A ultima Barca
A travessia de barca na Baia de Guanabara é algo prazeroso. Para alguns funciona como uma terapia poder observar o mar, poder levar o pensamento longe e passar aqueles minutos em transe. Mesmo os que fazem uso da barca cotidianamente, sentem a boa sensação de ar livre e admirar os movimentos dos barcos.
Inácio é bilheteiro no cine Odeon na Cinelândia, ultimo cinema de rua que restou na tradicional Praça do Centro do Rio. Morador de Niterói, Inácio faz uso do serviço da barca e todo dia faz o trajeto, Niterói-Praça XV. Inácio poderia fazer o trajeto de ônibus ou usar seu fusca 74 para chegar ao trabalho, mas prefere ver o mar. Faz bem à mente ao seu coração meio combalido pela vida.
Inácio é da turma que fecha o cinema. Com isso tem que pegar a última barca do dia em direção ao outro lado da poça. Apesar do medo de perder a última viagem do dia, tenta não deixa se abater pela pressa e o medo de ter que dormir na rua. Numa dessas sexta-feiras da vida, Inácio resolveu ficar por ali por perto e esquecer-se de coisas que afligem sua mente e o mata por dentro aos poucos.
Despediu-se de todos como sempre, escutou um burburinho numa pequena rua do outro lado da Cinelândia. Estava tendo um evento numa banca de jornal. A banca é um ponto de encontro de uma galera bem alternativa e bem progressista. Foi ver o que se passava e encontrou ali o que estava precisando para acalentar seu coração. Mesmo só, encontrou boas companhias para ter uma conversa interessante e de bom nível.
O clima estava tão gostoso que se esqueceu da hora e que costuma pegar a ultima barca sentido a Niterói. Já que não tinha mais jeito e não podendo gastar com o táxi, ficou mais um pouco e foi bebericando, fumando e conhecendo novas pessoas. Até que conheceu um estudante de teatro que também morava em Niterói e tinha perdido a última barca. Pintou um clima legal entre os dois e foram até a estação das barcas ali na Praça XV, aguardar a primeira viagem do dia.
Daniel Filósofo |
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