ESSE ESTRANHO NOVO MUNDO
DA INVOLUÇÃO HUMANA
Desde que iniciei essa coluna há três anos, atendendo um convite amável do Jorginho, nunca me preocupei em explicar mais a fundo o porque do título: “Esse Estranho Novo Mundo”.
O termo “estranho” tinha uma conexão imediata com a pandemia, que estava na fase final com a especulação, de que o mundo não seria mais o mesmo depois do evento virótico. Considero que o mundo atual é mesmo estranho e irei expor essa estranheza logo adiante. Já o “novo”, embora invertendo a ordem do substantivo e do adjetivo, tinha a intenção de compor um jogo de palavras em alusão ao clássico de Aldous Huxley, “O Admirável Mundo Novo”.
A palavra estranho deriva do latim extraneau, que designa aquele que vem de fora, estrangeiro. Já em grego há o termo equivalente alien, que para além de denominar uma cinefranquia de terror espacial, deu origem às palavras alienado e alienígena.
Essa estranheza diante do mundo atual acomete sobretudo pessoas que já passaram dos 40 anos de idade, que olham para um passado historicamente recente, repleto de conflitos, duas guerras mundiais e em algum momento pensam, “o pior já passou”.
O atual quadro mundial com a ascensão política de candidatos representantes da extrema direita e neofascitas, de um genocídio no Oriente Médio, de uma guerra sem honra entre Ucrânia e Rússia, do retorno de Trump à Casa Branca, de eventos climáticos extremos e de tantas outras questões complexas, nos fazem pensar que “o pior ainda está por vir”.
Afinal, como não achar estranho que em plena terceira década do século XXI, haja movimentos anti-vacinas e de terraplanistas?
Como não achar estranho que a rede mundial de computadores conectados, que deveria espalhar informações e conhecimento, especializou-se em fake news e discursos de ódio?
Como não achar estranho que depois de mais de três décadas de democracia no Brasil, vemos uma tentativa de golpe de estado e a formação de um Congresso desejoso de emendas parlamentares secretas e de um modelo de parlamentarismo em que o Presidente seja uma figura decorativa?
Como não achar estranho que um ex-presidente defensor de Deus e da família, tenha “liberado” o acesso da população à armamentos pesados, como fuzis?
Como não achar estranho que Pastores e Pregadores da fé cristã, sejam intolerantes e até violentos com outras crenças, em especial às de matriz africana, e preguem uma teologia da prosperidade que considera a aquisição material uma benção divina?
Como não achar estranho que num cenário mundial de incêndios incontroláveis, nevascas intensas, estiagens intermináveis, chuvas torrenciais em curto tempo que causam enchentes nunca vistas, ainda existam autoridades que refutam a ideia de uma crise ambiental causada pela ação humana?
Como não achar estranho que mesmo depois de quase dois séculos da primeira Revolução Industrial, ainda haja muitas situações de trabalhos análogos à escravidão espalhadas pelo país e pelo mundo?
Como não achar estranho em um mundo economicamente globalizado, que haja um incremento da xenofobia em vários países?
Como não achar estranho que desastres ambientais devastadores causados por grandes corporações, não contemplem um mínimo ressarcimento em indenizações às famílias vitimadas?
Como não achar estranho que apesar dos avanços científicos e tecnológicos, haja cada vez mais pessoas frustradas, estressadas, desalentadas, com medo e violentas?
Entendo que cada uma dessas indagações pode compreender muitas explicações, mas nenhuma delas retira o caráter de estranheza delas, o que nos leva a indagação máxima:
Como não achar estranho que apesar de estarmos inevitavelmente avançando no tempo, a humanidade pareça estar involuindo?
Pausa para reflexão...
Em “O Tempo Não Para”, a canção-testamento de Cazuza, ele dizia: “eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu cheio de novidades”, com o poder de síntese que os poetas talentosos têm.
Continuo me sentindo um Estranho nesse novo mundo, enquanto faço força para crer, que esse período histórico de involução possa ser como um passo atrás, para impulsionar outros dois para frente.
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João Luís Martinez |
2 Comentários
Bastante estranhas e parciais são tuas colocações, ou não considera normal que ditadores da extrema esquerda , dos países socialistas da América latina e bloco oriental pisoteiem na democracia oprimindo o povo de forma tão ou mais aviltante do que foi na ditadura . No Brasil ainda não temos liderança da social democracia. O que temos é o sujo falando do mal lavado.
ResponderExcluirA parcialidade a que ti referes, são opiniões baseadas em informações factíveis, afinal basta analisar as eleições na Argentina, na França, nos EUA e agora na Alemanha para constatar o avanço da direita. Acho salutar a alternância de poder, mas me preocupo com gente que assume o poder com mentalidade xenofóbicas, anti-ambientalista, armamentista, sem apreço pela arte, pela cultura e pela democracia. A cada vez menos países democráticos no mundo. E para constar, não gosto de ditadores de qualquer orientação ideológica e sequer considero Maduro e Ortega como representantes de um pensamento de esquerda atualmente. Aliás, do ponto de vista temático o texto é bem mais abrangente que isso, apenas fizeste a leitura que te interessou. Mesmo assim, obrigado pelo comentário.
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