Naigaron
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Capítulo I - Uma estranha no ninho
Parte 3
Laura era uma garota que perdia facilmente o foco nos seus objetivos, principalmente porque tinha uma descrença no melhor da vida. Isso vinha desde o seus primeiros anos de vida. Era visível a sua diferença dos familiares da Terra. Sempre sentiu que estava fora dos padrões, tinha gestos diferentes, observações diferentes e não gostava do que estava na moda. Porém o que mais agravou sua tristeza interna era a forma como seus pais a tratavam. Nunca tiveram orgulho de suas conquistas, tão pouco demonstraram afeto. Crescer sem amor pode ser um dos desafios mais difíceis, pois vai sempre se refletir nas escolhas pessoais e na forma como vemos o mundo.
No dia seguinte, a garota estava triste novamente, duvidando de todas as esperanças que Alue trouxera. Quando Hannat entrou em seu quarto, a menina estava novamente sentada na janela, alimentando-se do ar que vinha das copas das árvores
- Vejo que você continua com esse cabelo desembaraçado… - disse a mãe, analisando a garota - Lamentável…
- Ele tem personalidade própria. Penteio todos os dias, mas não adianta
A Diretriz parecia não escutá-la. Tinha sempre aquele olhar superior e perdido, como se tudo que estivesse apenas relacionado a ela mesma fosse o mais importante. Qualquer palavra ou ação dos outros, era irrelevante. Caminhou até o espelho do quarto e fitou o próprio rosto com orgulho, mexendo em pequenos detalhes do cabelo e das roupas. Laura permaneceu olhando para ela e se questionando em qual aspecto poderiam se parecer? Depois de alguns minutos, Hannat voltou-se para a jovem novamente.
- Por favor, desça já daí antes que caia! - mandou, revirando os olhos - Tenho algo importante para dizer.
- Pode falar - respondeu a garota, num suspiro cansado, descendo do seu acento favorito e pondo-se em pé diante da mulher. Precisava ser firme, precisava estar aberta e disposta a pertencer aquele lugar, pelo menos por um tempo.
- Daqui há alguns dias, cinco para ser mais exata, teremos uma reunião importante na casa. Como Dirigentes do Condado, vamos apresentar você e Eduardo como nossos filhos. Gostaríamos de usar os nomes de vocês. Podem utilizá-los apenas em momentos oficiais e continuar a se chamar pelos nomes que cresceram na Terra, pelo menos até se acostumarem.
- E qual é o meu nome?
- Quando você nasceu - respondeu a mãe, repentinamente com um olhar amoroso, olhando para o colo, lembrando-se do momento - batizamos você de Anabi.
Laura se surpreendeu com a mudança afetuosa no olhar de Hannat. O seu nascimento era importante para ela, porém algo nesse tempo todo distantes mudou e a forma como a mulher a olhava anos depois era de total desprezo. O que mudou? A jovem, repentinamente sentiu um impulso desejo de lutar para recuperar o carinho materno.
- Gostei do nome… - disse ela, sorrindo para a mãe.
- Espero que se comporte nesse dia! - disse Hannat, mudando seu semblante novamente para a distância. - Se tentar qualquer fuga ou estragar a reunião, os Conselheiros Gerais irão te prender para sempre na prisão deles. Não vamos arriscar a paz do nosso Condado! - Afirmou ela, dando uma última avaliada na jovem e no quarto. Caminhou até a porta analisando tudo - arrume o espaço também, já que está todo esse tempo sem fazer nada. Já é um enorme presente estar sem as cordas te amarrando. - disse, antes de sair, fechando a porta a chave, novamente.
No primeiro instante, a garota se culpou por não conseguir manter aquele olhar afetuoso de Hannat, depois de um tempo se deprimiu por dar uma chance real aquela mulher, passando a detestá-la tanto quanto ela certamente a detestava.
Alue retornou à noite, novamente, com mais livros sobre comportamentos e costumes do Condado. Laura não leu nenhum dos livros anteriores. Passou o dia sobre a cama, alternando com a janela. A amiga perguntou o motivo de Laura estar tão triste e ela desabafou, deixando cair algumas lágrimas. Alue paralisou diante da tristeza da menina. Parecia lutar contra si mesma nas palavras, pensou bastante antes de falar.
- Laura, não é culpa sua. Um dia você entenderá os motivos de Hannat agir assim, ela também não é feliz. Você precisa apenas fingir que está tudo bem, não deve tentar se encaixar aonde não é seu lugar.
- Então aqui não é minha casa? - indagou ela, com um espanto esperançoso. Esperava que Alue lhe contasse que tudo era mentira.
- Não quis dizer isso… - respondeu a amiga, com certa resistência. - Você não se sente bem olhando para a paisagem do Condado?
- Sim…
- Então… você pertence a essas terras, é uma legítima filha da água. Mas a família dessa casa não lhe traz nenhuma sensação de pertencimento. Você deve buscar o sua liberdade e pessoas que combinem com suas crenças.
- Elas existem?
- Sim, elas existem! Se você não se encaixa em um grupo, você pode criar o seu próprio grupo!
A garota sorriu, sentindo-se novamente preenchida de esperança. Alue era realmente profunda e inteligente. Diferente do que aparentava ser os demais daquela moradia. Todos muito distantes, superficiais e estranhos. Ela prometeu a serva que no dia seguinte voltaria a estudar e seria tudo que querem dela no dia em que os Conselheiros chegarem, para que o plano Liberdade seja finalmente colocado em prática.
O dia da grande reunião na Casa Principal chegara, a cada 90 dias, as famílias mais importantes do Condado das Águas se reunia com os Dirigentes e alguns conselheiros para discutir problemas e acordar novas leis. Nessa reunião, Laura e Eduardo seriam apresentados como os filhos dos Dirigentes do Condado das Águas de Naigaron. Essa era a maior chance de que Laura dispunha para inspirar confiança em todos. A jovem estava cada dia mais parecida com uma verdadeira filha do Condado. Nas vezes em que recebeu visitas de Hannat, ela cobrou menos mudanças da jovem. A esperança estava em alta.
Miriam Coelho |
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