser chamado de PLANETA VIDA, cobra seu preço. Destruir a legislação ambiental é, no mínimo, estar com os olhos no dinheiro e a bunda molhada pelas enchentes.

Nestes dias de tragédia, quando tantos perderam seus lares, suas lembranças, registro das histórias de família, nos álbuns de retratos e em vários objetos  misturados a lama proveniente dos esgotos transbordados, isto sem falar das vidas perdidas, quando até os mais experientes socorristas ficaram chocados diante das cenas dantescas ao verem tantos corpos boiando nas águas da enchente, famílias ainda dentro das casas, agarradas nas grades parecendo não crer que a água chegaria a tal altura, infelizmente pagaram um preço muito elevado por desconsiderarem os alertas da Defesa Civil. São tantos mortos até agora, isto sem falar nos desaparecidos, cujo número possivelmente será acrescido ao já numeroso rol dos mortos, nesta inacabada contabilidade mórbida.

Além deste drama envolver tantos mortos e desaparecidos, fico pensando nos planos bruscamente interrompidos pelas águas aliadas ao descaso político governamental. Empregos inundados, escolas fechadas, romances interrompidos, aqueles passeios que os casais de mãos dadas faziam na Praça da Alfândega, as mães com seus filhos a tiracolo no Mercado Público, os estudantes nas suas visitas à Casa de Cultura Mario Quintana. E neste pensar lembro  dos gestos altruístas praticados por tantas pessoas, dignos da emoção regada em lágrimas numa generosidade colocada a toda à prova.

Falar em generosidade, lembrei do caso, e deve haver vários outros casos assim, da ex-mulher que, após três anos do fim do relacionamento, acolheu na sua casa a ex-sogra, o ex-marido, dois gatos e três cachorros. É muita generosidade, o que comprova a tese de que ex é para sempre. Neste caso específico, ao contrário dos namoros, até ingênuos entre escolares, e relações extraconjugais, envolvendo pessoas casadas, que foram bruscamente interrompidas pelas águas e pela já sabida incompetência dos gestores, o retorno dos ex-cônjuges ao convívio forçado sobre o mesmo teto  levou à ressurreição de sentimentos antes olvidados e a retomada  do casamento. Felicidades ao casal. O que uma enchente não faz? 

Enfim, este texto é uma espécie de tentativa de entender, raciocinar, compreender como chegamos até aqui e, assim, escolhermos os caminhos para o futuro. Temos que tirar alguma lição desta tragédia. É preciso, tal qual um escafandrista, ir a fundo neste tema. Não é possível encarar isto como um simples acontecimento "natural". Ouso afirmar que precisamos de políticos preocupados com a vida, a vida de todos e não apenas dos empresários. Chega de eleger vendedores!!!

NESTOR OURIQUE MEDEIROS

"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

COLETIVEARTS, 06 ANOS DE VIDA,
CONTANDO HISTÓRIAS, CRIANDO MUNDOS!
O Coletive está de Luto!

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1 Comentários

  1. Seja muito bem-vindo e receba os segundos parabéns por tão bela estréia. Os primeiros são pela chegada. Avante!
    G. G. Carsan.

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