C.F.C. CELESTIAL FUTEBOL CLUBE
parte -2
É o dia da grande final. Será um sábado inesquecível. A começar pelo dia de céu azul pontuado por pequenas nuvens alvas e temperatura amena. O local da decisão é um um campo com dimensões oficiais, cercado por um alambrado e que só agora contará com duas arquibancadas móveis de capacidade para cem pessoas cada e colocadas em lados opostos. Mesmo assim os mais aficcionados torcedores, não abrirão mão de ficarem grudados no alambrado ao nível do gramado, tanto que alguns sairão do jogo com marcas da trama de arame impressas no rosto. Falar em gramado é uma forma de expressão, pois a grama verde é como um arquipélago pontuado por pequenos espaços verdes em meio a imensidão do piso de terra. Os arredores estão tomados por ambulantes com grandes isopores e rolos de fumaça se erguem por toda parte, oriundos dos assados em churrasqueiras improvisadas de todas as maneiras possíveis: tijolos empilhados, buracos no chão, carrinhos de mão, latões de cerveja cortados no meio e emendados e tantas outras gambiarras de fazer o MacGyver parecer um amador. Um gazebo, sob o qual há duas mesas de plástico unidas com equipamentos, abriga a rádio da comunidade que funciona só pela internet e que será comandada pelo narrador Zé Maria, reportagens e comentários de Aroeira.
As arquibancadas estão repletas de um lado, de camisetas cor de bergamota montenegrina madura e de outro, do rubro negro convencional de vários times das diversas divisões do futebol brasileiro. As “Bergamotinas” (torcida organizada feminina) gritam em uníssono: “ô, ô, ô, os Vevê são um terror”
A equipe de arbitragem veste uniformes pretos e recebe os tradicionais apupos de ambas as torcidas. O único “equipamento de segurança pública” presente, é um camburão da brigada militar estacionado por perto, atrás de uma das goleiras e não está lá para garantir a ordem pública, mas porque há um portãozinho por onde a equipe de arbitragem irá fugir rumo à viatura ao término do jogo, ou por algum outro incidente que venha a interromper a partida.
Os foguetes espocam, os pápeis picados esvoaçam e a gritaria toma conta de tudo quando os times entram em campo.
- Já estão em campo os finalistas do Campeonato Citadino. Diretamente da zona norte vem o favorito, da sensacional dupla de goleadores Venâncio e Venceslau, o Bergamota Mecânica. O adversário vem da zona leste, o Maré Rubro Negra, um oponente de respeito. Diz aí Aroeira, o repórter que não diz besteira, qual o destaque do Maré?
- Vem comigo, Zé Maria, o narrador da voz macia. Pois o Maré Rubro Negra tem um reforço de última hora. Trata-se do jogador da “patada atômica” como é conhecido o seu chute potente. Recém egresso do sistema penitenciário e com fome de bola, ele é conhecido pela alcunha de Trabuco.
A decisão inicia.
- Apita o árbitro e a bola está quicando no gramado...
Trinta minutos depois, o placar resiste sem alteração.
- Falta para o Maré na intermediária de ataque, mas é um chute frontal à meta do goleiro bergamotino, Aroeira.
- É isso aí, Zé maria. Uma falta desnecessária cometida por Venceslau. O Trabuco já pegou a bola e a agora acontece uma discussão entre os alaranjados. Parece que ninguém quer ficar na barreira. Venâncio se adianta, olha para o goleiro e é o primeiro a se posicionar. Parece que a atitude do centroavante goleador, mexeu com os brios dos companheiros e outros quatro se juntam na formação.
- Deixa comigo, Aroeira. Aos 32 minutos do 1o tempo, há uma falta em frente à meta alaranjada há uns trinta metros de distância, o que para o detentor da patada atômica não faz muita diferença.
Trabuco é um negro alto e forte, cabeça raspada, 28 anos, que depois de colocar a bola no chão, sorri para os adversários na barreira e recua vários passos. Venâncio engole em seco. Todos protegem com as mãos os “países baixos”. Um silêncio eloquente toma conta de tudo. Ouve-se os passos rápidos do jogador rumo à bola, que avança e chuta com extrema potência numa linha reta, na trajetória certeira que irá atingir em cheio o peito de Venceslau, que cai duro e esticado para trás, desabando no gramado. A bola fica vadia em frente à área e antes mesmo do juiz apitar a interrupção, um jogador alaranjado dá um pico para fora do alambrado e coloca as mãos na cabeça. Venceslau corre em direção ao amigo caído e logo há uma aglomeração em volta do jogador que continua caído e imóvel.
Eles ainda não sabem, mas Venâncio, o centroavante que já estava sendo observado por clubes profissionais da 1° divisão, está morto.
Continua...
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João Luís Martinez |
1 Comentários
Patada fatal... não ficará assim... (estou curioso!)
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